O SEGUNDO CARRO A CIRCULAR NO BRASIL
A Peugeot, desde 1820, fabricava uma enorme variedade de produtos, de moedores de café a bicicletas. Em 1890, aproveitando a liderança no mercado ciclístico, começou a fabricar quadriciclos motorizados. A carcaça era montada na França e os motores, importados da alemã Daimler.
No ano de 1892, a produção da Peugeot foi de 28 unidades, todas de um único modelo, o Type 3, que atingia 24 km/h. Um daqueles Peugeot Type 3 foi, provavelmente, o primeiro carro a circular no Brasil, em 1893. Os importadores foram os Dumont, que entrariam para a história pelas proezas posteriores do seu membro mais ilustre, Alberto Santos Dumont, no campo da aviação civil.
Como não há nenhum registro indicando exatamente o automóvel que os Dumont compraram, existe outra versão, que menciona um carro a vapor um Daimler, de fabricação inglesa. É pouco provável, pois os carros a vapor já estavam superados em 1893 e os Dumont tinham dinheiro para comprar o melhor carro disponível na Europa.
O automóvel demorou a se espalhar pelo Brasil. Apenas a altíssima sociedade do fim do século XIX podia se dar ao luxo de possuir um e mesmo os muito ricos não demonstraram interesse imediato. Num intervalo de dez anos, entre 1893 e 1902, apenas 100 veículos seriam importados em todo o Brasil. A bem da verdade, no fim do século XIX, não havia um bom motivo para alguém querer ter um automóvel no Brasil. Em 1893, o grosso do transporte urbano ainda era feito por bondes, puxados por uma parelha de
burrinhos. E mercadorias eram transportadas por carroças, muitas delas movidas por braços e pernas humanos.
Num ambiente desses, era quase impossível dizer que um automóvel pudesse ser considerado algo necessário, ou sequer, útil.
Tanto que a chegada do segundo carro a São Paulo demoraria nada menos que cinco anos: ele foi adquirido em 1898 pela família Tobias de Aguiar, os descendentes do famoso brigadeiro Raphael Tobias de Aguiar, presidente da Província de São Paulo nos tempos do Império, e fundador da Polícia Militar paulista (as sílabas TA da sigla ROTA, a unidade de carros da polícia, são iniciais do seu sobrenome; RO é de Ronda Ostensiva). Mesmo no Rio de Janeiro, então a capital federal e maior cidade do Brasil (quase três vezes a população de São Paulo), o automóvel demoraria um tempinho para cair no gosto dos mais abonados.
Consta que o primeiro carro a circular no Rio foi um Serpollet francês de 8 cavalos, movido a vapor, e adquirido pelo farmacêutico e jornalista José do Patrocínio, em 1897. Mas esse carro entraria para a história por outro motivo, bem mais prosaico: foi com ele que ocorreu o primeiro acidente automobilismo brasileiro de que se tem notícia.
(Fonte: Revista QUATRO RODAS ESPECIALEd. Especial 0418 N.º 507B Editora ABRILO AUTOMÓVEL NO MUNDOCapítulo II -O Carro no Brasil Pág. 22/23)