Virgílio Távora, que mandou na política cearense
Virgílio Távora, que por duas vezes governou o Ceará de 1963 a 1966, pelo voto direto, e de 1979 a 1982, indicado pelo presidente Ernesto Geisel -, foi também deputado, senador e ministro da Viação e Obras Públicas no governo de João Goulart. Autoritários, deconfiados, nepotistas, assistencialistas, fofoqueiros e dados a intrigas. Os famosos coronéis nordestinos eram tudo o que se pensava deles e um pouco mais.
Távora morreu em 1988, aos 69 anos, de câncer na próstata.
(Fonte: Veja 19 de dezembro de 2001 Edição n° 1 731 ANO 34 N° 50 MEMÓRIA/ Por Adriana Negreiros – Pág; 121/122)
(Fonte: Veja 20 de março de 1991 Edição n° 1 174 ANO 24 N° 12 DATAS – Pág; 71)
Além de intimidades, os documentos revelam estratégias políticas corriqueiras da época. Existe uma carta do presidente Castelo Branco a Virgílio Távora em que ele define os “critérios para a escolha de candidato a governador”, em 1966. Ser filiado à Arena, obedecer ao presidente e ao próprio Virgílio, possuir autoridade e não ter comprometimento “com os vícios do passado” eram as principais recomendações. Vivia-se sob a ditadura militar. Um detalhe a lembrar é que Virgílio integrara o governo João Goulart e continuava a comunicar-se com ele. Em cartas, chamava-o de João ou “você”.
Há mais de um documento confirmando o mandonismo dos coronéis. Mapas eleitorais feitos a mão são um exemplo. Neles, os políticos dividem os municípios entre si. Virgílio Távora era “dono” de 74 cidades, e seus aliados César Cals e Adauto Bezerra, que governou o Ceará de 1975 a 1978, dividiam outras 45. Curiosamente, os três pertenciam a uma geração de políticos que cresceu propondo acabar com as relações de assistencialismo típicas da República Velha. O tio de Virgílio, Fernandes Távora, foi combatente da Revolução de 30 e, com a vitória do movimento comandado por Getúlio Vargas, virou interventor no Ceará. A Revolução não tirou o poder das oligarquias e tornou mais sólido o paternalismo.
Prova disso são os bilhetes enviados por gente importante que pede favores. Há pedidos do presidente do Conselho de Ministros de Jango, Tancredo Neves, na época em que Virgílio era seu colega, e do ministro da Justiça do governo Ernesto Geisel, Armando Falcão. Este pedia ao governador que contratasse um auxiliar agrônomo. O coronel guardou até provas de que comprava votos pagando com favores políticos.
Virgílio Távora não deixou sucessores, ao contrário de seu inimigo político, o senador Carlos Jereissati. Em 1963, o coronel chegou ao governo. O desafeto alcançou o Senado. Jereissati era, na época, o maior importador do Brasil de casimira, linho e lã. No mesmo ano, Jereissati morreu de infarto. Seu filho Tasso ainda era criança, mas a família conseguiu multiplicar a fortuna do pai. Somente em 1986, Tasso entraria na política, numa eleição histórica, uma vingança política, na qual derrotou o coronel Adauto Bezerra para o governo do Estado, anunciando de novo o fim do patriarcado no Ceará. A seu modo e em sua época, Virgílio Távora também foi símbolo de modernidade, atraindo indústrias fortes, como a Vicunha e a Gerdau, implantando um distrito industrial e indo buscar a energia elétrica de Paulo Afonso para seu Estado.
(Fonte: Veja 19 de dezembro de 2001 Edição n° 1 731 ANO 34 N° 50 MEMÓRIA/ Por Adriana Negreiros – Pág; 121/122)