Pierre Bourdieu, intervinha no debate público, mantendo a tradição francesa de Zola e Sartre.

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Pierre Bourdieu (Denguin, França 1° de agosto de 1930 – Paris, França, 23 de janeiro de 2002), sociólogo francês, era um intelectual que intervinha no debate público, mantendo a tradição francesa de Zola e Sartre. Reconhecido internacionalmente por sua visão crítica da modernidade, tem 20 livros publicados no Brasil.

Sociólogo francês Pierre Bourdieu, importante teórico do movimento antiglobalização.

Além de influenciar pesquisadores e acadêmicos nas mais diversas áreas das ciências humanas, Bourdieu, catedrático do prestigiado Collège de France, era um intelectual engajado, seguidor do caminho aberto pelo escritor Émile Zola, com sua intervenção em favor do caso Dreyfus, em seu centenário texto J”Accuse!, e aprofundado pelo filósofo Jean-Paul Sartre.

Nos últimos dez anos, Bourdieu se destacou por assumir a linha de frente do movimento antiglobalização, pelo menos no campo teórico. Sugeriu, inclusive, a criação de uma Internacional Intelectual. “O que eu defendo”, dizia já em 1992, “é a possibilidade e a necessidade da crítica intelectual; não há democracia verdadeira sem um contra-poder crítico, e o intelectual é um deles, de primeira grandeza.” Na sua opinião, a globalização – ou mundialização, como os franceses preferem – não poderia se “render às leis do comércio” e, ainda, esmagar culturas nacionais. O francês se pretendia parte da “esquerda da esquerda” – o que é diferente de extrema-esquerda – e acusava os socialistas franceses, que chegaram ao poder no início da década de 80, de destruir, em dez anos, a credibilidade do Estado e sua capacidade de ação em nome do liberalismo.

Todos os assuntos eram assunto para Bourdieu. Arte, comportamento, antropologia e filosofia faziam parte de seu repertório. Suas posições à esquerda levaram-no a ser acusado de populista e de marxista tardio. Ele não se importava e voltava ainda mais radical em suas posições.

Numa entrevista a Rita Tavares, publicada no Brasil em 1996, Bourdieu afirmava que vivíamos uma época de desigualdades crescentes: “Mesmo durante o capitalismo selvagem havia limites; contra o capitalismo, havia greves, etc. Agora, caminha-se para o capitalismo ilimitado; introduzem formas de gerenciamento antes inimagináveis. É a lógica do lucro sem limites. Isso é muito perigoso. Pode nos levar à barbárie.”

O nome de Bourdieu ganhou destaque no cenário intelectual francês em 1964, com a publicação, com Jean-Claude Passeron, de Les Héritiers (Os Herdeiros), obra que, quatro anos antes do Maio de 1968, formulava uma dura crítica do ensino superior francês e de seus privilégios. Anteriormente, havia publicado trabalhos sobre a Argélia, já indicando uma escolha para questões relacionadas ao poder e à resistência a ele.

Publicados no Brasil, dois pequenos livros de Bourdieu reforçam o papel de sociólogo engajado, que o pensador francês decidiu desempenhar especialmente depois do sucesso de público em 1993, com a publicação de A Miséria do Mundo, organizado por ele. Em Contrafogos e Contrafogos 2, Bourdieu fornece argumentos para atacar os defensores do neoliberalismo. Contrafogo é uma técnica usada para combater, justamente, o fogo: um lança-chamas direcionado a um incêndio queima o oxigênio que alimenta o fogo original, auxiliando a ação dos bombeiros. Ou seja: para Bourdieu, não é “resfriando” o capitalismo, suavemente, com jatos d”água, que o movimento social poderia fazer recuar o processo, mas usando armas semelhantes às da força globalizante: um bom início para isso seria a organização de organizações (como sindicatos, por exemplo) européias, contrapondo-se aos poderes da União Européia, especialmente da comissão, que não responde diretamente ao Parlamento Europeu. Num exemplo mais concreto ainda, Bourdieu gravou três aulas suas no Collège de France para depois transmiti-las por uma rede pública francesa – justamente para atacar a TV. Usava o veículo sem aceitar seus métodos e sua lógica, e assim nascia Sobre a Televisão (Jorge Zahar).

São cerca de 20 os livros de Bourdieu publicados no Brasil nos anos 90, por várias editoras. Entre eles, destacam-se Dominação Masculina, A Economia das Trocas Simbólicas, O Desencantamento do Mundo e As Regras da Arte. O mais recente é Meditações Pascalianas, lançado no fim do ano de 2001. Em abril de 2002, a Relume Dumará lançou Um Convite à Sociologia Reflexiva.

(Fonte: http://www.estadao.com.br/arquivo/arteelazer/2002/not20020124p2204 – CADERNO 2 – VARIEDADES – 24 de Janeiro de 2002)

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