Oswaldo Siciliano, dono da maior rede de livrarias do Brasil. Ele conta que, nos anos 50, essas livrarias eram lugares sagrados. Os livros ficavam escondidos em prateleiras e o público era atendido em balcões, exatamente como as senhoras que entravam num armarinho para esconder tecidos. Os grandes editores visitavam suas livrarias para tomar café e conversar fiado. Naquele tempo, São Paulo tinha cerca de 1,5 milhão de habitantes, em 1996 passava dos 10 milhões. Siciliano acredita que o número de compradores cresceu numa proporção infinitamente menor.
Atacado e Varejo A empresa, fundada por Pedro Siciliano, pai de Oswaldo, em 1928, como distribuidora de jornal, progrediu devagar mas com segurança. A primeira livraria foi inaugurada na década de 40. A França, com uma população muito menor mas um público leitor infinitamente maior, põe nas livrarias 50 000 novidades por ano. É que o Brasil não tem uma população leitora compatível com o número de seus habitantes.
Em 1918, quando as livrarias no país não passavam de trinta, Monteiro Lobato, santo padroeiro dos editores brasileiros, arregaçou as mangas e foi à luta. Escreveu cartas a 1 300 agentes postais pedindo nome e endereço de bancas de jornal, papelarias, farmácias e armazéns. Com crueza notável, explicava: Quer vender também uma coisa chamada livro? Trata-se de um artigo comercial como qualquer outro, batata, querosene ou bacalhau. O conteúdo não interessa a vossa senhoria e sim ao cliente.
Monteiro Lobato, o patrono deles, cunhou duas frases célebres. Um país se faz com livros e homens. e Livros não enche barriga. Estas são as duas pontas da questão. O enredo da história continua com os pés amarrados nos tempos do criador do Jeca Tatu. Existe, no mundo todo, o chamado analfabeto funcional, aquele que sabe ler mas não entende o que lê. Calcula-se que sejam 50 milhões nos Estados Unidos e outro tanto na Europa.
(Fonte: Veja, 10 de abril de 1996 Edição n° 1439 ANO 29 N° 15 – LIVROS/ Por Geraldo Mayrink Pág; 102/103 e 104)