Jorge Rafael Videla (Mercedes, 2 de agosto de 1925 – Buenos Aires, 17 de maio de 2013), ex-ditador argentino que governou o país entre 1979 e 1981.
Ex-general cumpria pena perpétua por crimes contra a humanidade.
Biografia
Nascido em 2 de agosto de 1925 na cidade de Mercedes, no seio de uma família com forte marca política, Videla começou sua carreira militar em 1942.
Após se licenciar como oficial, chegou em sua carreira à sombra do governo da presidente María Estela Martínez de Perón, terceira esposa do três vezes governante Juan Domingo Perón. Em 1975, foi nomeado comandante em chefe do Exército.
Em 24 de março de 1976, junto com os oficiais Emilio Massera e Orlando Agosti, liderou o golpe de Estado que derrubou a presidente e abriu passagem para uma ferrenha ditadura de sete anos.
Videla suspendeu a Constituição, proibiu os partidos políticos e instituiu a censura nas rádios e televisões.
O general governou aliado ao grupo civil chamado “os Chicago Boys” e deu todo o poder administrativo a um economista de uma família da aristocracia “crioula” (espanhóis nascidos na América), José Martínez de Hoz, admirador do Prêmio Nobel Milton Friedman.
Por ordem sua e dos generais, automóveis sem patente e com comandos encapuzados sequestravam militantes e os levavam para torturá-los nos cerca de 500 centros clandestinos de detenção distribuídos em todo o país.
Fotografias e vídeos no YouTube o relembram em dois momentos chave: ao entregar em 1978 a taça da Copa do Mundo de futebol para a seleção argentina, em um torneio disputado no país, e quando deu um abraço forçado ao ditador chileno, Augusto Pinochet, após a mediação do Vaticano que impediu uma guerra fronteiriça naquele mesmo ano entre os dois países.
Videla ordenou ainda a queima de livros em um terreno baldio na localidade de Sarandí, na periferia ao sul da Argentina. Na ocasião, mais de 1,5 milhão de preciosas obras do Centro Editor da América Latina (CEAL) foram destruídas.
Em seu governo, a Argentina se alinhou aos Estados Unidos, mas teve atritos com o então presidente democrata James Carter, cujo governo criticou as violações aos direitos humanos, e também por ter ignorado o embargo de cereais contra a União Soviética em razão da pressão dos influentes exportadores agrícolas argentinos.
Sem carisma nem aspirações políticas, o ex-general interveio na Suprema Corte para nomear juízes submetidos ao seu capricho e instalou um plano econômico de altas taxas de câmbio que ficou conhecido na história como “la plata dulce” (prata doce, em português) que permitia os argentinos viajar cheios de dólares a Miami e comprar inúmeros eletrodomésticos.
Em 1981, cedeu o poder a Roberto Viola para começar uma lenta transição à democracia, mas o general Leopoldo Galtieri deu um golpe palaciano e desencadeou a triste história da guerra das Ilhas Malvinas contra a Inglaterra, em 1982.
“Como fiz antes, quero manifestar que este tribunal carece de competência e jurisdição para me julgar pelos casos protagonizados pelo exército na luta contra a subversão”, disse, ao depor em um julgamento sobre o Plano Condor, a coordenação da repressão das ditaduras do Cone Sul .
Videla enfrentava os juízes civis desde 1985, quando, dois anos depois do fim da da ditadura, foi condenado à pena máxima no histórico julgamento das Juntas Militares.
Após ser julgado nessa ocasião, o ex-ditador recebeu, do presidente Carlos Menem, um indulto nos anos 1990 e, após algumas detenções intermitentes, voltou a cumprir pena sob regime domiciliar em 2007, assim que o falecido ex-presidente Néstor Kirchner impulsionou a reabertura dos julgamentos dos repressores.
Em 2008 foi revogada a prisão domiciliar e Videla foi transferido para o presídio Marcos Paz.
Videla também foi condenado a 50 anos de prisão pelo plano de roubo de bebês durante a ditadura.
Quase 500 crianças foram roubadas por militares, policiais ou outras pessoas durante o regime militar, de acordo com a organização Avós da Praça de Maio, cuja ação permitiu que 108 delas descobrissem sua verdadeira identidade.
Preço a pagar
Em entrevista recente ao jornalista Ceferino Reato, para o livro “Disposición Final” (Disposição Final), Videla disse que as atrocidades cometidas pelos militares eram “o preço a pagar” para ganhar o que chamou de “a guerra” contra grupos de esquerda.
O general reformado disse que, na avaliação dos militares, era necessário que a repressão ocorresse discretamente “para que a sociedade não se desse conta”.
“Por isso, para não provocar protestos dentro e fora do país sobre a campanha, se chegou à decisão de que essa gente tinha que desaparecer”, argumentou o ex-ditador.
Após a publicação do livro, Videla criticou que sua confissão havia sido mal interpretada, mas Reato, que não teve autorização para gravar as entrevistas, afirmou que as anotações foram lidas e aprovadas pelo entrevistado antes de sua publicação.
As sentenças contra ele revelaram a existência de um “plano sistemático de eliminação de opositores”, segundo a justiça argentina, como ativistas políticos, sindicalistas, estudantes, movimentos sociais, religiosos da Teologia da Libertação, artistas e intelectuais, milhares deles desaparecidos.
Desmantelados os grupos armados, isolados e sem apoio popular, a repressão continuou com militantes, amigos e suspeitos, parentes e familiares.
Foram vítimas da repressão as freiras francesas Alice Domon e Leonie Duquet, o bispo católico Enrique Angelelli, do movimento de sacerdotes do Terceiro Mundo, a estudante sueca Dagmar Hagelin, os comitês sindicais de companhias montadoras como Ford e Mercedes Benz e até diplomatas do próprio regime, como Elena Holmberg e Héctor Hidalgo Solá.
Diferente do que ocorreu com outros ditadores, como o paraguaio Alfredo Stroessner e o chileno Augusto Pinochet, Videla careceu de partidários, e nenhum partido político o apoia na Argentina atualmente, com exceção de minúsculos grupos de ex-militares ou seus familiares.
Em seu auge, Videla media 1,80 metro, era sempre muito magro, de rosto fino, grandes olhos escuros, bigode espesso e cabelo engomado em estilo antiquado.
Ele lia os discursos com voz grave e estridente, mas um sorriso nervoso fazia latejar suas maçãs do rosto em público, enquanto costumava esfregar as mãos em gesto de desconforto ao ser confrontado com uma vida política de relações sociais fora da severa rotina de um quartel.
Prisão e ostracismo
Condenado a duas penas de prisão perpétua por crimes contra a humanidade cometidos durante o seu período à frente da ditadura argentina (de 1976 a 81), ele estava encarcerado na prisão comum de Marcos Paz, num subúrbio a 45 quilômetros a oeste da capital Buenos Aires.
Ele vivia no ostracismo, escrevia suas memórias e rezava ao lado de uma modesta cama debaixo de um crucifixo, com quase nenhuma conexão com o mundo exterior.
Videla morreu sem demonstrar arrependimento pelos crimes cometidos contra os opositores durante a ditadura.
Por meio do terrorismo de Estado, o governo militar buscou aniquilar a oposição e os grupos guerrilheiros que então estavam se retirando, após anos de violência.
O sequestro, tortura e assassinato das vítimas, cujos corpos eram logo enterrados clandestinamente ou lançados ao mar, tornaram-se procedimentos comuns dos agentes da ditadura.
Além das condenações, Videla havia sido destituído de seu cargo militar pela justiça civil, decisão que nunca reconheceu.
Em sua última aparição pública, na terça-feira da semana passada, ele disse que não reconhecia o tribunal que o julgava pelo que chamou de “luta antisubversiva” durante os anos de chumbo, que deixaram até 30 mil desaparecidos no país, segundo grupos de defesa dos direitos humanos.
Jorge Rafael Videla morreu em 17 de maio de 2013, aos 87 anos, de causas naturais, em Buenos Aires. Ele foi “encontrado em sua cela sem pulsação nem reação das pupilas. Um ECG (eletrocardiograma) foi realizado e constatou o óbito, às 08h25 do dia de 17 de maio”, afirma o boletim médico.
(Fonte: http://g1.globo.com/mundo/noticia/2013/05 – MUNDO – Do G1, em São Paulo – 17 de maio de 2013)
(Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/mundo/2013/05/1280211- MUNDO – SYLVIA COLOMBO DE BUENOS AIRES – 17 de maio de 2013)