Falk encarregou o desenhista Phil Davis do desenho de suas histórias.
Phil Davis (4 de março de 1906 – 16 de dezembro de 1964), desenhista americano, nascido em St. Louis, Missouri. Ficou conhecido mundialmente como o primeiro desenhista de Mandrake, em parceria com o escritor Lee Falk.
Davis estudou na Washington University Art School, e logo se tornou artista comercial da companhia telefônica de sua cidade. Em 1928 começou a trabalhar como desenhista publicitário e capista de diversas magazines.
Em 1933 conheceu Falk e, juntos, criaram o mágico Mandrake para o distribuidor King Features. A esposa de Davis, Martha, uma desenhista de moda, foi sua auxiliar (não creditada) em Mandrake.
De traço elegante, preciso e com ótimo uso do claro-escuro, Davis influenciou muita gente: Fellini, Alain Resnais, Guglielmo Letteri… Phil Davis morreu de ataque cardíaco, em 1964
(Fonte: http://www.guiadosquadrinhos.com – ARTISTAS/ Por Antônio Luiz Ribeiro)
Phil Davis, o melhor de todos os desenhistas dos enredos idealizados por Lee Falk além de um traço capaz de inspiradíssimas panorâmicas, as primeiras nos quadrinhos, Davis concebeu surpreendentes tomadas vistas do alto ou dos pés das suas personagens.
(Fonte: 30 de abril de 1975 Edição n° 347 LITERATURA/ Por Sílvio Lancellotti Pág; 88/89)
Quadrinhos e neocolonialismo
Mandrake, Lothar, ambiguidade e preconceito
As tiras diárias de Mandrake,o mágico, estrearam nos jornais norte-americanos em 11 de junho de 1934. Mandrake se mostrou popular logo no início e não demorou muito para que suas aventuras fossem publicadas no mundo inteiro. No Brasil, o primeiro periódico a publicar as aventuras do mágico foi o já extinto Suplemento Juvenil, em 1935.
Basicamente Mandrake é um mágico de fraque e cartola que usa suas habilidades para combater o crime. Nos primeiros anos, ele possuía habilidades sobrenaturais de fato, mas com o decorrer do tempo, seus feitos se tornaram mais verossímeis sendo explicados pelos seus conhecimentos de hipnose e ilusionismo.
A tira foi criada pelo roteirista Lee Falk que inicialmente também desenhou algumas das primeiras tiras, mas logo passou a tarefa para o desenhista Phil Davis (1906-1964), que havia conhecido quando ambos trabalhavam numa agência de publicidade. Assim, Falk passou a se concentrar apenas nos roteiros e se tornou um dos mais prolíficos escritores de histórias em quadrinhos. Nos últimos anos de vida, Davis desenhava a tira com a assistência de sua esposa, Martha. Após a morte de Phil Davis, quem assumiu os desenhos foi o versátil artista Fred Frederick.
Locações exóticas
Boa parte das aventuras de Mandrake, especialmente as primeiras, são ambientadas em locações exóticas na África e na Ásia, continentes para os quais o mágico viaja quando sai dos Estados Unidos, onde reside numa cidade não identificada. A maior parte dos vilões enfrentados por Mandrake é formada por orientais, o que reflete o preconceito nos Estados Unidos e na Europa das décadas de 1930 e de 1940 em relação aos asiáticos.
Antes da Segunda Guerra Mundial, vilões chineses eram extremamente comuns nas produções baratas de Hollywood e nos romances do escritor inglês Sax Rohmer, criador do personagem Fu Manchu, o mais conhecido estereótipo de vilão chinês. Com a Segunda Guerra Mundial, o chamado terror amarelo deixou, por um tempo, de ser personificado pelos chineses e passou a ser representado pelos japoneses. A propósito, os romances de Rohmer exerceram clara influência em várias das tramas escritas por Lee Falk nas duas primeiras décadas de sua carreira, não apenas nas tiras de Mandrake, mas nas tiras de outro famoso herói criado por Falk: o Fantasma.
Vale destacar que, quando Mandrake foi publicado pela primeira vez em 1934, a Grã-Bretanha e outras potências européias ainda controlavam muitos territórios na África e na Ásia, bem como as Filipinas ainda eram um protetorado dos Estados Unidos. Após o termino da Segunda Guerra, os movimentos anticolonialistas ganharão força nos países africanos e asiáticos, o que os levará à proclamação de independência política.
Primeiro negro
Apesar de suas habilidades, Mandrake não trabalha sozinho: conta com a ajuda de Lothar, um africano de grande força física. Lothar possui o mérito de ser o primeiro personagem negro de destaque numa história em quadrinhos norte-americana, antes dele, os poucos negros que apareciam nos quadrinhos eram personagens secundários ou não mais do que meros figurantes.
No entanto, nos primeiros anos da tira, Lothar era mais um estereótipo impregnado da visão racista dominante na época: as falas do personagem eram caracterizadas por um inglês truncado, vestia uma túnica feita de pele de leopardo e usava um chapéu turco.
Inicialmente, Lothar era o ajudante e guarda-costas de Mandrake. Antes de conhecer o mágico, Lothar era o príncipe de um conjunto de tribos africanas, mas abdicou do trono para trabalhar para o amigo. Ele abriu mão do trono real para se tornar um mero empregado! Bastante inverossímil! Não é à toa que os quadrinhos de Mandrake tenham sido tachados de racistas e de fazerem uma defesa do imperialismo e do neocolonialismo.
Nas tiras, Mandrake, mesmo sendo plebeu, por ser branco e norte-americano, ocupa uma posição social hierárquica superior à de Lothar, que embora seja de origem nobre, é negro e nativo de um país africano. É possível enxergar na história de Lothar uma metáfora para os paises africanos: a perda da soberania para estar a serviço de interesses estrangeiros.
Ajudantes e namoradas
Lothar foi primeiro de uma longa tradição nos quadrinhos de ajudantes de heróis pertencentes a minorias étnicas, invariavelmente representadas de maneira caricata e ofensiva. O herói mascarado Spirit (que também foi publicado no Brasil com o nome traduzido, O Espírito), criado por Will Eisner, em 1940, também tinha como ajudante um adolescente negro conhecido como Ébano Branco. O próprio nome do personagem era uma piada com a cor da sua pele, o que é bastante ofensivo para o público de hoje, mas que encontrava boa receptividade entre o público norte-americano das décadas de 1940 e de 1950 (quando as aventuras do Spirit foram originalmente publicadas).
Desde que as tiras de Mandrake passaram a ser desenhadas por Fred Fredericks, as histórias foram aos poucos se tornando mais politicamente corretas. A principal razão para isso foi o amadurecimento de grande parte do público, que passou a tolerar menos estereótipos racistas. Assim, embora tenha continuado a ser os músculos da dupla (enquanto Mandrake continuou a ser o cérebro), Lothar passou a falar de maneira articulada e ganhou um par romântico à altura: Karma, uma bela princesa africana que também segue a carreira de modelo. Até então, a presença feminina nas tiras se resumia à Narda, uma princesa europeia com quem Mandrake viveu décadas e uma série de belas mulheres (todas brancas ou asiáticas, nenhuma delas negra) que eventualmente flertaram com o mágico.
Túlio Vilela, formado em História pela USP, é professor da rede pública do Estado de São Paulo e um dos autores de Como Usar as Histórias em Quadrinhos na Sala de Aula (Editora Contexto).
(Fonte: http://educacao.uol.com.br/historia)