Ney Latorraca, ator e diretor, estreou na Globo em 1975 na novela “Escalada” e, ao longo da carreira, se destacou em novelas e programas humorísticos, como Quequé, em “Rabo de Saia” (1984), o vampiro Vlad, em “Vamp” (1991) e Barbosa, em “TV Pirata”

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Ney Latorraca, ator de ‘Vamp’ e ‘TV Pirata’

 

Ney Latorraca interpretando Barbosa, na TV Pirata — Foto: Acervo Globo

Ney Latorraca interpretando Barbosa, na TV Pirata — Foto: Acervo Globo

 

Artista se destacou ao longo da carreira por vários personagens como o Vlad, de ‘Vamp’, e o Barbosa, em ‘TV Pirata’.

(Crédito da fotografia: Cortesia © Copyright All Rights Reserved/ © Divulgação/Famosos – UOL Entretenimento ®/ REPRODUÇÃO/ TODOS OS DIREITOS RESERVADOS)

 

 

Ney Latorraca (nasceu em Santos (SP) no dia 25 de julho de 1944 – faleceu em 26 de dezembro de 2024, no Rio de Janeiro), ator e diretor.

O artista estreou na Globo em 1975 na novela “Escalada” e, ao longo da carreira, se destacou em novelas e programas humorísticos, como Quequé, em “Rabo de Saia” (1984), o vampiro Vlad, em “Vamp” (1991) e Barbosa, em “TV Pirata”.

“Ator já nasce ator. Aprendi desde pequeno que precisava representar para sobreviver. Sempre fui uma criança diferente das outras: às vezes, eu tinha que dormir cedo porque não havia o que comer em casa. Então, até hoje, para mim, estou no lucro”, disse o ator em depoimento ao Memória Globo.

Ney Latorraca nasceu em Santos (SP) no dia 25 de julho de 1944. Era filho de artistas. O pai, Alfredo, era cantor e crooner de boates, e a mãe, Tomaza, corista.

Na infância, morou em São Paulo e no Rio de Janeiro, até voltar para Santos e prestar exame no Instituto de Educação Canadá, escola onde formou, com um grupo de amigos que lá estudavam, a banda Eldorado.

Pouco tempo depois, já em São Paulo, o ator participou da peça “Reportagem de um tempo mau”, com direção de Plínio Marcos, no Teatro Arena. O trabalho não chegou a entrar em cartaz por ter sido censurado pelo governo militar – alguns atores da peça foram, inclusive, presos.

Assumiu a função de líder e cantor do grupo. Sua estreia no teatro aconteceu em 1964, em uma peça de escola chamada “Pluft, o fantasminha”. Na época, ele tinha 19 anos. O sucesso fez com que a peça ganhasse fama fora dos muros do Instituto de Educação Canadá.

“Fiquei completamente arrasado, queria me matar. Voltei para Santos”, disse Ney sobre a ocasião.

Em seu retorno à sua cidade natal, Ney Latorraca estudou na Escola de Arte Dramática, atuou em algumas peças locais e, no ano de 1969, finalmente estreou na televisão em “Super plá”, na TV Tupi, e no cinema em “Audácia, a fúria dos trópicos”.

Em seguida, trabalhou na TV Cultura e na TV Record, antes de estrear de vez na Rede Globo em 1975, na novela “Escalada”, de Lauro César Muniz, cujo elenco contava ainda com Tarcísio Meira e Susana Vieira.

Com Vera Fischer, interpretou uma cena de estupro em “Coração alado” (1980), a primeira em uma novela das oito. No folhetim, dividiu as atenções com atores como Tarcísio Meira, Débora Duarte e Walmor Chagas.

Em 1990, trabalhou no SBT na novela “Brasileiras e brasileiros”. No ano seguinte, voltou para a TV Globo e viveu um de seus personagens mais famosos: Vlad, na novela “Vamp” (1991). Outras atuações marcantes de Latorraca foram a de Barbosa, em “TV Pirata” (1988), do italiano Ernesto Gattai na minissérie “Anarquistas, graças a Deus” (1984) e do travesti Anabela em “Um sonho a mais” (1985). Na trama, aliás, fez seis papéis.

“Pensei que fosse enlouquecer. Virei o versátil da Globo. Com essa história de versátil é que dancei mesmo. Comecei a fazer de tudo: sapatear, plantar bananeira, subir, descer, fazer árvore, jacaré, vampiro. Mas é bom ser versátil. Você não fica carimbado”, afirmou.

O ator também é lembrado por seu papel na novela “Estúpido cupido”, exibida entre 1976 e 1977, na qual viveu Mederiquis, fã de Elvis Presley e líder da banda de rock Personélitis Bóis. A princípio, ele não queria o papel.

“Eu estava com 33 anos e interpretava um cara de 17. Queria abandonar, não ia mais fazer. Me botaram de peruca, todo maquiado. Quando me vi caracterizado como o personagem, falei: ‘Estou parecendo um macaco’. Falei que ficava com uma condição: ‘Quero escolher meu figurino’. Me vesti todo de preto, sem maquiagem alguma, e pedi uma lambreta preta. Batizei-a de Brigite”, contou. “Virou um grande sucesso, estourou mesmo. Fizeram história em quadrinhos, chiclete, figurinha – e eu era uma das figurinhas mais difíceis”.

Entre seus vários trabalhos para a Rede Globo, Ney Latorraca atuou em 18 novelas, seis minisséries e oito seriados. Tem ainda em seu currículo 23 longa-metragens e 13 peças. Sua última participação na Rede Globo foi no seriado “A Grande Família”, em 2011.

Ao lado de Marco Nanini, ficou 11 anos em cartaz com a peça “O Mistério da Irma Vap”, dirigida por Marília Pêra.

Início da carreira

Antônio Ney Latorraca é filho de artistas artistas: Alfredo, cantor e crooner de boates, e Tomaza, corista. Ambos trabalhavam em cassinos, até que o jogo foi proibido em todo o território nacional, e o casal se viu com muitas dificuldades financeiras. “Aprendi desde pequeno que precisava representar para sobreviver, o que nunca me deixou um trauma, pelo contrário. Sempre fui uma criança diferente das outras, tive uma história instigante. Às vezes, eu tinha que dormir cedo porque não havia o que comer em casa. Então, até hoje, para mim, estou no lucro. Minha vida é sempre lucro”, reflete. Com apenas 6 anos, fez participações na Rádio Record.

Ney Latorraca garante que “o ator já nasce ator”. E relembra com gosto seus tempos de escola para comprovar sua tese: “Na época do colégio, eu já representava. Descobri que um professor era espírita. Então, eu recebia entidades para passar de ano. Eu me jogava no chão para conseguir nota, babava. E passava. Eu era um pequeno monstrinho. Foi ali que comecei a fazer teatro”.

Aos 19 anos, ainda morando em Santos, passou em seu primeiro teste e fez Pluft, o Fantasminha, de Maria Clara Machado. A peça saiu até na Tribuna de Santos, Ney Latorraca se imaginou como um grande ator e, por conta desse sucesso, foi para São Paulo disposto a mergulhar de cabeça nas artes cênicas. Fez um teste com o diretor Plínio Marcos, no Teatro Arena. Passou, mas Reportagem de um Tempo Mau, do próprio Plínio, não chegou a entrar em cartaz: o governo militar mandou prender os atores. “Fiquei completamente arrasado, queria me matar. Voltei para Santos”, confessa.

A volta foi dura, um tempo de muito trabalho, mas acabou se revelando produtiva. Ele trabalhou em banco, em loja de roupa feminina, foi vendedor de pedra semipreciosa; mas também se matriculou na Escola de Arte Dramática e fez algumas peças. Até que foi para a TV Tupi. Fez figurações e pontas, inclusive em Beto Rockfeller, de Bráulio Pedroso: “Fiz figuração porque Lima Duarte, que dirigia a novela, não gostou de mim, falou que a minha voz era muito afetada. Fiquei fazendo ponta – pela qual não me pagaram. Quer dizer, pagaram com uma coisa chamada dinheiron, que você trocava por artigos de uma loja que só tinha roupa feminina. Troquei por duas calcinhas e um sutiã para minha mãe. A Tupi estava em decadência”.

Ney Latorraca ainda passou pela TV Cultura, depois pela TV Record, onde trabalhou por cinco anos. Ali, diz que aprendeu a fazer televisão e destaca a novela Venha Ver o Sol na Estrada, de Leilah Assumpção. “Foi uma coisa que eu considero entre as maiores loucuras da televisão brasileira, com direção de Antunes Filho, um dos maiores diretores teatrais do país”, lembra.

Na Globo

Após a estreia na Globo em 1975, e o sucesso do personagem Felipe, Ney Latorraca assinou um contrato de dois anos com a emissora. A partir dali, foram 17 novelas, seis minisséries e mais de uma dezena de seriados e especiais, incluindo um musical e um humorístico. Em Coração Alado (1980), de Janete Clair, contracenou com Vera Fischer e, com ela, interpretou a primeira cena de estupro em uma novela das oito: “Foi uma luta. Ela quem me jogava para cima e para baixo. Uma loucura. A cena ficou linda, bem marcada, uma coisa de bom gosto, não uma grosseria. Mas é claro que é um tema forte para a novela das oito. Tinha que ser a Janete. Eu acho que mexer com a sociedade é função da dramaturgia”.

Em 1984, atuou naquela que o ator consideraria uma de suas minisséries preferidas, Anarquistas, Graças a Deus, adaptada do romance de Zélia Gattai por Walter George Durst. “Eu fiz um baita sucesso, fui capa de todas as revistas. Todo mundo amava. Eu só não tinha a aprovação de Zélia. Ela era a única pessoa que não havia me falado nada. Recebi flores de todo mundo. Foi um escândalo, uma coisa emocionante, que parou o país. Até que recebi um telegrama da Zélia: ‘Se meu pai estivesse vivo, ficaria muito emocionado. Eu estou vendo meu pai no vídeo’. Chorei muito”, conta.

Um ano depois, atuou em Um Sonho a Mais, de Lauro César Muniz e Daniel Más, baseada na peça teatral Volpone, de Ben Johnson. Na trama, interpretou seis papéis: “Pensei que fosse enlouquecer. Eu gravava com todo o elenco. Anabela Freire, um dos meus personagens, virou um sucesso. Passei nove meses de salto. Virei o versátil da Globo. Com essa história de versátil é que dancei mesmo. Comecei a fazer de tudo: sapatear, plantar bananeira, subir, descer, fazer árvore, jacaré, vampiro. Mas é bom ser versátil. Você não fica carimbado”.

Um fato curioso é que foi a partir dessa experiência que o ator acabou na peça O Mistério de Irma Vap. “Vendo esse hospício, Marília Pera, que é minha madrinha, pensou em montar a peça com Nanini e eu vestidos de mulher e trocando de roupa. Na Broadway, a peça ficou em cartaz por oito meses. Aqui, 11 anos”, esclarece.

Em 1990, Ney Latorraca transferiu-se para o SBT, onde atuou na novela Brasileiras e Brasileiros, de Carlos Alberto Soffredini e Walter Avancini: “Fui com Avancini, que me chamou para lançar uma nova dramaturgia no SBT. Precisava alguém de nome. E fui. Voltei correndo, como um rato!”.

Foi nessa volta para a Globo, em 1991, que Ney Latorraca transformou sua participação especial de nove capítulos no grande sucesso de Vamp. No primeiro dia de janeiro de 1994, sua mãe faleceu, o que mexeu muito com o ator. “Minha vida deu uma parada, quase morri junto. Fiquei péssimo. Fiquei muito magro, com quase 50 kg. Nanini me convidou para fazer O Médico e o Monstro, e só aceitei para poder voltar a ensaiar”, confessa. Na época, atuou em Zazá, de Lauro César Muniz, em 1997: “Meu personagem era um vilão. Fui muito bem tratado pela imprensa, diziam que era a volta de Latorraca. Acho que era uma maneira de me agradar, porque sabiam que eu estava muito mal”

De volta ao trabalho, o ator fez várias participações em minisséries e especiais como Você Decide e Brava Gente. Também atuou em novelas como Bang Bang, de Mário Prata e Carlos Lombardi, em 2005, e Negócio da China, de Miguel Falabella, em 2008. Em 2010, voltou a mostrar sua faceta cômica em SOS Emergência, e, no ano seguinte, fez uma participação especial no seriado A Grande Família.

A veia bem humorada de Ney Latorraca veio à tona também no especial de humor Alexandre e Outros Heróis, dirigido por Luiz Fernando Carvalho, em 2013. O ator viveu um típico mentiroso do sertão na comédia adaptada de dois contos do escritor Graciliano Ramos. Alexandre (Ney Latorraca) recebia amigos para contar como ficou com o olho torto depois de cavalgar uma onça na infância. Em 2014, o ator fez uma participação especial na novela Meu Pedacinho de Chão, também dirigida por Luiz Fernando Carvalho. Viveu Cirilo, um homem chique e pai de Renato (Bruno Fagundes). Seu último trabalho em telenovelas na Globo foi em 2017, quando fez participação em ‘Novo Mundo’ como o Sir Edward Millman.

Ney Latorraca faleceu na manhã da quinta-feira (26) aos 80 anos, no Rio de Janeiro. Ele estava internado desde o dia 20 de dezembro na Clínica São Vicente, na Gávea, por conta de um câncer de próstata e morreu em decorrência de uma sepse pulmonar.

O câncer foi diagnosticado em 2019. Na época, Ney foi operado e retirou a próstata. A doença voltou em agosto deste ano, já com metástase.

Ele deixa o marido, o ator Edi Botelho, com quem era casado há 30 anos. O corpo do ator será velado nesta sexta (27) no foyer do Theatro Municipal do Rio. A despedida será aberta ao público das 10h30 às 13h30. Em seguida, o corpo vai para cremação, em cerimônia restrita à família.

(Créditos autorais reservados: https://g1.globo.com/rj/rio-de-janeiro/noticia/2024/12/26 – Globo Notícias/ RIO DE JANEIRO/ NOTÍCIA/ Por TV Globo – 26/12/2024)

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