Jesus Soares Pereira, economista, assessor-chefe do presidente Getúlio Vargas no seu segundo governo

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Jesus Soares Pereira (Assaré (CE), 6 de maio de 1910 – Petrópolis (RJ), 8 de dezembro de 1974), economista, assessor-chefe do presidente Getúlio Vargas, no seu segundo governo, ora como um jovem burocrata de ideias positivistas do Ministério da Agricultura – porta pela qual ingressou no serviço público, por concurso, em 1932.

Embora afastado de seu último cargo – diretor de vendas da Companhia Siderúrgica Nacional – por um decreto que lhe cassou os direitos políticos, Pereira confessa que se sentia realizado em sua carreira – e começaria tudo novamente se fosse possível.

Não são poucos os livros que têm tentado explicar o processo de modernização e industrialização atravessado pelo Brasil entre as revoluções de 1930 e 1964, e caracterizado fundamentalmente pela substituição de importações.

Nenhum deles, entretanto, pode ser comparado ao depoimento que o jornalista Carlos Medeiros Lima (1916-7 de maio de 1976), obteve do economista Jesus Soares Pereira.

Primeiro, porque Jesus assistiu a todo o desenrolar desse período de uma posição privilegiada: ele participou dos acontecimentos.

Em todas as batalhas que se travaram nessas três décadas, lá estava ele, ora como assessor-chefe, ora como um jovem burocrata de ideias positivistas.

Sem falsa modéstia, quase como um apelo aos jovens tecnocratas da atualidade, ele diz a Medeiros Lima: “Decidi dignificar minha função pública pondo-me a serviço daquilo que valia a pena fazer: e não tenho a menor dúvida em dizer que consegui isso.”

Depoimento pessoal – Esse orgulho em “fazer coisas difíceis acompanha todo o depoimento desse autodidata, um cearense nascido em maio de 1910, que nunca deixou de estudar, e incorporou seu nome a empreendimentos como a Petrobrás, a Eletrobrás, o Plano Nacional de Carvão e a Companhia Siderúrgica Nacional.

Torna-se, assim, quase impossível dissociar Jesus Pereira do desenvolvimento brasileiro – e menos ainda da economia nacional. Seu depoimento pessoal – em que narra as pressões, os bastidores, os diálogos e conselhos que ouviu de Vargas para lograr a aprovação das leis responsáveis pela criação daquelas empresas – assume um papel quase didático no momento em que o país discute a presença do Estado na economia. Onde discute-se um retorno às origens do atual modelo econômico, a partir do qual o leitor provavelmente conhecerá melhor os pontos que afloram nos debates travados no modelo econômico atual.

Não deixa de ser didático, saber que o escritor Monteiro Lobato, sem comprometimento de sua honestidade, pode ser apresentado como um empresário às portas da falência solicitando dinheiro em troca de Opeps de petróleo que jorrariam de suas escassas sondas.

Nem deixa de ser engraçado saber – principalmente lendo-se o enriquecedor prefácio de Rômulo de Almeida – que a Petrobrás poderia atualmente associar-se a capitais estrangeiros sem perda da soberania se a velha UDN, por uma questão de “oportunismo histórico”, não tivesse deturpado o projeto inicial de Jesus Soares Pereira, criando o monopólio estatal expresso na lei 2 004, de 3 de outubro de 1953.

(Fonte: Veja, 2 de junho de 1976 – Edição n.° 404 – LITERATURA/ Por Eurico Andrade – PETRÓLEO, ENERGIA ELÉTRICA, SIDERURGIA: A LUTA PELA EMANCIPAÇÃO, um depoimento de Jesus Soares Pereira tomado por Carlos Medeiros Lima – Pág; 96)

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