Armando Freitas Filho, um dos maiores poetas da literatura brasileira
Ganhador dos prêmios Jabuti e da Biblioteca Nacional
Com mais de 60 anos dedicados à poesia, Armando Freitas Filho foi vencedor dos prêmios Jabuti e Alphonsus Guimarães, da Biblioteca Nacional.
O poeta — (Foto: Tomaz Silva/Agência Brasil)
Armando Freitas Filho, poeta carioca, considerado um dos maiores do Brasil. Com mais de 60 anos dedicados à poesia, Armando foi vencedor dos prêmios Jabuti e Alphonsus Guimarães, da Biblioteca Nacional.
Entre as obras mais conhecidas do poeta estão “Palavra” (1963), “À mão livre” (1979), “3×4” (1985, vencedor do prêmio Jabuti), “Rol” (2016, vencedor do prêmio Rio de Literatura e APCA de 2016) e “Arremate” (2020).
Freitas Filho também foi pesquisador da Fundação Casa de Rui Barbosa, secretário da Câmara de Artes no Conselho Federal de Cultura, assessor do Instituto Nacional do Livro no Rio de Janeiro, pesquisador da Biblioteca Nacional e assessor no Gabinete da presidência da Funarte.
Nascido no Rio de Janeiro, em 1940, o poeta foi pesquisador da Fundação Casa de Rui Barbosa, secretário da Câmara de Artes no Conselho Federal de Cultura, assessor do Instituto Nacional do Livro no Rio de Janeiro, pesquisador da Biblioteca Nacional e assessor no Gabinete da presidência da Funarte. Foi organizador da obra da poeta Ana Cristina César.
Entre suas obras publicadas, estão: “Palavra” (1963), “À mão livre” (1979), “3×4” (1985, vencedor do prêmio Jabuti), “Rol” (2016, vencedor do prêmio Rio de Literatura e APCA de 2016), e “Arremate” (2020). Sua poesia foi reunida em “Máquina de escrever” (2003). Aos 82 anos, estreou na prosa com o livro “Só Prosa” (2022).
Em 2016, foi lançado o documentário “Manter a linha da cordilheira sem o desmaio da planície”, de Walter Carvalho, que durante sete anos filmou a trajetória do escritor observando sua rotina de escrita.
Armando Freitas Filho doou seus arquivos pessoais ao acervo de Literatura do Instituto Moreira Salles para conservação.
Pasquale Cipro Neto: Armando transita com muito talento por diferentes formas poéticas
O professor Pasquale Cipro Neto, comentarista da CBN, afirmou que Armando “foi um poeta muito importante em várias épocas da poesia brasileira”, e destacou sua relação com a poesia marginal, movimento marcado por nomes como Ana Cristina César.
“O Armando mas eu destacaria a relação dele com dois nomes da poesia moderna brasileira muito importantes: o Paulo Leminski, falecido já há algum tempo, e a Alice Ruiz, que é uma escritora e letrista de mão cheia, e que fizeram parte daquilo que se chama, de poesia marginal, que é a poesia que corre por fora dos padrões tradicionais e dos elogios tradicionais. Os poetas marginais são todos quase obscuros, desconhecidos, pouco lidos, e tal. Mas a poesia do Armando é uma poesia muito forte. E ele foi premiado várias vezes.”
Pasquale ainda destacou o erotismo na poesia de Armando Freitas Filho e sua habilidade de transitar entre diferentes formas da poesia, com o poema “Soneto”, feito na forma clássica italiana: “Ele é um super modernista, super pós-modernista, super marginal, no sentido que eu expliquei, e está transitando tranquilamente com muito talento por esse formato também. Não só, mas também.”
Soneto
O sexo imprime no corpo
a velocidade de outro corpo:
camaleão partindo em silêncio
leão de bronze, flagelo
roendo a praia de carne:
unha e garra quando onda
doem na areia, pele adentro
rosto sem pausa no vento.
Abismo de louça escavado
fracionado pelo espasmo
o leite rosna abafado
Sono ou sonho decepado?
Vácuo, estalo, resvalo
longe de mim, fraturado.
José Godoy: Armando era um dos mais importantes poetas em atividade no país
Também comentarista da CBN, o escritor e crítico José Godoy destaca o impacto de Armando Freitas Filho e a influência de Ana Cristina César em sua obra:
“Era um dos mais importantes poetas em atividade no país, com uma produção longeva. Começou nos anos 60, passa ali muito brevemente pela poesia marginal, que foi um fenômeno no Rio de Janeiro, mas acho que o grande encontro dele que, vai dar um corpo para a poesia dele, vai ser com Ana Cristina César, de quem ele foi muito próximo, e ali ele mesmo falava que é um encontro que transforma o que ele escrevia.”
Em 2022, aos 82 anos, o autor lançou seu primeiro livro em prosa, chamado com “Só prosa”, reunião de textos que trouxeram observações do cotidiano e lembranças de velhos amigos.
Freitas Filho foi tema do documentário “Manter a linha da cordilheira sem o desmaio da planície” (2016), de Walter Carvalho. O escritor e o diretor estiveram juntos na mesa de abertura da edição daquele ano da Festa Literária Internacional de Paraty (Flip).
“Ficamos apaixonados”, brincou o poeta, arrancando risos da plateia. “Ninguém nunca tinha me olhado tanto”, continuou, em referência aos sete anos de duração das filmagens.
Na ocasião, Freitas Filho falou ainda sobre a amizade com homenageada do evento naquela edição, Ana Cristina Cesar (1952-1983), um dos nomes mais cultuados da poesia marginal brasileira dos anos 1970.
A escritora Laura Liuzzi citou Freitas Filho como inspiração: “Sou poeta porque ele descobriu isso em mim. Vamos ter um trabalho de arquivologia para descobrir toda a escrita dele”.
Armando Freitas Filho faleceu na quinta-feira (26), no Rio de Janeiro. A morte foi confirmada ao g1 pela viúva, Cristina Barros Barreto.
Além da esposa, o artista deixa dois filhos, Carlos e Maria, e dois netos, Lia e Max.
Em uma rede social, a editora Compahia das Letras prestou uma homenagem:“
Armando era um dos maiores poetas brasileiros em atividade. Sua poesia fala sobre o amor, a morte, a casa, o ofício de escrever, o Rio de Janeiro. Seu legado é gigantesco e continua vivo em cada poema seu”, diz Alice Sant’Anna, poeta e editora de Armando na Companhia das Letras.
A editora também informou que “Respiro”, último livro do poeta, será publicado em breve e postou um dos poemas da coletânea.
Repercussão
O Ministério da Cultura enviou nota de pesar:
“Armando teve uma carreira de mais de seis décadas. Seus mestres foram Manuel Bandeira e Carlos Drummond de Andrade. A estreia foi com o livro ‘Palavra’, em 1963. Mais tarde, na década de 1970, se aproximou da poesia marginal, mas sem aderir ao movimento. No entanto, tornou-se amigo de Ana Cristina César, a quem ele viria organizar a obra após a sua morte, em 1983.
No total, ele lançou 15 livros. O último foi ‘Cristina’, no qual homenageia a mulher, Cristina Barros Barreto, lançado em edição artesanal de somente 20 exemplares. ‘À mão livre’ (1979), ‘Duplo cego’ (1997) e ‘Raro mar’ (2006) estão entre seus trabalhos.
Em 2023, o autor reuniu sua obra em ‘Máquina de Escrever,’ e em 2020, ao completar 80 anos, lançou a compilação de poemas feitos entre 2013 e 2019, intitulada ‘Arremate’.
‘Só Prosa’, de 2022, surpreendeu seus leitores. A obra traz textos curtos em que ele aborda temas como a formação literária, e a vida no bairro da Urca, no Rio de Janeiro, onde foi criado.
O poeta conquistou o prêmio Jabuti pelo livro ‘3×4’, de 1986, e o Alphonsus de Guimaraens, categoria de poesia do Prêmio Literário Biblioteca Nacional, por ‘Fio Terra’, de 2000.
Também trabalhou como pesquisador na Biblioteca Nacional e na Fundação Casa de Rui Barbosa (FCRB), além de assessor na presidência da Fundação Nacional de Artes (Funarte).”
(Direitos autorais: https://cbn.globo.com/cultura/noticia/2024/09/26 – CULTURA/ NOTÍCIA/ Por Amanda Mazzei — São Paulo –
(Direitos autorais: https://g1.globo.com/rj/rio-de-janeiro/noticia/2024/09/26 – RIO DE JANEIRO/ NOTICIA/ Por g1 Rio – 26/09/2024)