Emil Michel Cioran, filósofo, foi um cético profissional que descreveu a ausência de sentido na vida

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A dor de viver

Cioran: o dom da amargura

Emil Cioran  (Foto: E.M.Cioran.Br)

Emil Cioran
(Foto: E.M.Cioran.Br)

Emil Michel Cioran (Transilvânia, Romênia, 8 de abril de 1911 – Paris, 20 de junho de 1995), filósofo romeno, um cético profissional que descreveu a ausência de sentido na vida.

Cioran vivia na França desde 1937, para onde se mudou como bolsista do Instituto Francês de Bucareste, mas o filósofo nunca quis trocar sua nacionalidade.

Filho de um sacerdote ortodoxo, Cioran se dizia obcecado pelo pior. Formou-se em filosofia em 1932, em Bucareste. Publicou no ano seguinte seu primeiro livro, “No Cume do Desespero”. Seguiram-se “Livro dos Enganos” (1935) e “Sobre Lágrimas e Santos” (1937).

Considerado o “arauto do pessimismo”, Cioran não escrevia uma só linha desde 1987, convencido de que seria inútil externar suas opiniões, mas produziu muito antes de guardar a caneta. Seu primeiro livro, No Cume do Desespero, foi publicado quando ele ainda tinha 22 anos e já pensava em dar fim à própria vida.

Não se suicidou, mas garantia que, paradoxalmente, o que consolava sua existência era o fato de ter o poder de acabar com a própria vida quando bem entendesse. “Sem a ideia do suicídio, já teria me matado há algum tempo”, escreveu. Nascido na Transilvânia, em Rasinari, Romênia, em 8 de abril de 1911, Cioran morou de 1933 a 1936 em Berlim, época em que se identificava com a ideologia nazista, uma estupidez da qual se arrependeria publicamente anos depois.

Suas ideias, expressas quase sempre como aforismos ou reflexões breves, revelavam um profundo pessimismo sobre a existência e o destino humanos.

Apesar de todo o pessimismo, Cioran prezava a longevidade de sua obra. Chegou a dizer que “o que impede uma obra de envelhecer é sua ferocidade”. E escrevia de maneira feroz, o que lhe garante, ainda que acidentalmente, pelo menos uma ponta de esperança.

Suas obras publicadas no Brasil, são “Breviário de Decomposição”, “Silogismos da Amargura”, “História e Utopia” e “O Livro dos Logros”.

Em 1989, Cioran e o dramaturgo Eugène Ionesco, que haviam sido banidos da Romênia, foram nomeados membros de honra da União dos Escritores daquele país.

Eugène Ionesco foi o principal autor do chamado "Teatro do absurdo" (Foto: Corriere.it)

Eugène Ionesco foi o principal autor do chamado “Teatro do absurdo” (Foto: Corriere.it)

Em maio de 1995, a Gallimard publicou um volume com seus aforismos sobre “depressão, fracasso, suicídio, lucidez e o nada”. 

“O ceticismo derrama demasiado tarde suas bênçãos sobre nós, sobre nossos rostos deteriorados pelas convicções, sobre nossos rostos de hienas com um ideal.”

“A dignidade do amor consiste no afeto desiludido que sobrevive a um instante de baba.”

“Ninguém pode conservar sua solidão se não sabe fazer-se odioso.”

“Acredito na salvação da humanidade, no futuro do cianureto…”

“Quem não vê a morte de cor rosa sofre de um daltonismo do coração.”

“A vida, esse mau gosto da matéria.”

“Se Noé tivesse possuído o dom de prever o futuro, teria certamente naufragado.”

“O pessimista deve inventar para si mesmo, a cada dia, outras razões para existir: é uma vítima do “sentido” da vida”.

“Quem se mata por uma mulherzinha vive uma experiência mais completa e profunda do que o herói que altera a ordem do mundo.”

“Que auxílio pode oferecer a religião a um crente decepcionado por Deus e pelo Diabo.”

“A música é o refúgio das almas feridas pela felicidade.”

“A pior das calúnias é a que visa nossa preguiça, a que contesta sua autenticidade.”

“O menos original de todos os cultos é o da ciência.”

Descansa em paz, após uma existência dedicada a apontar a ausência de sentido na vida. Cioran morreu dia 20 de junho de 1995, vítima do mal de Alzheimer, aos 84 anos, em Paris, onde vivia desde 1937.

O filósofo sofria do mal de Alzheimer e já não escrevia há alguns anos.

(Fonte: Veja, 28 de junho de 1995 –- ANO 28 –- N° 26 – Edição 1398 – MEMÓRIA -– Pág; 114)

(Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/fsp/1995/6/21/ilustrada – FOLHA DE S. PAULO – ILUSTRADA – DAS AGÊNCIAS INTERNACIONAIS – 21 de junho de 1995)

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