De camelô a megaempresário: como o talento de Silvio Santos construiu um império bilionário
SBT, Jequiti, Baú da Felicidade e Tele Sena estão entre as marcas administradas pelo conglomerado do ex-vendedor de canetas que se tornou “primeira celebridade bilionária brasileira” segundo a Forbes.
Apresentador Silvio Santos — (Foto: Lourival Ribeiro/SBT/Divulgação)
Silvio Santos, foi um dos maiores apresentadores da TV brasileira, foi locutor de barco e fez shows em circo antes de virar Silvio Santos.
Maior apresentador da TV brasileira ficou 60 anos no ar e, desde que parou de gargalhar e jogar dinheiro para cima, os domingos na televisão nunca mais foram os mesmos. Mais do que um comunicador, ele foi um ícone.
Além de ser o fundador e dono do Sistema Brasileiro de Televisão, o SBT, Silvio teve uma trajetória empresarial de décadas de sucesso que deu origem ao Grupo Silvio Santos (GSS), hoje um conglomerado bilionário dono de marcas como a Tele Sena (principal produto da Liderança Capitalização), o Baú da Felicidade e a Jequiti.
Senor Abravanel — nome de batismo de Silvio Santos — começou com camelô no Rio de Janeiro, sua cidade natal, vendendo canetas e capas de plástico para títulos de eleitor na eleição de 1946.
Vendedor nato, com grande capacidade de comunicação e persuasão, Silvio alavancou o Baú da Felicidade, então pertencente ao radialista Manoel da Nóbrega, até assumir a empresa, em 1958.
Era o início do Grupo Silvio Santos (GSS), que se desdobrou em setores como cosméticos, capitalização, mídia e comunicação, incorporação imobiliária e hotelaria.
Em 2013, quando o grupo tinha vendas anuais de US$ 2 bilhões e mais de 30 marcas, Silvio Santos entrou na seleta lista de bilionários da revista Forbes, com uma fortuna estimada em R$ 2,67 bilhões (em valores da época).
À época, a Forbes destacou que o patrimônio do apresentador fez dele a “primeira celebridade bilionária brasileira”.
Atualmente, a fortuna de Silvio Santos é estimada em R$ 1,6 bilhão.
De camelô e locutor ao Baú e à Tele Sena
O talento e a voz do jovem camelô não demoraram a chamar a atenção dos veículos de comunicação do Rio de Janeiro. Na década de 1950, Silvio foi convidado a fazer um teste na Rádio Guanabara, onde trabalhou e teve sua primeira experiência como locutor.
Aos 20 anos, decidiu se mudar para São Paulo. Trabalhando na Rádio Nacional, atuou ao lado do radialista Manuel de Nóbrega, que administrava o Baú da Felicidade, que vendia brinquedos a prazo, por meio do pagamento de carnês.
Em 1958, Silvio passou a administrar o Baú da Felicidade, com sua grande capacidade de persuasão e visão empresarial, logo fez a empresa crescer. Pouco tempo depois, assumiu o controle total do negócio.
Nos anos seguintes, o sistema de crediários do Baú foi ampliado para produtos variados, incluindo carros e casas.
A administração de negócios corria paralelamente à carreira de apresentador. Em 1963, Silvio estreava o primeiro Programa Silvio Santos, que foi ao ar pela TV Paulista.
Em 1965, Roberto Marinho comprou a emissora, e o programa continuou a ser exibido pela TV Globo, apenas para São Paulo. Já em 1969, passou a ser transmitido em rede nacional. O programa ficou no ar até 1976, quando Silvio deixou a TV Globo.
Nesse mesmo período, foram criados outros projetos do que formaria o portfólio do Grupo Silvio Santos, como a Baú Financeira (1969) — que deu origem ao banco PanAmericano — e à famosa Tele Sena.
A compra da TVS e a criação do SBT
Os sucessos como empresário e apresentador já tinham despertado em Silvio Santos o interesse em ter sua própria emissora de televisão.
Em 1976, ele inaugurou a TVS. Ao receber novas concessões de transmissão, a emissora deu espaço ao Sistema Brasileiro de Televisão (SBT), que foi ao ar pela primeira vez em 19 de agosto de 1981. Na estreia, foi ao ar o já conhecido Programa Silvio Santos.
Com 114 emissoras em todo o país, o SBT alcança atualmente 70 milhões de lares. Ao longo dos anos, passaram pela programação atrações que marcaram a história da televisão brasileira, como “Topa Tudo Por Dinheiro” e “Roda a Roda”, ambos apresentados por Silvio, e o “Domingo Legal” — comandado por Gugu Liberato, morto em 2019.
Em setembro de 2022, Silvio deixou de apresentar sua atração nas noites de domingo. Desde então, o Programa Silvio Santos passou a ser comandado por Patricia Abravanel, uma de suas filhas. Daniela Beyruti, outra filha de Silvio, está no comando da emissora desde o afastamento do pai.
O SBT sempre foi parte importante dos ativos do Grupo Silvio Santos. Quando o apresentador entrou para a lista de bilionários da Forbes, em 2013, 22% do total de sua fortuna tinha origem na rede de televisão, segundo a revista.
A Jequiti
De olho no mercado de cosméticos, Silvio Santos fundou a Jequiti em outubro 2006, em um mercado dominado por marcas como Natura e Avon na venda direta, também chamada de “porta a porta”.
Atualmente, a Jequiti é uma das maiores empresas do segmento no país e está em todo o território brasileiro, com 260 mil consultoras em seu portfólio e um valor de mercado de cerca de R$ 450 milhões. Atualmente, há discussões sobre a venda da empresa para a farmacêutica Cimed.
A Jequiti foi a segunda linha de cosméticos do Grupo Silvio Santos, que já tinha adquirido, em março de 2006, a SSR Comércio de Cosméticos, licenciada para produzir cosméticos com a marca Disney e dona da marca Hydrogen.
O banco PanAmericano
“Vendi o banco”, disse Silvio Santos em janeiro de 2011, após uma série de polêmicas envolvendo o PanAmericano.
“Não podia deixar de vender. Porque o meu banco não deu prejuízo para ninguém. O meu banco teve um bom comportamento. Talvez tivesse sido mal administrado, e essa má administração provocou aquilo que todos vocês conhecem”, afirmou a jornalistas na ocasião.
Em novembro de 2010, após o Banco Central identificar um rombo nas contas da instituição, o PanAmericano recebeu um aporte de R$ 2,5 bilhões do Fundo Garantidor de Créditos (FGC), um órgão criado por determinação do governo federal e abastecido com fundo das próprias instituições financeiras. Os bens do Grupo Silvio Santos foram colocados como garantia.
De acordo com o BC, o PanAmericano mantinha no balanço carteiras de crédito que já haviam sido vendidas a outros bancos, entre outras operações que inflavam o resultado da instituição.
“Agora eu estou livre. A televisão [SBT] que vocês queriam comprar, ou que alguém queria comprar, não está mais à venda. A Jequiti não está mais à venda. As Lojas do Baú não estão mais à venda. A única coisa que foi vendida foi o banco”, disse Silvio em 2011.
Silvio Santos faleceu no sábado (17), aos 93 anos.
(Créditos autorais: https://g1.globo.com/economia/negocios/noticia/2024/08/17 – ECONOMIA/ NEGÓCIOS/ NOTÍCIA/ Por André Catto, g1 – 17/08/2024)