A primeira musa juvenil do rock

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PRIMEIRA MUSA JUVENIL DO ROCK

A fantástica fábrica de estrelas. Como o canal da Disney se tornou a grande base de lançamento de novos fenômenos pop. De dia, a garota Miley Stewart não descuida de seus deveres e faz de tudo para corresponder ao amor do pai viúvo. De noite, ela leva uma vida secreta: usando uma peruca loira como disfarce, transforma-se em pop star.
Com esse argumento algo fantasioso, o seriado americano Hannah Montana virou o novo objeto de culto dos pré-adolescentes. E pôs em evidência mais uma atris e cantora juvenil: Miley Cyrus, intérprete da personagem quase homônima. Ela mal completou 14 anos e já é uma artista superpoderosa. A trilha sonora da série, na qual canta a maioria dos temas, estreou em primeiro lugar na parada americana, em novembro de 2006.
Hannah Montana é uma produção da Disney – mais precisamente, do Disney Channel. Uma década atrás, o canal pago da companhia propulsionou a carreira de nomes retumbantes como Britney Spears, Christina Aguilera e Justin Timberlake. Agora, mais que retomar essa vocação, ele vem funcionando como uma verdadeira usina de artistas-cantores. Se um dia os desenhos infantis foram um dos pilares da influência da indústria cultural americana mundo afora, em especial sobre crianças e jovens, esse papel nos últimos tempos foi assumido pelos seriados.
Desde 2001, quando foi lançada na sitcom Lizzie McGuire, a cantora Hilary Duff emplacou vários hits. Com 4 milhões de cópias comercializadas, a trilha de High School Musical – telefilme que é o musical mais bem sucedido desde Grease (1978) – foi o disco mais vendido nos Estados Unidos em 2006. Outra cria do canal, o quarteto feminino Cheetah Girls também faz sucesso com seu rhythm & blues pudico. Miley Cyrus é a mais recente amostra do “fator Disney”.
Na década de 1950, o Clube do Michey já era uma vitrine eficiente: Annette Funicello, a primeira musa juvenil do rock, despontou em seu elenco. Da última versão do extinto programa, aliás, saíram os artistas da geração de Britney e Timberlake beneficiaram-se da exposição no Disney Channel, obviamente, mas fizeram-se como cantores depois de partir para a carreira independente. Atualmente, a relação dos artístas com o canal mudou. Nos últimos anos, ele desenvolveu aquilo que a mídia americana chama de “novo sistema de estrelas” da Disney. Passou a conceber seus programas e a selecionar os protagonistas com base em pesquisas que mapeiam milimetricamente o gosto dos tweens, a garotada na faixa dos 8 aos 13 anos.
Lizzie McGuire e Hannah Montana são produto desse esforço. Trata-se de comédias amenas, cujas heroínas têm um quê de moderninhas – mas não a ponto de fugir do figurino “família” tradicional nas produções da Disney.
A carreira musical de Hilary Duff, Miley Cyrus e Vanessa Anne Hudgens, a protagonista de High School Musical, foi encampada pelo Disney Channel desde o nascedouro. O truque de marketing está em fazer com que a imagem das artistas e a de suas personagens se confundam aos olhos do público.
Escaldado com os escândalos de suas ex-estrelas, o canal redobrou os cuidados ao selecionar os novos artistas. Dá-se preferência aos adolescentes que são bons alunos e empunham a bandeira dos “valores Disney” (deixar-se flagrar sem calcinha, como fez Britney recentemente, nem pensar). Tempos atrás, Hilary Duff até se envolveu numa história do tipo que faz as delícias das revistas de celebridades, ao disputar um namoradinho com a arqui-rival Lindsay Lohan (a nada comportada musa adolescente revelada no cinema também pela Dusney e que, aos 20 anos, é notória habitué dos Alcoólicos Anônimos). No mais, contudo, Hilary se esforça para parecer santa. Teria se retirado de um show de rock ao deparar com a atriz Alicia Silverstone fumando maconha. Miley Cyrus, por sua vez, exibe a imagem de filha exemplar. Em Hannah Montana, ela contracena com seu pai de verdade, Billy Ray Cyrus, cantor country que amargava o ostracismo até descobrir essa boquinha na TV.
É claro que essa gente um dia cresce e, inevitavelmente, tem de se virar sem a Disney. A tática de sobrevivência dos artistas saídos do Clube do Michey nos anos 90 foi se afastar radicalmente de sua imagem certinha. Isso funcionou para Timberlake e Christina Aguilera, que demonstraram, em níveis diferentes, ter talento musical. Já a carreira de Britney está na UTI: ela não grava um disco de estúdio há três anos e enfrenta uma baita crise de imagem.
Hilary Duff é a primeira da nova leva a ter de se “desmamar” da Disney, uma vez que sua série acabou. Embora demonstre jeito como cantora com seu pop simpático, ainda não deslanchou no cinema. Mas é difícil imaginar que não venha a ser mais uma estrela com currículo made in Disney.

(Fonte: Veja, 24 de janeiro, 2007 – TELEVISÃO/Marcelo Marthe – Ano 40 – Nº 3 – Edição 1992 – Editora Abril)

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