TECNICA REPRODUTIVA REVELADA AO MUNDO É PIONEIRA

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TECNICA REPRODUTIVA REVELADA AO MUNDO É PIONEIRA

Sem pai e duas mães
Camundongo nascido a partir de dois óvulos não ameaça – ainda – o papel masculino na reprodução humana, mas a técnica que o gerou pode ajudar a curar doenças.
Os homens não precisam entrar em pânico – ainda. A técnica reprodutiva revelada ao mundo na semana passada, que possibilitou o nascimento de Kaguya, um camundongo filho de duas mães e nenhum pai, ainda está longe de ameaçar o papel masculino na geração da vida humana.
Conforme especialistas, a principal aplicação da descoberta será o combate a doenças genéticas e a produção de tecidos especializados para transplantes.
A diretora do Centro de Estudos do Genoma Humano da Universidade de São Paulo (USP), Mayana Zatz, afirma que no momento não há perspectiva de a técnica desenvolvida para gerar um embrião a partir de dois óvulos, sem fecundação por espermatozóide, ser aplicada na reprodução humana.
– Foi necessário criar mais de 450 embriões para que apenas um vingasse. Não há como fazer isso em um ser humano – justifica a especialista.
Em uma fecundação normal, há genes que são forçados a ficar inativos no espermatozóide, enquanto permanecem ativos no óvulo, e vice-versa (fenômeno chamado “imprinting”, ou marcação). Esse processo, que evita que dois genes iguais fiquem ambos ativos ou inativos no embrião, é fundamental para o seu desenvolvimento saudável. Porém, algumas espécies de répteis e anfíbios, por exemplo, têm a peculiar capacidade de se reproduzir a partir de um óvulo não fecundado – o que se chama partenogênese.
Entre os mamíferos, a parentogênese era considerada impossível até a semana passada. O que um grupo de cientistas japoneses fez foi tomar o óvulo de um camundongo fêmea mutante, em que o gene H19 estava ausente – deixando-o, por isso, semelhante a um espermatozóide (onde este gene fica inativo). Esse óvulo “masculinizado” foi unido a um segundo óvulo, em estado natural.
Os cientistas constataram que a ausência do H19 ativa um gene fundamental para o desenvolvimento do embrião, chamado IGF2, que é herdado do espermatozóide e fica inativo nos óvulos. Assim, com os dois genes ativos graças à mutação genética, o embrião consegue se desenvolver.
Em tentativas anteriores, em que esse processo não foi feito, óvulos isolados eram estimulados a se transformar em embriões por meio de choques elétricos e substâncias químicas. Porém, como o IGF2 não estava ativo, eles morriam em poucos dias.

(Fonte: Jornal Zero Hora – 26 de abril de 2004 – Edição nº 14127 – Genética – MARCELO GONZATTO)

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