Carlos Lyra, cantor e compositor, foi um dos grandes nomes da música brasileira – um compositor extraordinário, criador de belas melodias que beiram o sublime, era parceiro de Vinicius de Moraes, Tom Jobim, Ronaldo Bôscoli e outros artistas, um nome fundamental da bossa nova, mas que procurou transcender essa bossa, como explicitou no título do excelente álbum de músicas inéditas que lançou em 2019, Além da bossa

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Carlos Lyra, cantor e compositor da bossa nova

Melodista foi parceiro de Vinicius de Moraes, Ronaldo Bôscoli e outros artistas. Produziu grandes sucessos, como ‘Coisa mais linda’, ‘Minha namorada’, ‘Primavera’, ‘Sabe você’ e ‘Você e eu’.

Formidável melodista, fica na história como um dos maiores compositores do Brasil

Artista carioca deixa cancioneiro associado à bossa nova, mas obra foi além do movimento que o consagrou nas décadas de 1950 e 1960.

(Crédito da fotografia: Cortesia © Copyright Divulgação/Café Braga/ Ilustrada – Folha/ REPRODUÇÃO/ TODOS OS DIREITOS RESERVADOS)

 

Carlos Eduardo Lyra Barbosa (nasceu em 11 de maio de 1933 – faleceu em 16 de dezembro de 2023, no Rio de Janeiro), cantor e compositor, foi um dos grandes nomes da música brasileira – um compositor extraordinário, criador de belas melodias que beiram o sublime, era parceiro de Vinicius de Moraes, Tom Jobim, Ronaldo Bôscoli e outros artistas, um nome fundamental da bossa nova, mas que procurou transcender essa bossa, como explicitou no título do excelente álbum de músicas inéditas que lançou em 2019, Além da bossa.

Autor de sucessos como ‘Coisa mais linda’, ‘Minha namorada’, ‘Primavera’, ‘Sabe você’ e ‘Você e eu’, Carlos Lyra era um dos melodistas mais inspirados da música brasileira em todos os tempos.

Sua primeira composição foi Quando Chegares, em 1954. Desde então, suas músicas foram gravadas por João Gilberto, Nara Leão, Sylvia Telles, Astrud Gilberto, Elis Regina, Billy Eckstine, Brigitte Bardot e outros.

Revelado em disco na voz de Sylvia Telles (1935 – 1966), cantora que gravou Menino em 1956, Lyra foi um dos compositores do movimento rotulado como bossa nova.

Além de músico consagrado, o melodista carioca também desempenhou um papel fundamental na difusão da cultura brasileira. Lyra foi um dos responsáveis por fundar o Centro Popular de Cultura, o CPC, da União Nacional dos Estudantes, em 1961.

Carreira

A primeira composição de Lyra a ser lançada foi “Menino”, gravada na voz de Sylvia Telles, em 1956. Em 1959, ele lança seu primeiro álbum, intitulado “Bossa nova”. No mesmo ano, João Gilberto grava “Maria ninguém” e “Lobo bobo”, da parceria de Lyra com Ronaldo Bôscoli.

O grande parceiro de Carlos Lyra foi Vinícius de Moraes, integrante do que o artista chamava de sua “Santíssima Trindade”. Ao lado de outros grandes músicos, como Tom Jobim, eles lideraram o movimento da Bossa Nova e, assim, mudaram os rumos da música mundial.

A faixa “Coisa mais linda”, composição de Lyra e de Vinicius de Moraes, foi lançada em 1961. A dupla também criou “Marcha da quarta-feira de cinzas” (1963), “Minha namorada” (1964), Primavera (1964) e “Sabe você” (1964).

Carlos Lyra (com violão) com Vinícius de Morais, o tenor Diogo Pacheco, o ator Paulo Autran e o cantor Cyro Monteiro durante ensaio para o espetáculo "Vinicius Poesia e Canção", em 1965 — Foto: Estadão Conteúdo/Arquivo

Carlos Lyra (com violão) com Vinícius de Morais, o tenor Diogo Pacheco, o ator Paulo Autran e o cantor Cyro Monteiro durante ensaio para o espetáculo “Vinicius Poesia e Canção”, em 1965 — (Foto: Estadão Conteúdo/Arquivo)

Lyra também demonstrou sua ideologia social e política ao compor a trilha sonora da peça “A mais valia vai acabar, seu Edgar” (1960), do dramaturgo e diretor paulistano Oduvaldo Vianna Filho, o Vianinha.

Anos depois, o cantor renovou seu repertório em álbuns como “Eu & elas” (1972) e “Herói do medo” (1975). Nos anos 1980, ele aderiu a regravações de clássicos da bossa nova e teria novas parcerias com artistas como Joyce Moreno e Paulo César Pinheiro.

Lyra ainda gravou outros trabalhos de músicas inéditas, como “Carioca de algema” (1994) e “Além da bossa” (2019).

Às seis mais famosas parcerias do compositor com o poeta Vinicius de Moraes (1913 – 1980) – Coisa mais linda (1961), Você e eu (1961), Marcha da quarta-feira de cinzas (1963), Minha namorada (1964), Primavera (1964) e Sabe você (1964) – fica evidente que Carlos Lyra fazia mesmo jus aos elogios superlativos de ninguém menos do que Antonio Carlos Jobim (1927 – 1994). O maestro soberano sempre fez questão de enaltecer as melodias de Lyra.

Compositor da primeira geração da bossa nova, Lyra fez a primeira música em 1954, Quando chegares, e dois anos depois foi revelado publicamente como compositor na voz de Sylvia Telles (1935 – 1966), cantora que gravou Menino em disco editado em 1956.

Três anos depois, em 1959, Lyra seria precocemente consagrado por João Gilberto (1931 – 2019), o papa da bossa. João incluiu nada menos do que três músicas de Lyra no repertório do primeiro álbum do criador da bossa, Chega de saudade (1959).

Nesse disco histórico, João Gilberto gravou Maria ninguémSaudade fez um samba e o samba cool Lobo bobo, título mais popular da parceria de Lyra com Ronaldo Bôscoli (1928 – 1994), geradora de standards como Canção que morre no ar (1960), Se é tarde me perdoa (1960) e a citada Saudade fez um samba.

Carlos Lyra ganhou respeito como compositor no universo da bossa nova, mas soube ir além dos cânones do movimento. No samba Influência do jazz (1962), o compositor dissertou com fina ironia sobre o quanto de jazz podia haver na bossa brasileira.

Já em 1960, Lyra procurou engajar a bossa, tocando em questões sociais. Tornou-se quase um dissidente do movimento ao compor a trilha sonora da peça A mais valia vai acabar, seu Edgar (1960), texto do politizado dramaturgo e diretor paulistano Oduvaldo Vianna Filho (1936 – 1974), o Vianinha.

O artista seguiu nessa linha ao longo dos anos 1960, envolvendo-se com o Teatro de Arena, filiando-se ao Partido Comunista do Brasil e ajudando a fundar o Centro Popular de Cultura (CPC). Foi quando Lyra passou a fazer música afinada com a lira e o partido do povo, sem desprezar o lirismo e engajando o próprio Vinicius, com quem compôs a trilha sonora do musical Pobre menina rica (1964).

Como cantor, Lyra lançou o primeiro álbum em 1959, intitulado Bossa nova. Fez outros discos importantes no Brasil e, quando a bossa perdeu impulso na era dos festivais e no reino da Jovem Guarda, o artista partiu para o México, onde morou de 1968 a 1971.

Na volta ao Brasil, Carlos Lyra abriu parcerias com Chico Buarque e Ruy Guerra, renovando o repertório autoral em álbuns como …E no entanto é preciso cantar (1971), Eu & elas… (1972) e Herói do medo (1975). Mas nunca reeditou o sucesso das décadas de 1950 e 1960.

A partir dos anos 1980, para sobreviver no mercado, o artista aderiu aos periódicos revivals do cancioneiro da bossa nova em discos e shows, mas também abriu mais parcerias – com nomes como Joyce Moreno e Paulo César Pinheiro – e lançou eventuais álbuns de músicas inéditas como Carioca de algema (1994) e o já mencionado Além da bossa (2019).

Contudo, o cantor, compositor e músico jamais ficou dissociado da bossa nova pela força do imbatível repertório inicial, criado com a marca de um compositor realmente formidável, como enfatizava Tom Jobim.

Em 2023, grandes nomes da MPB homenagearam o artista no álbum coletivo “Afeto”.

A morte do artista carioca na madrugada do sábado, 16, aos 90 anos, tira de cena um compositor extraordinário.

corpo do cantor e compositor foi velado e cremado na tarde do domingo (17) no Cemitério Memorial do Carmo, no Caju, na Zona Portuária do Rio de Janeiro.

A cerimônia foi restrita a familiares e amigos. Parceiro de Vinicius de Moraes, Ronaldo Bôscoli e outros artistas, Lyra morreu na madrugada do sábado (16), no Rio.

Segundo a esposa, o compositor de 90 anos foi internado com um quadro de febre na última quinta-feira (14) no Hospital da Unimed, na Barra da Tijuca. Após alguns exames, foi detectada uma bactéria.

“Acho que ele foi uma pessoa muito importante para esse país em termos de cultura. Não só na parte musical, no lirismo, na harmonia, na criatividade. Ele era uma pessoa lúdica. Mas também a parte política, de defender as pessoas. De se sacrificar indo para um autoexílio, sacrificando a própria carreira, que estava em ascensão aqui. Mas, para ele, era importante batalhar pela cultura e pelo povo”, destacou Magda Pereira Botafogo.

O cantor e compositor Maurício Maestro, que é casado com a filha de Carlos Lyra disse que ele era um sogro fantástico e uma pessoa carinhosa.

“A saudade fica mas as lembranças permanecem. A gente procura se basear na obra dele, que não morre. Além disso a obra, a convivência e o que a gente sente”, disse Maestro.

(Créditos autorais: https://www.metropoles.com/entretenimento/musica – ENTRETENIMENTO/ MÚSICA/ por Juliana Barbosa – 16/12/2023)

TODOS OS DIREITOS RESERVADOS

(Créditos autorais: https://g1.globo.com/rj/rio-de-janeiro/noticia/2023/12/16 – RIO DE JANEIRO/ NOTÍCIA/ Por TV Globo / Por g1 Rio – 16/12/2023)

(Créditos autorais: https://g1.globo.com/pop-arte/musica/blog/mauro-ferreira/post/2023/12/16 – POP & ARTE/ MÚSICA/ Por Mauro Ferreira – 16/12/2023)

Por Mauro Ferreira

Jornalista carioca que escreve sobre música desde 1987, com passagens em ‘O Globo’ e ‘Bizz’.

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