Canto da revolta
Guthrie: um cantor que musicou a dor dos oprimidos
Woodrow Wilson (“Woody”) Guthrie (Okemah, 14 de julho de 1912 Nova York, 3 de outubro de 1967), foi precursor da música folk e ativista político. Menestrel dos oprimidos e deserdados da grande depressão americana dos anos 30, seu canto pleno de revolta e ironia espalhou-se pelas estradas que apontavam para a Terra Prometida da Califórnia.
Woody Guthrie ao morrer aos 55 anos, em 3 de outubro de 1967, em Nova York deixava na música folk de protesto, da qual foi precursor, uma legião de seguidores, como Pete Seeger, Bob Dylan e seu próprio filho Arlo – nenhum, por certo, capaz de igualá-lo em ativismo político. Pois Woody Guthrie não se limitou a denunciar em suas baladas as injustiças sociais: dispôs-se a viver efetivamente a fome e a miséria, compartilhando-as com os desempregados e os subassalariados.
Sua história e trajetória foram retratados em filmes dirigido por Arthur Penn, em 1969, Deixem-nos Viver, onde retrata Woody Guthrie agonizante em um leito de hospital. Mais tarde em Essa Terra é Minha Terra, sob a direção de Hal Shampoo Ashby, ele surge em plena juventude, nos anos de formação ideológica. Inicialmente Woody oscila entre o nomadismo e a vida em família com a primeira mulher (Melinda Dillon); mais tarde, entre os impulsos de indignação insuflados pelo líder sindicalista Ozark Bule (Ronny Cox) e a imagem de cantor bem-comportado exigida pelos patrocinadores de seu programa de rádio.
Anseio de liberdade Inspirado na autobiografia do cantor, o filme abandona Woody Guthrie precisamente quando ele parte para Nova York onde nos anos 40 iria seguir uma militância política bastante definida. Com isso, o roteirista Robert Getchell evita uma entonação social mais inflamada, certamente imprópria em uma superprodução hollywoodiana. E tal atitude de prudência define todo o filme: é um pastoral sobre os anseios de liberdade e justiça social sincero e inofensivo.
Bordado com carinho e minúcias, o filme rescende à tradição libertária da literatura de John Steibeck, Thomas Wolfe e James T. Farrell.
(Fonte: Veja, 11 de janeiro de 1978 Edição n° 488 Cinema/ Por Paulo Perdigão Pág; 85)