Robert Johnson e a morada do diabo
Clarksdale, cidade do sul dos Estados Unidos, ficou conhecida como o local em que o maior bluesman da história vendeu sua alma para se tornar um astro
Robert Johnson, lendário guitarrista e cantor
Robert Leroy Johnson (8 de maio de 1911 – 6 de agosto de 1938), cantor e guitarrista norte-americano de blues. Johnson é um dos músicos mais influentes do Mississippi Delta Blues e é uma importante referência para a padronização do consagrado formato de doze compassos para o blues. Influenciou grandes artistas durante anos como Muddy Waters, Led Zeppelin, Bob Dylan, The Rolling Stones, Johnny Winter, Jeff Beck, e Eric Clapton, que considerava Johnson “o mais importante cantor de blues que já viveu”. Foi considerado o 71º melhor guitarrista de todos os tempos pela revista norte-americana Rolling Stone.
Biografia
A lápide do túmulo de Robert Johnson, Johnson nasceu em Hazlehurst, Mississippi. Sua data de nascimento oficialmente aceita (1911) provavelmente está errada. Registros existentes (documentos escolares, certidões de casamento e certidão de óbito) sugerem diferentes datas entre 1909 e 1912, embora nenhum contenha a data de 1911.
Robert Johnson gravou apenas 29 músicas em um total de 40 faixas, em duas sessões de gravação em San Antonio, Texas, em Novembro de 1936 e em Dallas, Texas, em Junho de 1937. Treze músicas foram gravadas duas vezes. Suas músicas continuam sendo interpretadas e adaptadas por diversos artistas e bandas, como Led Zeppelin, Eric Clapton, The Rolling Stones, The Blues Brothers, Red Hot Chili Peppers e The White Stripes.
InfluênciaJohnson é freqüentemente citado como “o maior cantor de blues de todos os tempos”, ou mesmo como o mais importante músico do Século XX, mas muitos ouvintes se desapontam ao conhecer o seu trabalho, pois o estilo peculiar do Delta Blues e o padrão técnico das gravações de sua época estão muito distantes dos padrões estéticos e técnicos atuais.
Embora Johnson certamente não tenha inventado o blues (há rumores de que foi Charley Patton a primeira estrela do delta blues), que já vinha sendo gravado 15 anos antes de suas gravações, seu trabalho modificou o estilo de execução, empregando mais técnica, riffs mais elaborados e maior ênfase no uso das cordas graves para criar um ritmo regular. Suas principais influências foram Son House, Leroy Carr, Kokomo Arnold, Charley Patton, e Peetie Wheatstraw. Johnson tocou com o jovem Howlin Wolf e Sonny Boy Williamson (que afirma ter estado presente no dia do envenenamento de Johnson e ter alertado Johnson sobre a garrafa de whisky). Johnson influenciou Elmore James e Muddy Waters, e o blues elétrico de Chicago na década de 1950 foi criado em torno do estilo de Johnson. Há uma linha direta de influência entre a obra de Johnson e o Rock and roll que se tornaria popular no pós-guerra.
Anos após sua morte, o grupo de admiradores de Johnson cresceu e inclui astros do rock como Keith Richards e Eric Clapton.
Clarksdale é uma cidade de 15 000 habitantes localizada no sul dos Estados Unidos. Ainda que não tenha a importância musical de Memphis ou Nasvhille, só para ficarmos entre duas localidades históricas, o município foi palco de fatos muito importantes para a história da cultura americana. Ele abrigou, por exemplo, o cantor iniciante McKinley Morganfield, que depois ganharia o nome de Muddy Waters. A cantora Bessie Smith morreu no hospital GT Thomas (o único da região que atendia a afro-americanos) depois de sofrer um acidente automobilístico na rodovia 61 e agonizar por horas à espera de um socorro médico. Clarksdale também foi o local de nascimento de Sam Cooke, o primeiro superstar da soul music, e Ike Turner, companheiro de vida, música e pancadas da diva Tina Turner. Mas o maior trunfo de Clarksdale tem um quê de macabro. Foi na encruzilhada das rodovias 61 e 49 que um certo Robert Johnson, aspirante a astro do blues, vendeu sua alma ao diabo em troca de fama e sucesso.
A cultura popular nos ensina que um trato com o diabo nunca acaba bem. Com Johnson não foi diferente. Por seis anos, de 1932 a 1938, ganhou a vida como músico itinerante, tocando em todo inferninho que se dispunha a abrigá-lo. Sua primeira sessão de gravação aconteceu de 23 a 25 de novembro de 1936 num hotel em Santo Antonio, no Texas. Johnson voltaria a registrar suas composições nos dias 19 e 20 de junho de 1937, em Dallas, também no Texas. As canções de Johnson, o uso criativo do slide (aquele pedaço de metal ou vidro que se coloca entre os dedos para que eles possam fazer a guitarra vibrar) ajudariam a criar as bases do blues e do rock’n’roll. Guitarristas lendários como Keith Richards e Eric Clapton são devotos desse material. O bluesman, contudo, mal teve tempo de saborear o sucesso. Morreu a 16 de agosto de 1938, possivelmente envenenado por uma namorada ciumenta ou um marido traído. Tinha 27 anos.
A mística em torno de Robert Johnson volta ao cartaz através de duas atrações do canal online Netflix. O primeiro se chama O Diabo na Encruzilhada e faz parte da série Remastered, que tenta explicar alguns dos principais enigmas da história da música. Há capítulos, por exemplo, sobre o atentado sofrido pelo astro do reggae Bob Marley, em 1976, e o assassinato de Sam Cooke em 1963. É uma produção didática, que fala das origens rurais de Johnson, seu despontar para a música e sua influência no blues e no rock’n’roll. Um dos pontos altos é a entrevista com Steven Johnson, neto do bluesman – que, para muitos, não tinha deixado herdeiros.
Robert Johnson também é o tema de A Encruzilhada (Estados Unidos, 1986), do cineasta americano Walter Hill. O filme passou em brancas nuvens, mas é muito bem conduzido por Hill e as cenas musicais são impactantes. Um estudante de música erudita obcecado pelo blues, Eugene Martone (Ralph Macchio, o Karatê Kid) sai em busca de um veterano do blues, Willie Brown (Joe Seneca) a fim de aprender uma música inédita de Robert Johnson. A dupla percorre locais simbólicos do sul dos Estados Unidos, sofre com o racismo, encontra uma adolescente fugitiva (Frances, interpretada por Jami Gertz) e Martone finalmente encontra a essência do blues. Willie Brown, por seu turno, é assombrado por um pacto que ele fez com o diabo – e como a gente sabe, essa história nunca termina bem. É a deixa para o final, no qual Martone duela com Jack Butler, outro enviado do cramulhão. Butler é vivido por Steve Vai, um dos maiores guitarristas do final do século XX, enquanto que Ry Cooder, outra figura lendária da guitarra, cuida da parte de Macchio. “É claro que tudo foi feito para que eu ganhasse o duelo. Jamais conseguiria bater Steve Vai”, me confessou Cooder numa entrevista.
Eu mesmo tenho uma história pessoal com essa encruzilhada. Em 2012, durante uma matéria especial sobre Elvis Presley, me uni à câmera Raquel Hoshino, ao fotógrafo Gilberto Tadday e ao repórter Paulo Cavalcanti (da Rolling Stone) numa viagem sobre as origens da música americana. A encruzilhada do blues foi parada obrigatória. Foi um encontro tenebroso: quando estávamos chegando ao local, a rádio passou a tocar canções que falavam sobre hell(inferno) ou devil (diabo). A encruzilhada tem um quê de tenebroso, de energia muito negativa. Em todo caso, não esperamos o anoitecer para dar de encontro do diabo. Afinal, ser um mestre do blues nem sempre é algo vantajoso.
(Fonte: https://veja.abril.com.br/blog/veja-musica / ENTRETENIMENTO / Veja MÚSICA / Por Sérgio Martins – 15 jul 2019)
O músico Celso Blues Boy, nascido Celso Ricardo Furtado de Carvalho, o músico começou a tocar profissionalmente na década de 1970 e, aos 17 anos, já atuava como apoio a grandes nomes da música como Raul Seixas, com quem gravou “O diabo é o pai do rock”. Considerado um dos maiores guitarristas do Brasil, tocou ainda com Sá & Guarabyra, Renato e Seus Blue Caps, Luiz Melodia e Cazuza – com quem gravou a faixa “Marginal” -, além de fazer parte das bandas Legião Estrangeira e Aero blues.
Na década de 1990, passou a se apresentar regularmente na Europa, quando estreitou laços com B. B. King, seu maior ídolo, que participou da faixa “Mississipi”, em homenagem ao lendário Robert Johnson, do disco “Indiana blues”, de 1996.
(Fonte: http://oglobo.globo.com/cultura – CULTURA – 06.08.12)