Marcos Farias, cineasta catarinense
Morto em 1985, Farias que nasceu em 1932 em Campos Novos participou do Grupo Sul e dirigiu, no Rio de Janeiro, um episódio de Cinco vezes favela, o filme que praticamente inaugurou o Cinema Novo, nos anos 60.
Eglê Malheiros e Salim Miguel foram parceiros de Marcos Farias nos tempos do Grupo Sul e, mais tarde, nos filmes A cartomante e Fogo morto, cujos textos originais (de Machado de Assis e José Lins do Rego, respectivamente) transformaram em roteiro cinematográfico.
O catarinense Marcos Farias (Campos Novos (SC), 1932-1985) teve sua carreira um tanto obscurecida pelo brilho de outros diretores do Cinema Novo. No entanto, participou como poucos do movimento e de seus desdobramentos. Para repor o personagem em seu contexto, Cesar Cavalcanti coordenou em Florianópolis, em fins de 2007, o projeto Marcos Farias, Olhar de um Cineasta, composto de uma exposição, uma retrospectiva de filmes e um documentário.
Nesse último, Cesar e sua mulher, Janete Moro, fizeram um inventário das múltiplas intercessões entre a carreira de Marcos Farias e o cinema brasileiro. Ex-contista, crítico, produtor e diretor, Farias já vivia no Rio de Janeiro quando o CPC da UNE acionou a câmera em Cinco Vezes Favela (1962). A ele coube dirigir o episódio Um Favelado, em que o personagem de Flávio Migliaccio tenta sair da miséria e acaba no xilindró. Pena que Cesar não teve recursos para telecinar o curta O Maquinista, de 1958, que situou Farias como um dos predecessores do cinemanovismo.
Em compensação, há trechos de Fogo Morto, A Cartomante, Cruz e Souza Evocação (feito em Florianópolis, em 1982) e do raro A Vingança dos 12, parte de um curioso projeto da Saga Filmes de adaptar clássicos universais ao alfabeto do cangaço em 1970. O filme de Marcos foi inspirado em Carlos Magno e Os Doze Pares de França, enquanto o Faustão de Eduardo Coutinho bebia na taça do Fallstaf de Shakespeare.
Nos depoimentos de colegas como Coutinho, Nelson Pereira dos Santos, Cacá Diegues, Miguel Borges, Paulo Cesar Saraceni e de Ângela Leal, aparentemente sua atriz favorita, Marcos Farias surge como um profissional culto, comedido, racional, com vocação de gestor mas também como alguém tocado pela síndrome do cineasta rejeitado (nas palavras de Augusto Salvá). Uma coisa é certa: ele fazia cinema para mudar a sociedade, o que pode frustrar mais que satisfazer quem não estiver preparado para lidar com utopias.
Entre os bons momentos do doc, a atriz Isabella conta como iniciou a carreira exigindo uma personagem sem falas em Um Favelado. Coutinho, por sua vez, narra o divertido episódio da perda de uma bolsa a tiracolo com todo o dinheiro da produção de um filme do amigo.
Enquanto Cesar Cavalcanti procura meios de difundir Olhar de um Cineasta em outros estados, a exposição continua aberta ao público de Florianópolis, no Centro Integrado de Cultura, até 22 de janeiro. A curadoria é de Patrícia Farias, filha de Marcos, e Maria Clara Borges Feigenbaum.
(Fonte: http://oglobo.globo.com/blogs/docblog/posts/2008/01/19 – Enviado por Carlos Alberto Mattos – 19.1.2008)
(Fonte: http://noticias.ufsc.br/2008/09 – Obra do cineasta catarinense Marcos Farias / Por Paulo Clóvis Schmitz / Jornalista na Agecom – Publicado em 15/09/2008)