Martin Pope, que criou a tecnologia Oled, usada em TVs, celulares e painéis solares
Dr. Pope em 2006: “Na época em que realizei minha pesquisa, não tinha a menor ideia de que ela se tornaria de importância mundial”, disse. (Arquivo Pessoal/ Deborah Pope)
Cientista afirmou que, na época em que realizou sua pesquisa, não tinha ideia de que ela ganharia importância mundial
A flexibilidade é um dos atrativos dos diodos emissores de luz orgânicos, ou OLEDs. Eles são a tecnologia de escolha em telas de celulares e televisores de última geração. (Divulgação/General Eletric)
Martin Pope (nasceu em 22 de agosto de 1918, em Manhattan – faleceu em 27 de março de 2022, no Brooklyn, em Nova Iorque, Nova York), físico-químico americano, cujo trabalho em semicondutores moleculares há mais de 60 anos levou ao desenvolvimento de diodos orgânicos emissores de luz, ou OLEDs, que são usados em câmeras digitais, telefones celulares, painéis solares e televisores.
Os OLEDs são materiais orgânicos finos ensanduichados entre dois eletrodos que iluminam quando ajustados com uma corrente elétrica. Altamente eficientes em termos de energia e muitas vezes finos, os OLEDs são a tecnologia usada em telas de celulares e televisores de última geração.
No fim dos anos 1950 e início dos anos 1960, Pope — que mudou seu sobrenome de Poppick para evitar o preconceito antisemita— fez uma série de descobertas que lançaram as bases para o campo dos semicondutores moleculares.
Ele baseou seus estudos experimentais em compostos orgânicos chamados antraceno e tetraceno. Foi uma escolha fortuita: o Dr. Pope descobriu que esses compostos continham os ingredientes necessários para a criação de dispositivos eletrônicos baseados em carbono que funcionavam em paralelo com a operação do silício.
Mas, ao contrário do silício, que vem de minerais, os materiais à base de carbono com propriedades semicondutoras podem ser macios e flexíveis, tornando-os mais fáceis de moldar em filmes finos usados em dispositivos eletrônicos.
No início da década de 1960, Pope publicou um de seus artigos mais importantes, “Eletroluminescência em Cristais Orgânicos”, que relatava que a eletricidade poderia ser usada para gerar luz a partir do antraceno.
— Esse foi um marco que encontrou raízes nos monitores de alto desempenho que estamos vendo hoje — disse Richard Friend, físico da Universidade de Cambridge.
Em um artigo publicado em 1969, ele demonstrou a possibilidade de produzir duas moléculas excitadas, ou excitons, em um cristal tetraceno após apenas um fóton de luz ser absorvido nele.
O resultado, disse Pope em uma entrevista de 2011 ao NY, foi ”dois por um”.
“Como dois excitons são criados por um processo que geralmente cria um, a eficiência de conversão de luz em corrente elétrica útil aumenta bastante”, disse ele.
A aplicação prática da descoberta está se tornando aparente, pois oferece uma maneira de melhorar a eficiência das células solares.
Tendo lançado as bases científicas para a área, Pope escreveu, com Charles E. Swenberg, o texto definitivo “Processos Eletrônicos em Cristais e Polímeros Orgânicos”. Publicado pela primeira vez em 1982, o livro de mais de 1.300 páginas continua sendo a principal referência na área de semicondutores orgânicos.
Pope, que se concentrava na pesquisa básica, detinha poucas patentes e não procurava lucrar com suas descobertas.
Em 2006, a Royal Society concedeu ao Dr. Pope a Medalha Davy, concedida anualmente a um cientista cuja pesquisa ajudou a trazer avanços extraordinários em qualquer campo da química. Várias pessoas que construíram o trabalho de Pope ganharam Prêmios Nobel. Em 2000, o prêmio de química foi concedido conjuntamente a Alan J. Heeger, Alan G. MacDiarmid (1927 – 2007) e Hideki Shirakawa por inventarem uma técnica para fazer o plástico conduzir eletricidade.
— De certa forma, o trabalho de Martin Pope foi um prelúdio para tudo isso — disse Sir John Meurig Thomas, professor emérito de química da Universidade de Cambridge, em uma entrevista em 2011. Thomas morreu em 2020.
Mudança de nome para evitar preconceito antisemita
Martin Pope nasceu Isidore Poppick em 22 de agosto de 1918, em um cortiço no Lower East Side de Manhattan. Seus pais, Phillip e Anna, eram ambos imigrantes judeus que vieram da Polônia para Nova York na adolescência. Seu pai trabalhava como operário em uma loja de peles, esticando peles de animais.
Em 1938, como estudante de graduação no City College de Nova York estudando físico-química, Isidore Poppick, de 20 anos, publicou um artigo de pesquisa no prestigioso Journal of the American Chemical Society.
Depois de servir como primeiro-tenente nas Forças Aéreas do Exército na Segunda Guerra Mundial, ele procurou emprego. Consciente de uma corrente de anti-semitismo, Pope candidatou-se em 1946 a um cargo na American Cyanamid Company usando dois nomes: Isidore Poppick, com o artigo publicado listado em seu currículo, e Martin Pope, sem tal registro.
“Martin Pope recebeu uma inscrição, e Isidore Poppick recebeu um aviso de que não havia vagas disponíveis”, disse Pope. “Decidi usar Martin Pope como meu novo nome.”
Um dos irmãos de Pope também mudou seu sobrenome quando encontrou preconceito semelhante enquanto procurava trabalho.
Avesso à publicidade
Em 1946, ele assumiu o cargo de cientista pesquisador no Balco Research Laboratories, um pequeno laboratório de pesquisa industrial em Newark.
Pope retornou a Balco após uma pausa para estudos de pós-graduação no Instituto Politécnico de Brooklyn, onde recebeu seu Ph.D., em 1951.
Mas, insatisfeito com a ênfase do setor comercial em patentes, ele deixou a Balco em 1956 e assumiu o cargo de pesquisador no departamento de física da Universidade de Nova York, onde começou a experimentar isoladores inorgânicos e orgânicos que poderiam ser usados para armazenamento de dados. Ele permaneceu em N.Y.U. ao longo de sua carreira.
Pope era conhecido entre seus colegas e amigos como alguém que evitava a autopromoção.
— Ele era um cientista de cientistas, e com isso quero dizer que nunca buscou grande publicidade — disse Roald Hoffmann, um químico teórico de Cornell que ganhou o Prêmio Nobel de Química em 1981.
Na entrevista que concedeu ao NYT em 2011, o cientista disse que ficou surpreso com a aplicação prática de sua descoberta:
— Na época em que realizei minha pesquisa, não tinha a menor ideia de que ela se tornaria de importância mundial.
Pope faleceu no domingo 27 de março de 2022, em sua casa no bairro do Brooklyn. Ele tinha 103 anos. A morte foi confirmada por sua filha Deborah Pope, de causas naturais.
Pope casou-se em 1946 com Lillie Bellin, uma professora do ensino médio. Eles permaneceram casados até morte de Lillie em 2015. Além de sua filha Deborah, Dr. Pope deixa outra filha, Miriam Pope; um irmão, Michael; e quatro netos.
(Créditos autorais: https://oglobo.globo.com/economia/tecnologia/noticia/2022/03 – O Globo/ ECONOMIA/ TECNOLOGIA/ NOTÍCIA/ Por The New York Times – NOVA YORK — 28/03/2022)
© 1996 – 2022. Todos direitos reservados a Editora Globo S/A.