Gigante latino
Bastos: arte e exílio
Augusto Roa Bastos (Assunção, 13 de junho de 1917 Assunção, 26 de abril de 2005), escritor e único autor de renome internacional do Paraguai. Roa Bastos um dos grandes nomes das letras hispânicas, que se consagrou com a explosão da literatura latino-americana nos anos 60, escreveu desde peças de teatro até poesia.
Em 1989, recebeu a distinção máxima para um escritor em língua espanhola, o Prêmio Cervantes. Parte de uma trilogia de romances sobre o autoritarismo, Eu, o Supremo (1974) é sua obra mais conhecida.
Nela, Roa Bastos reconta a vida de José Gaspar Rodríguez Francia, ditador paraguaio do século XIX. Ele criticou os poderosos de seu país não apenas nos livros: opositor dos sucessivos regimes totalitários de seu tempo, passou dois terços da vida no exílio. Pôde retornar ao país nos anos 90 mas nunca superou a dor do exílio. “Até os cachorros ficam doloridos quando são expulsos de um lugar. Imagine um homem”, declarou.
O escritor morreu de complicações decorrentes de um traumatismo craniano, sofrido numa queda em sua residência.
A morte do escritor Augusto Roa Bastos no dia 26 de abril de 2005, aos 87 anos, desfalcou as letras hispânicas de um de seus grandes nomes e o Paraguai de seu único autor de renome internacional.
(Fonte: veja.abril.com.br – Edição 1903 ANO 38 N.° 18 MEMÓRIA – 4 de maio de 2005)
Augusto Roa Bastos foi um escritor e poeta de muitos exílios
O escritor paraguaio Augusto Roa Bastos, foi um dos grandes expoentes da narrativa latino-americana, com uma obra de mais de 20 títulos –incluindo romance, conto, teatro e poesia– traduzidos para 25 idiomas, o que lhe valeu o prêmio Cervantes 1989.
“Eu, O Supremo” (1974) converteu-se numa das novelas emblemáticas sobre a figura do ditador paraguaio Gaspar Rodríguez de França, que governou o país com mão de ferro durante 25 anos depois de sua independência em 1811. Para o público, o retrato de Rodríguez de França era tacitamente o do ditador Alfredo Stroessner, e por isso o romance esteve proibido durante muitos anos no Paraguai.
Nascido em 1917 em Assunção, Roa Bastos passou a infância num engenho de açúcar de Iturbe, no Guairá, onde seu pai trabalhava. A mãe o iniciou nas letras através das leituras em castelhano da Bíblia e de William Shakespeare, e na arte da narração através de lendas indígenas contadas em guarani.
A Guerra do Chaco entre Paraguai e Bolívia (1932-35) –da qual participou como assistente de enfermaria – foi uma das experiências que o marcariam para sempre, pela brutalidade das lutas.
Ao finalizar o conflito, ingressou no jornal “El País” de Assunção, do qual chegou a ser chefe de redação e correspondente em Londres depois da Segunda Guerra Mundial.
A seqüência de golpes e ditaduras que viveu seu país o obrigaram, em 1947, a se exilar em Buenos Aires, onde trabalhou como empregado de uma seguradora. Outro golpe, o dos militares argentinos, obrigou-o, em 1976, a fazer novamente as malas para instalar-se em Toulouse (França), onde começou a ensinar literatura e guarani na Universidade Le Mirail.
Depois de uma breve viagem a seu país em 1982, a ditadura do general Alfredo Stroessner (1954-1989) privou-o da cidadania paraguaia. Por esse motivo não pôde regressar à sua terra até a queda do ditador.
O desterro sempre foi uma ferida que não acabou de cicatrizar. “Até os cachorros ficam doloridos quando são expulsos de um lugar. Imagine um homem”, disse uma vez, durante uma entrevista à France Presse.
Em 1944 fez parte do grupo Vy”a Raity (O ninho da alegria, em guarani) que iniciou a renovação da poesia e da arte plástica do Paraguai nos anos 40, junto à espanhola Josefina Plá e Herib Campos Cervera.
Em 1953 lançou sua primeira antologia de contos, “El Trueno entre las Hojas”, literalmente, o trovão entre as folhas, e em 1960 sua primeira novela, “Hijo de Hombre” (“Filho do Homem”), com a qual ganhou o Concurso Internacional da Editora Losada.
Segundo o autor, “Filho do Homem”, “Eu, o Supremo” e “El Fiscal” (1993) formam uma “trilogia sobre o monoteísmo do poder”, ao unir a história paraguaia e as ditaduras políticas.
Sua narração abrangeu um período de tempo muito amplo, remontando à ditadura de Rodríguez de França no princípio do século 19.
Em 1966, com “El Baldío”, começou a dar a conhecer uma prolífica produção de contos que incluiu “Los Pies Sobre el Agua” (1967), “Madera Quemada” (1967), “Moriencia” (1969), “Cuerpo Presente” (1971), “Lucha Hasta el Alba” (1979), “Antología Personal” (1980) e “Contar un Cuento y Otros Relatos” (1984).
Em 1984 publicou o romance curto “El Sónambulo”.
Com o início da transição política no Paraguai em 1989, publicou vários romances: “Vigilia del Almirante” (1992), “El Fiscal” (1993), “Contravida” (1994) e “Madama Sui” (1995), que lhe valeu o Prêmio Nacional de Literatura (1995). Em “Contravida” voltou o olhar para seu passado, para sua infância e adolescência.
Também se destacou como roteirista e autor em sua passagem pelo cinema na Argentina. Foi o roteirista do filme com Isabel Sarli “El Trueno entre las Hojas” e “Castigo al Traidor”.
Sua crítica à opressão e o compromisso social nunca o levaram a optar por um partido político, exceto durante uma curta passagem pelo Partido Encontro Nacional (PEN, social-democrata) durante a transição paraguaia.
(Fonte: www1.folha.uol.com.br/folha/ilustrada – da France Presse, em Assunção – 27/04/2005)