Jacques Brel, cantor, compositor, ator e diretor de cinema belga.

0
Powered by Rock Convert

Brel: encarnação da alma francesa

Jacques Brel (Bruxelas, 8 de abril de 1929 – Bobigny, 9 de outubro de 1978), cantor, compositor, ator e diretor de cinema belga.

Filho de rico industrial belga, Brel nasceu em Bruxelas em abril de 1929. Chegou até a trabalhar na fábrica de papelão da família, mas só até comprar, em 1950, a primeira guitarra, na mesma época em que se casou com Thérèse. Em maio de 1953, enviou ao empresário francês Jacques Canetti um disco que gravara por sua própria conta. Em paris, Canetti ouviu o disco em companhia de Georges Brassens e à meia-noite telefonou para Bruxelas convidando Brel a apresentar-se na França. Brel abandonou tudo em Bruxelas para cantar na boate parisiense Les Trois Baudets, enfrentando o público com um terno quadriculado e um bigode ridículo.

Foi um fiasco, mas Canetti e Brassens insistiram em que ele continuasse tentando. Pouco a pouco o público francês começou a acostumar-se com aquela figura magra, vagamente a lembrar dom Quixote, com versos de exaltação à mulher e de condenação à guerra.

Mas Brel “estourou” mesmo em 1959, num music-hall em que se apresentou com o conjunto negro Delta Rhythm Boys. Então ele foi imediatamente reconhecido não só como cantor e poeta mas como verdadeiro porta-voz da alma popular francesa, embora fosse belga.

Vieram os êxitos: “La Valse aux Mille Temps”, “Les Flamandes”, “Mathilde”, “Les Amants”, “Les Vieux”. Tornou-se ao mesmo tempo amado pelos intelectuais e pelo povo.

Foi quase um década de triunfos contínuos. Até que há doze anos fez seu último show, encerrando prematuramente a carreira até hoje não se sabe se por já sofrer de câncer no pulmão ou se por pretender uma vida mais simples. O fato é que Brel continuou a compor música para filmes, atuou em teatro na comédia “Dom Quixote de La Mancha”, fez filmes como ator e – como diretor – “Franz”, a história de um amor entre um homem e uma mulher já quarentões, um hino de amor à Flandres e à Bélgica natal.

Numa de suas raras unanimidades nacionais, a França inteira era apaixonada por Jacques Brel e se reconhecia em sua voz forte, seus versos em que cantava o amor e a paz. Por isso, a propósito de sua morte, prestaram à imprensa depoimentos comoventes pessoas tão disparatadas quanto o secretário geral da Confederação Geral dos Trabalhadores, Georges Séguy (“Os trabalhadores, qualquer que seja sua idade, tinham a mais viva admiração pelas obras de Jacques Brel.

Nelas reencontravam, presente com uma imensa preocupação pela beleza, pela poesia e pelo rigor, um eco de suas vidas de homens e mulheres, na qual os problemas humanos cotidianos, as penas de cada um se misturavam aos grandes desejos de todos”) ou o cantor Georges Brassens (“Eu não creio que el esteja morto. Quando se ama as pessoas, elas morrem, certamente, quer dizer elas se ausentam um pouco. Jamais morreu ninguém que eu amei. Brel, será fácil papa mim e para seus amigos fazer reviver. Será preciso apenas ouvir seus discos. É uma espécie de ausência que vai começar”).

Já acometido da doença fatal, sabendo que iria morrer de câncer, Brel dedicou uma canção à moléstia incurável. Enquanto uma peça musical americana fazia sucesso no mundo inteiro sob o título “Brel Está Vivo e Passando Bem em Paris”, o cantor se recolhia às ilhas Marquesas, no Pacífico Sul. Somente saiu de lá ir a Paris no fim de 1977 para gravar seu último disco e, em julho último, para morrer. A revista Paris-Match fotografou-o nesse estado, inclusive com todo o rosto envolto em ataduras por causa das deformidades produzidas pelas injeções – e os advogados de Brel, em setembro, conseguiram obter a apreensão da revista. Foi a última homenagem que se prestou a Brel em vida.

Jacques Brel faleceu em 9 de outubro de 1978, aos 49 anos, de embolia pulmonar, no Hospital Franco-Muçulmano de Bobigny, perto de Paris.

(Fonte: Veja, 18 de outubro de 1978 – Edição 528 – DATAS – Pág: 146)

Powered by Rock Convert
Share.