Evandro Teixeira, ícone do fotojornalismo brasileiro, autor de fotos históricas do país
Foi um dos maiores nomes do fotojornalismo do Brasil
Evandro, o homem que fez o Papa se ajoelhar
Fotógrafo registrou por 70 anos eventos marcantes da história brasileira e mundial.
Evandro Teixeira em setembro de 2023, quando lançou mostra no CCBB do Rio — (Crédito da fotografia: Cortesia © Copyright All Rights Reserved/ Marcello Cavalcanti ®/ REPRODUÇÃO/ TODOS OS DIREITOS RESERVADOS)
Evandro Teixeira (nasceu no município de Irajuba, na Bahia, em 1935 – faleceu em 4 de novembro de 2024, no Rio de Janeiro), fotógrafo inúmeras vezes premiado e autor de imagens marcantes da história do Brasil – e até de outros países – foi um dos maiores nomes do fotojornalismo brasileiro.
Evandro registrou, quase sempre em preto e branco, boa parte do que de mais importante aconteceu na segunda metade do século 20.
Ainda jovem, fez um curso de fotografia à distância e, em 1957, chegou ao Rio de Janeiro com uma carta de recomendação para trabalhar no Diário da Noite.
Logo depois, foi convidado a integrar a equipe do Jornal do Brasil, onde trabalhou por 47 anos, tornando-se uma referência no fotojornalismo.
Em quase 70 anos de carreira, registrou eventos marcantes como o golpe militar de 1964 e a ocupação do Forte de Copacabana em 1º de abril de 1964.
Com a câmera escondida, ele se disfarçou de oficial sem farda, acompanhado por um amigo militar.
“Aí ele bateu continência, eu bati também e falei que era o capitão tal – já não me lembro mais o nome (risos)”, lembrou ao g1, em entrevista feita em setembro de 2023.
Em seguida, bateu a poética foto que estampou a primeira página do Jornal do Brasil no dia seguinte, com militares em contraluz debaixo de chuva.
“Tirei o filme da câmera, botei na meia. Na saída, tive que mostrar a câmera, mas já estava com o filme escondido”, lembra, revelando um hábito que tinha para evitar ter o rolo apreendido e perder as fotos.
As lentes de Evandro Teixeira foram fundamentais para imortalizar a luta contra os horrores da ditadura no Brasil.
Suas fotos, como a da multidão de cariocas na Passeata dos 100 Mil em 1968, na Cinelândia, no Centro do Rio, são exemplos marcantes de seu trabalho.
“Estava lotado e eu nunca vi tanta gente. Aquela faixa de ‘Abaixo a ditadura, o povo no poder’ me chamou a atenção.”
Em um dia de confusão e corre-corre no Centro do Rio, Evandro capturou uma de suas fotos mais icônicas: a de um estudante caindo enquanto era perseguido por dois policiais (veja abaixo).
Caça ao estudante durante a Sexta-feira Sangrenta, série de manifestações contra a ditadura realizadas no centro do Rio e duramente reprimidas pelo regime, Rio de Janeiro, RJ, 21/06/1968 — Foto: Evandro Teixeira/Acervo IMS
Em outra ocasião, na Candelária, Evandro registrou a repressão policial com agentes montados a cavalo.
Golpe militar do Chile
Presos políticos encarcerados no subsolo do Estádio Nacional, Santiago, Chile, 22/09/1973 — Foto: Evandro Teixeira/Acervo IMS
Em setembro de 1973, Evandro Teixeira voltou sua câmera para o golpe militar no Chile, que resultou na morte do presidente Salvador Allende.
Durante sua estadia, ele capturou fotografias que se tornaram documentos históricos. Algumas dessas imagens foram feitas no Estádio Nacional, onde Evandro conseguiu documentar a violação dos direitos humanos.
Também são dele as fotos do adeus a um dos ícones da esquerda no Chile, o poeta Pablo Neruda.
O fotógrafo reuniu em livros tudo que lhe dava orgulho. Além da mulher Marli, duas filhas e netos, Evandro deixa um tesouro captado por um olhar incomparável.
Não foi à toa que ganhou, em vida, uma honraria: uma poesia escrita só para ele por Carlos Drummond de Andrade, um admirador do seu trabalho.
Pelas suas lentes, foram registrados acontecimentos históricos do século XX no Brasil e no mundo. As imagens em preto e branco produzidas por Evandro viraram documentos, que ajudam a acessar fragmentos do passado.
O ícone do fotojornalismo nasceu no interior da Bahia, em uma cidade chamada Irajuba. Ainda jovem, ele se mudou para o Rio de Janeiro, onde trabalhou no Jornal do Brasil por 47 anos. Na empresa, Evandro registrou momentos históricos da história do Brasil, principalmente durante a ditadura, na década de 60. Uma de suas imagens mais marcantes é da Passeata dos Cem Mil, em 1968.
O fotógrafo nasceu no município de Irajuba, na Bahia, em 1935. Ele iniciou a carreira jornalística em 1958 no jornal O Diário de Notícias, de Salvador. Depois, transferiu-se para o Diário da Noite, do grupo dos Diários Associados, de Assis Chateaubriand, no Rio de Janeiro.
Em 1963, foi contratado pelo Jornal do Brasil, onde alcançaria a maior projeção como fotojornalista. Foram quase 47 anos na empresa, de onde saiu em 2010, quando o JB deixou de circular na versão impressa e passou a ter apenas a edição digital. Ele também se tornou autor dos livros: Fotojornalismo (1983); Canudos 100 anos (1997); e 68 destinos: Passeata dos 100 mil (2008).
É dele a imagem da tomada do Forte de Copacabana, no dia 1º de abril de 1964, que mostra as silhuetas de soldados em meio a uma chuva torrencial. Símbolo dos anos difíceis que o país atravessaria sob governos autoritários. E a fotografia, ainda mais conhecida, de um estudante caindo no chão, enquanto dois policiais se preparam para atacá-lo, em meio às manifestações contra a ditadura no dia 21 de junho de 1968.
As obras de Evandro integram coleções de instituições como o Museu de Arte de São Paulo (Masp), o Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM-RJ) e o Instituto Moreira Salles, no Rio de Janeiro.
Cobertura internacional
Em 2023, o Centro Cultural do Banco do Brasil, no Rio de Janeiro, exibiu uma mostra com 160 imagens do fotógrafo. O destaque era a cobertura internacional do golpe militar no Chile, que completava 50 anos. Evandro conseguiu entrar na capital Santiago no dia 21 de setembro de 1973, dez dias depois do golpe liderado pelo general Augusto Pinochet, que encerrou o governo democrático do socialista Salvador Allende.
Mesmo com toda a vigilância, Evandro registrou imagens que atestavam a violação de direitos humanos no país. No Estádio Nacional, driblou a vigilância dos soldados e fotografou o porão onde estudantes eram encarcerados com violência. A imagem foi revelada rapidamente em um laboratório improvisado no banheiro do hotel e transmitida para o Brasil por um aparelho de telefoto.
Em outro momento, conseguiu ser o primeiro a registrar a morte de Pablo Neruda. O fotógrafo entrou no hospital onde estava o corpo do poeta por uma porta lateral, sem ser notado pelos seguranças. Encontrou Neruda sendo velado em uma maca no corredor pela viúva Matilde Urrutia. Depois, com a permissão da família, acompanhou todos os passos do velório na residência do casal e o enterro no Cemitério Geral de Santiago.
“Faltava carne de vaca para a população, que só comia galinha e porco. Eu estava andando pela cidade e passei em frente ao Ministério da Defesa. Vi um carro de açougueiro parado e um cidadão entrar com um boi inteiro nas costas para o pessoal do quartel. Achei uma sacanagem e fiz a foto”, relatou Evandro à época.
Relação com o esporte
Junto ao Comitê Olímpico do Brasil (COB), Evandro esteve presente na cobertura de diversos eventos esportivos. Ele trabalhou nos registros dos Jogos Olímpicos de Sydney 2000 e Atenas 2004, além dos jogos Pan-americanos de Winnipeg 1999, Santo Domingo 2003 e Rio de Janeiro 2007.
Além disso, Evandro também colecionou imagens de momentos marcantes de outros esportes. Com o olhar diferenciado, ele fotografou o antigo piloto de Fórmula 1 Ayrton Senna, o jogador Pelé com a rainha Elizabeth, da Inglaterra, e a festa do título do Brasileirão de 1980 do Flamengo, tendo Zico como destaque.
Evandro Teixeira faleceu, aos 88 anos, na segunda-feira (4), no Rio de Janeiro. Ele enfrentava uma leucemia crônica e estava internado, desde setembro, na Clínica São Vicente, na Gávea, Zona Sul da cidade. Conforme divulgou a família, a causa da morte foi uma falência múltipla de órgãos.
Ele deixa a esposa Marli, com quem esteve casado por 60 anos, duas filhas, Carina e Adryana, e três netas.
Nota de pesar
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva divulgou hoje uma nota de pesar pela morte de Evandro Teixeira, a quem Lula considera referência no fotojornalismo do Brasil e do mundo.
“Evandro deixa um acervo de mais de 150 mil fotos, com imagens que fazem parte da história do Brasil. Cobriu posses presidenciais, registrou a fome, a pobreza, esportes, personalidades e a cultura do nosso país. Meus sentimentos aos familiares, amigos, colegas e admiradores de Evandro Teixeira”, disse Lula, lembrando os mais de 70 anos de carreira do fotógrafo e a emblemática foto da tomada do Forte de Copacabana, de 1964.
(Créditos autorais: https://www.msn.com/pt-br/esportes/futebol – Lance!/ ESPORTES/ FUTEBOL – História de Lance! – 05/11/2024)
(Créditos autorais: https://www.msn.com/pt-br/noticias/brasil – IstoÉ Dinheiro/ NOTÍCIAS/ BRASIL/ História de Redação – 05/11/2024)
(Créditos autorais: https://g1.globo.com/rj/rio-de-janeiro/noticia/2024/11/04 – Globo Notícias/ RIO DE JANEIRO/ NOTÍCIA/ Por g1 Rio, GloboNews e TV Globo –