Jon Lord foi um pioneiro na fusão entre rock e erudito
Era um caso raro na música. Depois de uma carreira bem sucedida como tecladista de duas das maiores bandas de rock do planeta, aposentou-se em 2002 para compor peças eruditas. Para ele, clássico e popular elaborado eram apenas aspectos de uma mesma entidade – a boa música.
O caminho era quase natural. Tendo aprendido a tocar os clássicos no piano, Lord apaixonou-se pelo rock ao ouvir Buddy Holly começou a tocar em combos de jazz, rhythm”n”blues e depois rock. Sempre que encontrava uma brecha, contrabandeava uma citação erudita em meio aos solos; “Für Elise” era uma presença constante. Fã do tecladista de jazz Jimmy Smith, tornou-se um dos mais famosos usuários do órgão Hammond.
Em 1969, aos 27 anos, ele compôs com a ajuda do maestro Malcolm Arnold um Concerto para Grupo e Orquestra, temperando a estrutura de uma peça erudita com a eletricidade agressiva da fase mais criativa do Deep Purple, a mesma equipe que comporia “Smoke on the Water” em 1972.
“[O Concerto] conta a história de um jovem, que eu era na época, apaixonado por dois tipos de música, o rock e o clássico”, resumiu ele em entrevista à MTV em 2009, quando tocou sua obra com a Orquestra Sinfônica Municipal, na Virada Cultural.
Participando de um dos grupos de rock que mais mudanças tiveram em sua formação, Jon Lord fez parte de todas as sete equipes do Deep Purple entre 1968 e 2002, quando se aposentou. Com eles, gravou 17 discos de composições inéditas, conheceu 23 países e veio ao Brasil em quatro turnês: 1991, 1997, 1999 e 2000. Foram 28 shows em nove cidades.
Foi justamente por causa da correria da estrada que ele resolveu se aposentar e curtir um pouco da vida, compor o que quisesse, ver algo além de aeroportos e quartos de hotel onde visitasse. Uma cirurgia no joelho, no final de 2001, fez com que ele pedisse a aposentadoria.
Mesmo fora da banda, ele continuou encontrando os velhos colegas regularmente na Sunflower Jam, evento beneficiente promovido pela fundação de apoio a pacientes de câncer dirigida por sua mulher, Vickie, e sua cunhada, Jackie, mulher do baterista do Deep Purple, Ian Paice. Em 2011, o show apresentou uma inédita colaboração entre ele e Rick Wakeman, outro grande tecladista do rock dos anos 70.
Desde 2004, Lord gravou cinco discos orquestrais e recentemente finalizou a primeira gravação em estúdio do Concerto, com as participações de Bruce Dickinson (do Iron Maiden), Steve Morse (do Deep Purple) e Joe Bonamassa (do Black Country Communion). Todo ano, estava entre os mais votados do Hall da Fama da rádio Classic FM, londrina.
Há um ano, Lord ganhou o título de doutor honoris causa da Universidade de Leicester. Em setembro, anunciou em seu website que sofria de um câncer.
“É claro que vou continuar escrevendo música –no meu mundo, isso deve ser parte da terapia– e espero estar de volta em boa forma no próximo ano”, escreveu.
Chegou a anunciar sua volta aos palcos em maio, na Alemanha, mas precisou cancelar o show para cuidar da saúde.
(Fonte: www1.folha.uol.com.br/ilustrada – DE SÃO PAULO/ MARCELO SOARES – 16/07/2012)