Visconde de Mauá
A visão empresarial de Irineu Evangelista de Sousa colocou-o à frente de seu tempo, quando fez surgir uma série de empreendimentos inovadores
Rio de Janeiro, 1823. Aos 10 anos, empregado como caixeiro em um armazém, Irineu Evangelista de Sousa insiste para engraxar as botas dos colegas. Os tostões recebidos ele aplica em livros, que estuda na própria loja, enquanto os outros folgam ou dormitam.
Praia da Estrela, 1854. O Barão de Mauá causa furor ao inaugurar, na presença de dom Pedro II, a primeira estrada de ferro do país. Proprietário de indústrias e bancos, ele é o maior empresário brasileiro.
O menino pobre que engraxava sapatos e o barão bem-sucedido são a mesma pessoa. Irineu Evangelista saiu do nada e, obcecado pela idéia de industrializar o país, construiu um império. No Brasil agrário, escravagista e obsoleto do século 19, montou estaleiros, fundou bancos, estabeleceu linhas de navegação no Amazonas, dirigiu companhias de iluminação, levantou fábricas, interligou a América à Europa por cabos submarinos, pontilhou de obras o território nacional.
Gaúcho de Arroio Grande, foi levado à corte por um tio, quando sua mãe casou-se pela segunda vez. Abandonado à própria sorte, progrediu espantosamente.
Aos 23 anos, cinco depois de ser empregado na Casa Carruthers, tornara-se sócio-gerente do estabelecimento. Mais três anos e assumia o negócio. Bem estabelecido, Irineu concebeu seu plano grandioso. Não seria apenas um empresário. Seria vários, tantos quantos o Brasil precisasse para se modernizar. O pontapé inicial foi a fundação de um estaleiro, em 1846. A partir de então, os negócios se multiplicaram em ritmo frenético.
O sucesso e a distância não o fizeram esquecer a terra natal. Em 1839, em meio à Guerra dos Farrapos, manda a família vir ao Rio de Janeiro. Simpático à causa farroupilha, ajuda nas ações de fuga de revolucionários presos no Rio. O interesse em promover o progresso gaúcho leva-o a viajar a Rio Grande em 1847, onde organiza uma companhia de rebocadores a vapor.
Depois de anos de grande prosperidade, contudo, os obstáculos começaram a pipocar. Abolicionista, era odiado pelos senhores de escravos, que o acusavam de dar abrigo a negros foragidos. Os fazendeiros também não gostavam da familiaridade com que tratava os empregados. O empresário enfrentava ainda a oposição do paço imperial. Dom Pedro II não tinha a menor simpatia por ele.
Quando recebeu o título de Visconde de Mauá, em 1874, seu império se esfarelava. Tinha prejuízos cada vez maiores com a política antiindústria do governo. Açodado pelos golpes de empresários ingleses, perseguido, minado pela impossibilidade de obter crédito, decidiu deixar suas empresas mais saudáveis no vermelho para dispor de capital com que continuar investindo em grandes projetos. A conseqüência foi a quebra.
Arruinado, dedicou os anos finais ao pagamento de dívidas. Morreu em 1889, amargurado por descobrir que a industrialização do Brasil pelos brasileiros não passara de uma miragem.
Fonte:
“http://zh.clicrbs.com.br/especial/especial27/50perso/e500x18g.jpg.htm”
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