Um dos precursores do movimento punk no Brasil

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O grande poeta do rock brasileiro

Renato Russo: foi um dos fundadores no país do movimento punk

Russo: flores e discurso contra as drogas em lugar da agressão ao público

Aborto Elétrico, grupo de rock fundada em 1978, um dos precursores do movimento punk no Brasil.

Teve sua formação inicial composta por Renato Russo no vocal, em que pontificava ao lado do baterista Felipe Lemos, o Fê Lemos”, depois no conjunto Capital Inicial, Russo ensaiou as atitudes de rebeldia que no futuro iriam se tornar sua marca registrada.

Lutando contra o estigma da violência, Renato Russo transformou o Legião Urbana na sensação dos palcos e do disco, o novo rei do rock. Líder, cabeça pensante e imagem do Legião, pareceu-se disposto a conquistar o público com flores e não com metralhadoras. A guinada do grupo começou em 1989, com o lançamento do disco As Quatro Estações, no qual trocou o som pesado e primal que marcava os LPs anteriores por canções que falam de amor e melodias mais elaboradas. Alguns fãs – aqueles que sempre veneraram Renato Russo como o messias do rock pesado – torceram o nariz. Com a virada, no entanto, o Legião Urbana mais ganhou do que perdeu admiradores. O grupo chegou a arrastar 60 000 pessoas para um show no Jockey Clube do Rio de Janeiro, em julho de 1990, e 42 000 pessoas para o estádio do Palmeiras, em São Paulo, em agosto.

FUNDO DA CARTOLA – Com esse desempenho, o Legião Urbana herdou a abandonada coroa do RPM no reinado do rock nacional – e as semelhanças terminam por aí. O Legião ataca com Renato Russo, um cantor com a aparência de um jogador de pôquer em fim de noite, a sensualidade de uma vovó de pijama e proclamações bissexuais: “Eu sempre gostei de meninos, gosto de meninas também”, disse numa entrevista. Em contrapartida à música e às letras, o Legião tinha a oferecer um som primitivo e poesias rebuscadas, coalhadas de citações e metáforas, embora sempre criativas.

Como a música não é só marketing, mas também talento e ideias, em As Quatro Estações, além da vendagem astronômica, o grupo conseguiu um feito singular na MPB: emplacar nas rádios seis faixas do disco. Essa proeza é ainda mais significativa ao se considerar que essas canções contrariam as receitas de sucesso. Nenhuma delas tem um refrão marcante, em geral as letras são longas e algumas lançavam mão de citações do fundo da cartola. O Legião chegou ao requinte – ou à pretensão – de colocar música num soneto de Camões, em Monte castelo.

CALÇAS RASGADAS – A maioria dessas músicas é resultado da imaginação de Renato Russo. Nascido em março de 1960, no Rio de Janeiro e criado em Brasília, filho de um economista do Banco do Brasil, Renato Manfredini Júnior, é um daqueles cidadãos que desde pequenos são apontados como alguém que irá ser diferente. Aos 4 anos de idade, iniciou seus estudos de piano. Aos 5, já sabia ler e escrever. Aos 7, mudou-se com a família para os Estados Unidos e, em apenas dois meses, aprendeu a falar inglês. Sempre foi o primeiro da classe. Aos 18 anos, como seria previsível, começou a mudar de comportamento. “Um dia ele chegou em casa com as calças rasgadas e cheias de alfinetes”, lembra sua mãe, Maria do Carmo Manfredini. “Disse que tinha virado punk.” Tinha mesmo. Data essa época – 1978 – a fundação do grupo Aborto Elétrico, um dos precursores do movimento punk no Brasil. Com o Aborto Elétrico, em que pontificava ao lado do baterista Felipe Lemos, o Fê Lemos”, depois no conjunto Capital Inicial, Russo ensaiou as atitudes de rebeldia que no futuro iriam se tornar sua marca registrada.

Com o passar do tempo, Russo deixou de lado o protesto adolescente e acabou por montar o Legião Urbana, cuja formação original era completada com o baterista Marcelo Bonfá e o guitarrista Dado Villa-Lobos, sobrinho neto do compositor homônimo que é a glória da música erudita brasileira. Tendo o irrequieto Russo à frente, o Legião sempre conviveu com o estigma de grupo que incita à violência, principalmente porque em muitas ocasiões sues shows desandam em pancadaria de verdade. Em uma história no ano de 1988, um show para 42 000 pessoas no Estádio Mané Garrincha, de Brasília, acabou com saldo de mais de 200 feridos, ,58 pessoas presas e treze ônibus depredados. Com os ânimos acirrados pela ação da polícia – que investiu a cavalo contra os que tentavam furar a fila – e com o atraso de uma hora da banda, o show começou tenso.

(Fonte: Veja, 17 de outubro de 1990 – ANO 23 – N° 41 – Edição n° 1 152 – SHOW – Pág; 58/59/60)

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