Muhammad Zia Ul-Haq, general e presidente do Paquistão entre 1978 e 1988.

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Muhammad Zia Ul-Haq (Jullundur, 12 de agosto de 1924 – Bahawalpur, 17 de agosto de 1988), general e presidente do Paquistão entre 1978 e 1988. Zia faleceu na região da cidade de Bahawalpur, próxima à fronteira com a Índia, de onde havia decolado apenas 7 minutos antes, no dia 17 de agosto. Numa sabotagem advertida pelo líder do Senado, Ghulam Ishaq Khan, assim que assumiu interinamente a Presidência do Paquistão. Os rumores sobre uma bomba ou um ataque a míssil aumentaram durante os dias seguintes. Ao se confirmar a hipótese da sabotagem, a explosão do Hércules C-130 não poderia ter sido mais eficiente. Foi tão devastadora quanto um golpe de Estado. Entre os trinta ocupantes do avião, todos mortos, estavam os principais membros do alto escalão das Forças Armadas, que, internamente, sustentavam Zia no poder. Morreram ainda o embaixador Arnold Raphel e o adido militar Herbert Wasson, representantes do maior aliado externo do governo militar – os Estados Unidos. A cooperação entre os dois países gerou nos últimos seis anos uma ajuda de 3,2 bilhões de dólares ao regime de Zia, que morreu justamente quando voltava de uma demonstração do tanque americano M-1, item, da lista de aquisições do Exército paquistanês.

Interna e externamente, também, não faltavam inimigos a Zia. A morte do general – que, como se acreditasse eterno, nunca se preocupou em formar herdeiros políticos ou amparar-se num partido – abriu espaço para toda a oposição reprimida à força durante os onze anos de seu governo. “Não lamento a morte de Zia”, afirmou sem rodeios Benazir Bhutto, líder do Partido do Povo Paquistanês e mais popular adversária do regime que agora corre o risco de desmoronar. Benazir manifestava mais uma vez o rancor armazenado que compartilha com seus seguidores e do qual é uma espécie de símbolo nacional: seu pai, o primeiro-ministro Zulfikar Ali Bhutto, foi deposto por Zia em 1977 e enforcado dois anos depois.

“EQUILÍBRIO DE PODERES” – Mais diplomáticas soaram as mensagens de condolências emitidas pelos governos da Índia, do Afeganistão e da União Soviética. Elas apenas representaram, porém, um rápido e protocolar intervalo no estado de animosidade em que esses países sempre se viram às voltas com o regime encabeçado por Zia. Nas páginas dos jornais paquistaneses – todos alinhados com o governo, os únicos permitidos – a explosão do C-130 foi abertamente atribuída à União Soviética, em cooperação com o Khad, a polícia política do Afeganistão. O Paquistão já havia culpado o Khad pela explosão, em abril de 1988, de um depósito de munições em Islamabad, que causou mais de 100 mortes. A tensão cresceu, desde então, com os estridentes protestos soviéticos contra a persistente ajuda paquistanesa aos rebeldes que combatem o governo afegão sustentado por Moscou. Ao lado da conexão soviético-afegã, a Índia, que já teve três guerras com o Paquistão, desde a partilha entre os dois países, vem aparecendo como a “potência estrangeira por trás do atentado”. Nos últimos meses, o governo indiano reclamava insistentemente da interferência de Zia em favor de terroristas da seita sikh. A morte de Zia por atentado, abriu a perspectiva de mudanças a curto prazo. Em relação ao conflito afegão, os Estados Unidos disse que agora “o equilíbrio de poderes pendeu fortemente para o lado soviético”. Para a oposição, aumentou a esperança de que finalmente aconteçam em 1988 as eleições prometidas pelo sempre sorridente Zia para noventa dias depois do golpe que protagonizou há mais de uma década, e desde então sucessivamente adiadas. A sepultura de Zia foi preparada junto à mesquita Faisal, uma das maiores do mundo, em Rawalpindi – cidade-gêmea de Islamabad, a capital – técnicos do governo americano chagaram ao país para investigar as causas do avião, na trilha de infindáveis suspeitas levantadas pela imprensa e por integrantes do governo, foi confirmado os rumores sobre uma bomba, e não um ataque a míssil, como se comentaram durante os dias seguintes à sabotagem, agora confirmadas.

(Fonte: Veja, 3 de abril de 1985 – Edição n° 865 – LIVROS/ Por Mirian Paglia Costa – Pág; 98)
(Fonte: Veja, 24 de agosto de 1988 – Edição n° 1042 – INTERNACIONAL – PAQUISTÃO – Pág; 58)

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