Armênio Guedes, assessor rebelde de Prestes e do PCB durante 4 décadas

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O comunista cujo “dogma” é a liberdade

Armênio Guedes, assessor “rebelde” de Prestes e do PCB durante 4 décadas

Armênio Guedes, jornalista e um comunista histórico, que mesmo nos tempos mais ortodoxos do partido, lutava pela democracia. “Eu era comunista, mas também era pela liberdade”, afirmou.

Armênio Guedes foi secretário particular do Luiz Carlos Prestes, com quem sempre teve posições antagônicas. “Quando a anistia foi concedida pelo Getúlio, eu fui designado pelo partido para esperar o Prestes na casa aonde ele ia se hospedar”, comentou.

Era comum entre comunistas, no século XX, debater o “caminho democrático para o socialismo”. Armênio Guedes, que militou no Partido Comunista Brasileiro de 1938 a 1983, propunha outro plano: o do “caminho democrático para a democracia”.

Entre 1945 e 1983, Armênio viveu como assalariado do Partido Comunista – do “ouro de Moscou”, como ele lembra, brincando – e se especializou em espalhar jornais e revistas pelo Brasil: “Seiva”, “Revista Continental”, “Tribuna Popular”, “Estudos Sociais”, “Novos Rumos”, “Voz Operária”, entre tantos títulos, até a “Voz da Unidade” nos anos 1980. Na direção do PCB, foi suplente, entre 1943 e 1954, do Comitê Central (CC), de onde foi afastado por “atitudes antissoviéticas”. Voltou para o CC em 1967, para organizar o partido no exílio, com sua primeira mulher, Zuleika Alambert.

No desenrolar do confronto dessas personalidades tão diferentes. Mas o embate era também de valores. O principal deles, do qual Armênio não abria mão, “era a noção de liberdade, mais compatível com o regime democrático”. Isso poria Armênio em conflito permanente com Prestes.

O embate ficaria mais agudo nos anos 1970. Naquela época o mundo era dividido, grosseira e rigidamente, em dois blocos: o capitalista e o comunista. Os comunistas costumavam associar o conceito de democracia ao qualificativo burguesa, como se democracia fosse um modo de dominação inerente ao capitalismo. Depois da queda do Muro de Berlim, em 1989, a divisão do mundo se esfumaçou, junto ao bloco comunista. E o ideal da democracia se espalhou pelo mundo. Sem adjetivos, como esperança universal.

Antes, porém, que a primeira pedra rolasse da muralha alemã, intelectuais europeus haviam começado a desmontar a barreira ideológica entre democracia e comunismo. Na vanguarda, os italianos de Enrico Berlinguer (líder do PCI) arriaram a bandeira “rossa” e hastearam a da esquerda democrática. Outros partidos europeus seguiriam o mesmo caminho.

Os ventos dessa mudança foram captados na Europa e trazidos para o Brasil pelo militante Júlio ou André ou tantos outros nomes que Armênio Guedes adotou durante 48 anos de militância.

A diferença entre as duas ideias é o eixo central do livro Armênio Guedes – Sereno Guerreiro da Liberdade, que o jornalista Sandro Vaia, ex-diretor de Redação do Estado, lançou em 18 de junho de 2013, na unidade da Livraria da Vila na Alameda Lorena, em São Paulo.

“A democracia é um valor permanente, e não é o fim da História”, justifica o baiano Armênio, apreciador de vinhos, jazz e música erudita, em seu apartamento na região central de São Paulo.

Mas, como revelam o livro, essa não é a única discordância entre o militante de quatro décadas do Partidão e seus camaradas. Armênio passou a vida criticando a rigidez do stalinismo, o personalismo do líder Luiz Carlos Prestes, a Intentona de 1935, a adesão ao golpismo de João Goulart em 1964, mas principalmente a falta de diálogo no PC.

Marighella era para ele uma figura fascinante, “mas politicamente um desastre”. João Amazonas, um “dromedário do comunismo”. Em Moscou, nos anos 50, vendo a adoração por Stalin, ele achava “meio chata aquela história de pai dos pobres”. Botafoguense fanático, era um raro comunista que, num jogo Brasil e URSS, torcia pelo Brasil.

Era previsível, assim, sua saída do partido em 1983, de um modo banal: pegou o salário, saiu sem dizer nada e foi ao cine ma. Não voltou. “Ele tinha uma visão absolutamente antitotalitária dentro do partido. Ficou porque não tinha alternativa”, resume, no livro, seu colega de exílio José Serra.

Armênio levou consigo sua marca de homem “manso, sereno”, mas “firme, irremovível”, como o descreve Ferreira Gullar. Ao fim de longas conversas com seu biografado, Vaia faz de sua história um fio condutor para expor o grande conflito vivido pela esquerda desde sempre, entre autoritarismo e liberdade.

(Fonte: http://www.estadao.com.br/noticias/impresso,o- POLÍTICA – Notícias – Política/ Por GABRIEL MANZANO – O Estado de S.Paulo – 16 de junho de 2013)
(Fonte: http://portal.pps.org.br/portal/showData/250700 – Respeitosa discórdia/ Por Diógenes Botelho – 14/06/2013)

Ricardo Lessa, autor de “Brasil e Estados Unidos, o Que Fez a Diferença”, é jornalista e assessor de imprensa da Amcham Brasil

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