Carmem Velasco Portinho
Engenheira e militante feminista brasileira nascida em Corumbá, Estado do Mato Grosso, a primeira mulher formada em Urbanismo no Brasil, ativista da organização do movimento sufragista, militando em prol da conquista da cidadania das mulheres e do reconhecimento profissional das mulheres. Mudando-se muito cedo para o Rio de Janeiro, onde passou a cursar engenharia, e ainda estudante, começou a dar aulas no Colégio Pedro II (1925), apesar de ser protagonista de um verdadeiro escândalo, ou seja, uma mulher ministrar aulas em um internato masculino. Tornou-se (1926) na terceira mulher a se formar em engenheira no país e conquistou o título de urbanista (1939), após concluir curso de pós-graduação na extinta Universidade do Distrito Federal. Antes criara a criou a Associação Brasileira de Engenheiras e Arquitetas (1937) e começou a trabalhar na Diretoria de Obras e Viação da Prefeitura do Distrito Federal, onde, por ser mulher, passou por sérias discriminações para ser promovida. Como técnica de engenharia na prefeitura do Distrito Federal, permaneceu até a aposentadoria (1959), chegando a diretora do Departamento de Habitação Popular do Distrito Federal. Pouco antes do fim da Segunda Guerra Mundial (1944) recebeu uma bolsa do Conselho Britânico para conhecer as experiências realizadas na Inglaterra sobre habitação popular junto às comissões de reconstrução e remodelação das cidades inglesas destruídas pela guerra, o que lhe abriu novos horizontes.
Ao fim da guerra viajou a Paris para encontrar-se com Le Corbusier no estúdio da Rue de Sèvres recém reaberto. De volta ao Brasil, tornou-se diretora do Departamento de Habitação Popular da Prefeitura do Distrito Federal (1947). Foi fundadora do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, participou de sua construção e foi sua diretora (1952-1967). Foi assessora especial do Centro de Tecnologia e Ciência da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ). Faleceu no Rio de Janeiro, aos 98 anos, no dia 25 de julho, vítima de falência múltipla dos órgãos. Pioneira, previu a construção de Brasília 20 anos antes de Juscelino Kubischek idealizá-la. Em defesa dos direitos das mulheres propunha a não adoção do nome do marido ao se casarem e atuou na Federação Brasileira pelo Progresso Feminino desde sua fundação.
Sempre na Vanguarda
Algum tempo depois de instalado na Presidência da República por força de um golpe, em 1930, Getúlio Vargas recebeu a zoóloga Bertha Lutz e a engenheira Carmen Portinho, que reivindicavam o direito ao voto para mulheres.
O pedido foi aceito, instituído por ele em 1932 e ratificado pela Constituição de 1934. Carmen tinha menos de 30 anos e uma carreira fulgurante pela frente. Mais de meio século depois, em 1987, ela foi ao Congresso Nacional com outras 300 mulheres para entregar a Ulysses Guimarães, presidente da Assembléia Nacional Constituinte, a Carta das Mulheres. Carmen contava então com 84 anos e continuava na luta pelos direitos femininos. As vitórias conseguidas ao lado de Bertha e de outras tantas pioneiras haviam sido muitas, mas no final do século XX a desigualdade persistia e era preciso seguir na luta.
Carmen Velasco Portinho foi a terceira mulher a se formar em engenharia no país, em 1925, pela Escola Politécnica da Universidade do Brasil (atual Universidade Federal do Rio de Janeiro). Era natural de Corumbá, Mato Grosso, e mudou com os pais para o Rio de Janeiro aos 4 anos. Quando perguntada por que escolheu engenharia, uma profissão então procurada apenas por homens, ela dizia que o fez por motivos práticos. Filha mais velha entre nove irmãos, Carmen desejava a independência financeira. Naquele tempo, todos os que se formavam em engenharia arranjavam trabalho, contou em entrevista à revista Ciência Hoje, em 1995. Ela acertou na mosca: começou a trabalhar na Diretoria de Obras e Viação da prefeitura carioca, no ano seguinte.
Antes de mergulhar no trabalho, ela já tinha uma trajetória de defesa da cidadania da mulher. Quando era muito jovem, com 15 anos, Carmen pegava carona em precários aviões para jogar panfletos feministas sobre o Rio, conta a arquiteta Ana Luiza Nobre, autora de Carmen Portinho O moderno em construção (Relume Dumará e Secretaria Municipal de Cultura do Rio). Em 1922, também com menos de 20 anos, fundou a Federação Brasileira pelo Progresso Feminino com Bertha Lutz, Stela Guerra Duval, Maria Amália Bastos.
Em 1931, elas organizaram o II Congresso Internacional Feminista, ao final do qual Bertha e Carmen redigiram, assinaram e encaminharam a Vargas um documento sobre os direitos das mulheres. Antes, em 1929, Carmen havia fundado a União Universitária Feminina e posteriormente, em 1937, a Associação Brasileira de Engenheiras e Arquitetas.
Como profissional de engenharia ela não ficou atrás. Em 1936 criou o anteprojeto para a futura capital do Brasil no Planalto Central e foi a primeira mulher a receber o título de urbanista no Brasil, pela extinta Universidade do Distrito Federal, em diploma assinado por Mário de Andrade. Nos anos 1940 chefiou o Departamento de Habitação Popular para traçar um plano de acomodação dos funcionários públicos em apartamentos funcionais, perto do emprego. Dessa proposta saiu o projeto do conjunto do Pedregulho, no Rio. O arquiteto da obra, elogiada em todo o mundo, foi Affonso Eduardo Reidy, companheiro de Carmen.
Na época, não era incomum algumas feministas evitarem o casamento formal como um modo de afirmar suas convicções, embora não se possa dizer com certeza que era essa a intenção de Carmen. Foi Reidy quem também projetou o prédio do Museu de Arte Moderna do Rio, nos anos 1950, do qual ela foi diretora. Na década seguinte, a engenheira passou a dirigir a Escola Superior de Desenho Industrial e lá ficou entre 1967 e 1988.
Carmen morreu em 2001, aos 98 anos. Não teve filhos, mas adotou informalmente uma enina de 6 anos, filha de sua irmã, morta precocemente por coincidência, também chamada Carmen, irmã da atriz e cineasta Ana Maria Magalhães, autora do documentário Lembranças do futuro, sobre Reidy, de 2004.
(Fonte: http://www.dec.ufcg.edu.br/biografias/CarmVPor)(Fonte: http://www.revistapesquisa.fapesp.br)
(Fonte: http://www.lencoisnoticias.com/links-interessantes/35-biografias-nacionais/240)