José Maria Alkimim, chegou à vice-presidência da República no governo Castello Branco

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Alkmin: político de muitas lendas

José Maria Alkimim (Bocaiúva, 11 de junho de 1901 – Belo Horizonte, 22 de abril de 1974), foi líder de Juscelino na Câmara, influente ministro da Fazenda no governo JK, vice-presidente no governo Castello Branco.

Político brasileiro de uma carreira tão prodigiosa quanto as centenas de histórias que se contam a seu respeito: de menino pobre, entregador de telegramas em sua cidade natal, a mineira Bocaiúva, chegou à vice-presidência da República no governo Castello Branco.

Sem nunca ter sido dono de grande fortuna, em dinheiro ou em votos, permaneceu mais de quarenta anos no primeiro plano da política nacional, quase sempre ao lado dos governos, mas não recusando seu lugar na oposição, quando necessário.

Expoente de uma geração de políticos nascida com a Revolução de 1930, que herdou dos derrubados luminares da República Velha os maneirismos e as habilidades mas não a arrogância, Alkmin reuniu, em seu sepultamento, uma circunspecta e variada multidão, que incluía as freiras da Santa Casa de Misericórdia, de que foi provedor dedicado e eficiente durante mais de trinta anos, o representante do presidente da República, ministro Armando Falcão, seu companheiro de PSD e de Ministério no governo Kubitschek e o governador mineiro Rondon Pacheco. O ex-vice-presidente da República, Pedro Aleixo, antigo companheiro de escritório de advocacia e adversário de toda vida, fez-lhe o elogio: “Foi um dos maiores vultos da política brasileira.” Em Brasília, o presidente do MDB, deputado Ulysses Guimarães, como ele oriundo do PSD, manteve o tom: “Foi um homem que se transformou numa legenda.”

O técnico e o político – À beira da sepultura, Juscelino Kubitschek não disse nada. Chorou, apenas. Foram companheiros de escola e de correio, e surgiram juntos para a vida pública trazidos pelas mãos do não menos lendário Benedito Valadares, quando se tornou governador de Minas Gerais, em 1934, por escolha pessoal de Getúlio Vargas.

Alkmin foi sobretudo um especialista em política, e graças a isso mostrou-se administrador competente em todos os cargos que ocupou. Secretário do Interior de Valadares, idealizou a reforma do sistema penitenciário mineiro, construindo a Penitenciária de Neves, de que foi ser o primeiro diretor, ao deixar a Secretaria.

No Ministério da Fazenda, foi um estudioso dos sistemas cambiais e sem dúvida ajudou a criar a mística do desenvolvimentismo que caracterizou o governo Kubitschek. Em junho de 1973, ao assumir o seu último mandato de deputado, depois de hesitar dois meses (a saúde não estava boa), apresentou com o eterno sorriso nos lábios a receita de seu sucesso: “O técnico só é bom quando serve bem ao político. É este que lhe deve dirigir os passos.”

Inventário modesto – No entanto, a alegria de seu retorno à vida parlamentar acabou não se justificando. Numa época em que os técnicos se mantinham a prudente distância dos políticos, e estes estavam bem afastados do poder, não havia nos frios corredores do Congresso ocupação para sua febril capacidade de articulação. Nunca o confessou, mas é provável que considerasse terminado o tempo de sua geração, e por isso dedicou seus últimos esforços à Santa Casa, um amor de toda a vida. No imenso cipoal de histórias espirituosas que esconde sua vida pública, talvez seja impossível levantar um razoável inventário de suas ideias e de seus feitos. O inventário de seus bens, contudo, é simples. Depois de quarenta anos no exercício dos mais importantes cargos na administração pública, deixa a casa onde morava, em Belo Horizonte, e um apartamento modesto, no Rio de Janeiro.

Depois de 51 dias de internamento no Hospital São Lucas, em Belo Horizonte, vítima de trombose cerebral, morreu em 22 de abril de 1974, aos 72 anos, pondo fim a uma carreira prodigiosa.

(Fonte: Veja, 1° de maio de 1974 – Edição 295 – MEMÓRIA – Pág; 25)

 

 

 

 

FOLCLORE POLÍTICO

Os modernos anais do folclore político têm farta contribuição do ilustre mineiro José Maria Alkmim a quem inclusive se atribui a responsabilidade de muitas anedotas. Por exemplo, aquela em que Alkmim pergunta a um importante cabo eleitoral como vai indo o seu pai. “Já morreu há alguns anos”, responde encabulado o cidadão. Sem perder a linha, o “gaffeur” teria rebatido: “Morreu para você, filho ingrato. Para mim permanece vivo no meu coração”.

Tão hábil, esperto e embromador era Alkmim que até o chamavam de “a raposa prateada”. Fez uma bela carreira. Foi líder de Juscelino na Câmara, influente ministro da Fazenda no governo JK, vice-presidente no governo Castello Branco. Bem-educado, de conversa afável, prometia sempre uma solução favorável ou esperançosa para os pleitos que lhe eram levados.

Já procedia assim desde o tempo que dirigia a Penitenciária das Neves, em Belo Horizonte. Conta-se que em certa ocasião, ao examinar a lista dos detentos, viu um nome que lhe era familiar. Mandou chamar o preso e chega um jovem dos seus 23-24 anos. Alkmim pergunta: “Você é filho de João Dias, de Diamantina?”. “Sou sim, doutor”, respondeu o jovem e acrescentou: “Fui condenado a cinco anos de reclusão por dar uma facada na minha namorada. Tive uma crise de ciúmes”.

Com a sua fértil e célere imaginação, e condoído com a sorte do rapaz, Alkmim teria dito que ia procurar uma forma de amenizar a sua pena. Logo apanhou papel e lápis e começou a fazer as contas para o condenado, assim explicando: “Como você sabe, o ano tem 365 dias e cinco anos são 1825 dias. Nos cinco anos, há 260 domingos, quando ninguém faz nada. Nos sábados trabalha-se apenas meio-dia -são 130 sábados.

Na sua idade, você tem que dormir no mínimo oito horas por dia, e cinco anos representam 608 dias dormindo. Durante cinco anos temos algo em torno de cem dias feriados, entre federais, estaduais e municipais. Você soma 260 + 130 + 608 + 100 e totaliza 1098 dias. Pegue os 1825 dias e deles retire 1098 e você chegará ao total de 727 dias. Dividindo esse resultado por 30 sobrarão 24 meses, ou seja, somente dois anos de prisão…”.
O condenado sorriu e suspirou aliviado. Embromado, mas feliz.

(Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/fsp/brasil – BRASIL – FOLCLORE POLÍTICO – Consolo penal / Por AUGUSTO MARZAGÃO – São Paulo, 13 de setembro de 2002)

AUGUSTO MARZAGÃO, jornalista, autor do livro “Memorial do Presente”, ex-secretário particular dos presidentes Jânio Quadros e José Sarney e ex-secretário de Comunicação Institucional do presidente Itamar Franco

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