Romain Rolland (Clamecy, 29 de janeiro de 1866 Vézelay, 30 de dezembro de 1944), apaixonado biógrafo de homens ilustres, ele se interessou sempre por combinar a realidade e a ficção.
Romain Rolland narrou a história de Michelangelo Buonarroti (Caprese, 6 de março de 1475 Roma, 18 de fevereiro de 1564), um dos mais fulgurantes gênios de toda a história humana. Michelangelo foi tão avaro consigo mesmo a ponto de passar fome, mesmo nos momentos da maior glória. Ou ainda, de uma higiene duvidosa, capaz de dormir vestido e calçado, após o rude trabalho escultórico. Sabe-se que certa vez, como inchassem as pernas do ilustre mestre, seus assistentes tiveram que cortar-lhe as botas. E arrancaram, com elas, a pele até o joelho. À primeira vista, tais fatos chocam um pouco. Parece difícil conciliar a obra michelangelesca, tão impecavelmente realizada, com o homem comum que se esconde por detrás. Contudo, é essa a intenção da “Vida de Miguel Ângelo”, escrita pelo francês Romain Rolland.
Realidade e ficção – Um dos dois gênios múltiplos que floresceram no nascimento italiano (o outro é Leonardo da Vinci, dotado igualmente para todas as artes e ciências), Michelangelo foi sobretudo escultor e pintor. A posteridade não saberia decidir pela maior importância, por exemplo, de sua inimitável “Pietà” – a mais famosa escultura dos últimos vinte séculos – ou do monumental forro da Capela Sistina, em Roma, que ele pintou por encomenda do papa Júlio II, a partir de 1508. Não menos belos – embora menos conhecidos – foram seus numerosos estudos para telas e monumentos, onde o traço inspirado e fluido do desenhista antecipa, de quase meio século, o estilo que sucedeu o renascimento: o curvilíneo barroco.
Não são a análise estilística nem a abordagem crítica, entretanto, os objetivos de Romain Rolland (Clamecy, 29 de janeiro de 1866 Vézelay, 30 de dezembro de 1944). Apaixonado biógrafo de homens ilustres, ele se interessou sempre por combinar a realidade e a ficção. Assim, seu principal trabalho é a vida de um gênio imaginário, “Jean Cristophe”, baseada de fato em Beethoven.
Também esta biografia de Michelangelo revela a presença marcante do escritor. Num estilo extremamente brilhante (que mereceu, em 1915, o prêmio Nobel de Literatura), renasce o dia-a-dia de um artista complexo, doentio, infeliz. Talvez a interpretação tenda exageradamente ao romântico. Isso não impede, porém, que Romain Rolland revele noções polêmicas e atuais. Por exemplo: “A inquietação do espírito não é sinal de grandeza. Toda falta de harmonia entre o ser e as coisas, entre a vida e suas leis, mesmo nos grandes homens, não vem de sua grandeza. Vem de sua fraqueza. Por que tentar escondê-la? Será menos digno de amor o que é mais fraco?”
(Fonte: Veja, 5 de fevereiro de 1975 Edição n° 335 – ARTE/ O homem escondido/ Por Olívio Tavares de Araújo Pág; 100)
Romain Rolland, escritor francês (1866-1944)
(Fonte: Zero Hora – ANO 49 – N° 17.141 – 12 de setembro de 2012 – Almanaque Gaúcho/ Ricardo Chaves – Frase do Dia/ Por Luís Bissigo)