PRIMEIRA MANEIRA DE BURLAR O RELÓGIO NATURAL POR MEIO DA IMPLANTAÇÃO DE EMBRIÕES CONGELADOS
Perto dos 40 anos, mulheres que passaram a vida adiando o plano de uma gravidez começam a sentir o tique-taque do relógio biológico marcando o prazo para uma decisão que, no que depende da natureza, não pode ser adiada.
Ou não podia. Em 1984, descobriu-se a primeira maneira de burlar o relógio natural por meio da implantação, mesmo depois da menopausa, de embriões congelados, ou seja, de óvulos fecundados. Em outubro de 1997, o médico Joe Massey, de uma clínica de fertilidade em Atlanta, nos Estados Unidos, anunciou nova alternativa: gravidez obtida a partir de óvulos que foram congelados antes da fertilização.
Quem atesta o aparente sucesso do método são dois robustos meninos, gêmeos. A mãe, de 39 anos, adiou a gravidez para estudar e trabalhar e, quando quis ter um bebê, já era tarde demais mas foi salva pelo congelador. Os garotos acenam com a possibilidade de que, em breve, as mulheres possam estocar seus óvulos para ter filhos quando bem entenderem, e não apenas enquanto a natureza permitir.
Depois da pílula anticoncepcional, essa promete ser a segunda revolução feminina. Pode-se falar em revolução não apenas do ponto de vista médico, no caso, mas também comportamental. Congelando embriões, a mulher pode até atrasar a decisão de quando vai engravidar. Mas o pai já deverá ter sido escolhido com antecedência. No caso do congelamento de óvulos, não há essa limitação. A mulher pode decidir mais tarde não só a data da gravidez, mas também o homem que lhe cederá os espermatozóides.
A nova técnica, porém, esbarrava numa dificuldade. Durante o processo de descongelamento, a membrana do óvulo não resistia. Os médicos de Atlanta descobriram que isso poderia ser contornado fazendo o resfriamento aos poucos, e não de uma só vez, como antes. Funcionou uma vez. Repetiu-se o procedimento em outra paciente, que engravidou normalmente.
Outra novidade foi a fertilização in vitro. Chegou ao Brasil uma técnica que permite aumentar a chance de gravidez na primeira tentativa que, nas melhores clínicas, não passa de 30%. O embrião é cultivado em uma substância que reproduz as condições das trompas, o que permite que ele seja implantado na mulher até cinco dias após a fecundação. Mais maduro, tem mais chance de se fixar na parede do útero. Antes o óvulo fecundado agüentava no máximo dois dias fora da barriga da mãe. A nova técnica torna a fertilização in vitro mais segura. Com ela, é possível fazer a biópsia do embrião antes de sua implantação, par ver se ele tem alguma doença genética, como as síndromes de Down e de Turner, que causam retardamento mental.
Outra vantagem: como o índice de gravidez é maior, não é necessário colocar mais de dois embriões a cada tentativa. Antes, os especialistas implantavam até seis óvulos fecundados, o que aumentava o risco de a mulher ter gêmeos ou trigêmeos.
(Fonte: Revista VEJA, 29 de outubro, 1997 MEDICINA Por Karina Pastore e Valéria França ANO N.º – Pág. 68)