Jacques Lartigue (13 de junho de 1894 12 de setembro de 1986), fotógrafo francês, foi um mestre da composição engenhosa e, sobretudo, dos flagrantes do movimento. Antes dele, nada se fez de parecido.
Lartigue começou a fotografar com 8 anos, graças ao estímulo do pai, um negociante abastado e entusiasta das transformações tecnológicas de seu tempo. No castelo da família, ele e seu irmão, Zissou, se dividiam na tarefa de abraçar tais inovações.
Enquanto o mano atacava de inventor, Lartigue ia coletando imagens de tudo. Sua precocidade impressiona: ele produziu boa parte de suas fotografias famosas entre a infância e a adolescência.
Mesmo depois de adulto, a principal atividade de Lartigue continuou a ser o ócio criativo. Contam-se nos dedos de uma mão os dias em que ele trabalhou na vida.
Chegou a atuar nos bastidores de uma produção de cinema, mas logo se aborreceu. Embora se visse como pintor, sua produção era menor, e ele ganhou só umas migalhas com a atividade. Enquanto isso, encarava a fotografia apenas como um passatempo. Colava suas imagens (deixou um total de 45.000) em álbuns com o intuito de divertir os amigos após os jantares. Ele foi um amador genial.
A descoberta de seu talento foi tardia. Mas até nisso Lartigue foi afortunado. Nos anos 1960, quando a renda do bonvivant declinava, ele mostrou suas pequenas fotos a um especialista americano, que topou dar uma espiada só por educação e teve o choque de descobrir um tesouro guardado por seis décadas. Após ser apresentado ao mundo e tornar-se próximo de fotógrafos como o americano Richard Avedon, Lartigue alcançou a fama e viveu de seu antigo passatempo até morrer, em setembro de 1986, aos 92 anos. Não fosse pelo momento de descoberta nos anos 60, talvez ele tivesse terminado seus dias de forma amarga. Na vida de Lartigue, assim como nos carrões de suas fotos, a roda nunca parou de girar.
(Fonte: Veja, 19 de junho de 2013 – ANO 46 – Nº25 – Edição nº 2326 – FOTOGRAFIA – Pág; 116)