Com uma simplicidade meticulosamente calculada, Ometto transformou-se em um protagonista multissetorial
Rubens Ometto, empresário graduado em Engenharia de Produção pela Escola Politécnica de São Paulo.
Nasceu em Piracicaba (SP)
Em pouco mais de uma década, Ometto deixou para trás a figura do usineiro para se transformar em um empresário influente e um dos principais consolidadores do setor sucroalcooleiro
Uma conjunção de fatores de um período de fartura no mercado de capitais à política de cavalos vencedores do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) gerou, nos últimos anos, uma nova elite empresarial brasileira. Uma aristocracia no mais genuíno dos sentidos que os gregos conferiram à palavra: o governo dos melhores. Ou os melhores do governo, diriam algumas vozes mais provocativas. Personagens historicamente com proeminência e prestígio restritos a um determinado segmento econômico romperam essa fronteira, lideraram processos de consolidação setorial, ganharam poder lato sensu e se firmaram como lideranças não apenas entre os seus, mas junto às mais altas instâncias da República. Esse perfil cai com perfeição em Rubens Ometto.
Durante quase 30 anos, Ometto vestiu apenas o figurino de usineiro; um dos maiores do País, é verdade, mas, ainda assim, somente usineiro. Em pouco mais de uma década, ele transformou a Cosan em uma das maiores produtoras de álcool e açúcar no mundo, tornou-se o nome mais influente da indústria sucroalcooleira nacional e se transformou em um multiempresário, com negócios nas áreas de alimentos, comercialização de combustíveis, distribuição de gás e logística. Os óculos de aro razoavelmente grosso e os ternos cuidadosamente amarfanhados parecem feitos sob medida para conservar o ar interiorano do filho de Piracicaba.
Rubens Ometto lembra um professor da Escola Politécnica de São Paulo, onde se formou em engenharia de produção. Em sua simplicidade meticulosamente calculada e até mesmo em seu corpanzil, há também uma pitada de Antônio Ermírio de Moraes, talvez uma influência discreta dos tempos em que Ometto, com apenas 24 anos, assumiu a diretoria financeira do Grupo Votorantim. Não obstante ser José Ermírio, irmão de Antônio Ermírio, aquele que o dono da Cosan tem na conta de grande mentor de sua carreira.
Outros voos
Embora integrante de uma família enraizada no setor sucroalcooleiro há quatro gerações, Rubens Ometto quis pilotar outros modelos antes de comandar seu próprio Boeing. Antes do Votorantim, no qual ingressou por convite do próprio José Ermírio de Moraes, havia trabalhado no Unibanco. Anos depois, deixaria o grupo para cuidar de outros aviões, sem metáforas. Sobrinho de Rolim Amaro, Ometto foi para a TAM, onde chegou a integrar o Conselho de Administração. Teve um papel importante na reestruturação societária da companhia aérea. Na época, a própria família Ometto detinha uma participação na TAM, em sociedade com o comandante Rolim. No entanto, os constantes desentendimentos tornaram essa coabitação empresarial insustentável.
Rubens Ometto foi o algodão entre cristais, costurando a venda do restante das ações a Amaro. Na TAM, a cristaleira permaneceu intacta. O mesmo não ocorreu na própria Cosan. Quem olha hoje para o plenipotenciário controlador do grupo não enxerga os estilhaços que se espalharam pelo chão tão logo Rubens Ometto assumiu o comando das empresas. Cacos que deixaram profundas cicatrizes familiares.
Em 1986, logo após ser alçado à presidência da então Usina Cosan Pinto, que, mais tarde, daria origem à Cosan, Ometto afastou parentes de postos-chave na direção da empresa, implantando um modelo de gestão profissional do seu cargo para baixo, diga-se de passagem. Cutucou um vespeiro de abelhas africanas. Seus irmãos e sua própria mãe não aceitaram o passa-fora e entraram na Justiça, dando início a um contencioso que duraria uma década. Foram os annus horribilis da companhia, um período que, se não a engessou de todo, atrasou consideravelmente seu crescimento. Qualquer decisão estratégica era motivo para fricções. Investimentos foram postergados pela absoluta ausência de consenso, ao mesmo tempo em que as relações familiares se esgarçavam ainda mais. O acordo entre Ometto e seus parentes só veio em 1996. Até hoje, em conversas reservadas, o empresário afirma que temeu pelo futuro da empresa.
Peso político
Se a proximidade com o Planalto é um termômetro definitivo para a medição de poder, Rubens Ometto está permanentemente em estado febril. Nos últimos anos, tornou-se um dos principais interlocutores tanto de Lula quanto de Dilma Rousseff entre o empresariado. É figura assídua no Palácio, tanto em encontros coletivos quanto individuais. Ometto mantém comunicação constante com a Presidência da República no que diz respeito à definição de políticas não apenas para a indústria sucroalcooleira, mas para o setor de energia como um todo. No entanto, para que serve o poder se ele não for explícito? Há fartas menções na internet a um suposto diálogo de Ometto com a então ministra da Casa Civil Dilma Rousseff em um momento em que se discutiam medidas para evitar um possível racionamento de energia no País. Na ocasião, o empresário teria dito à futura presidenta: Dilma, eu não vim aqui dizer o que a senhora quer ouvir, mas para falar o que deve ser dito: a senhora está pisando no lodo e não sabe o que tem debaixo dos pés. A julgar pelas vezes em que retornou ao Planalto, é certo que, desde janeiro de 2011, Ometto passou a ouvir mais.
Guerra de ações
A ascensão de Rubens Ometto ao Olimpo do empresariado nacional tem como marco a abertura do capital da Cosan, em 2004. Calcula-se que, desde então, a empresa já tenha captado mais de US$ 3,5 bilhões no mercado de capitais. Ainda assim, a relação entre Ometto e os investidores está mais para um oceano de sargaços do que para um mar de rosas. O empresário é protagonista de um dos casos mais rumorosos da recente história do Novo Mercado da Bovespa.
O epicentro do episódio foi a proposta de troca de ações da Cosan S/A, listada na bolsa brasileira, para a holding Cosan Limited, com sede em Bermudas e capital negociado na Bolsa de Nova York. Pela legislação brasileira, todas as ações da empresa têm o mesmo peso. Nos Estados Unidos, os papéis pertencentes a Ometto valem por dez das negociadas em Bolsa. A proposta provocou um rebuliço entre os acionistas da Cosan, que enxergaram uma manobra do empresário com o objetivo de empurrar os minoritários para um quartinho nos fundos da empresa. A Comissão de Valores Mobiliários (CVM) teve de entrar em cena, tamanho o número de reclamações. Em julho passado, a CMV absolveu Ometto no processo que apurava se houve um suposto uso de informação privilegiada por ocasião da emissão de ações da Cosan Limited. Mesmo com a decisão favorável da agência reguladora do mercado de capitais, desde aquele episódio Ometto passou a ser visto pelos investidores com alta dose de desconfiança.
Usina de superlativos
A lua de fel com o mercado de capitais não impediu o grande salto de Rubens Ometto. Após sucessivas aquisições e investimentos no greenfield, o Grupo Cosan montou um colar formado atualmente por 24 usinas, que produzem por ano 2 bilhões de litros de etanol e cerca de 4 milhões de toneladas de açúcar o equivalente a mais de 5% do insumo consumido em todo o mundo. Ainda assim, há muito que Ometto não cabe mais na expressão usineiro. Em pouco mais de cinco anos, o empresário abriu com impressionante velocidade várias frentes de negócio. Em 2008, entrou na distribuição de combustíveis com a compra dos postos da Exxon no País. No mesmo ano, criou a Rumo Logística e a Radar, uma das maiores proprietárias de áreas agrícolas do Brasil. Em 2012, ingresso no mercado de gás com a compra da maior distribuidora do setor, a paulista Comgás. A grande tacada empresarial de Rubens Ometto, no entanto, se deu em 2010. A associação com a Shell, que gerou a criação da Raízen, conferiu status ao empresário e ampliou sua capilaridade no mercado internacional. Além de incorporar as usinas sucroalcooleiras da Cosan e todas as operações de comercialização e exportação de açúcar e álcool, a nova holding soma mais de 4,6 mil postos de combustíveis. Hoje, as empresas de Ometto faturam por ano aproximadamente R$ 30 bilhões. Binho, como é chamado pelos amigos mais próximos e familiares aqueles com que não rompeu saltou junto com seus negócios. Atualmente, acumula uma fortuna pessoal estimada em quase R$ 3 bilhões.
(Fonte: http://ultimosegundo.ig.com.br – OS 60 MAIS PODEROSOS DO PAÍS – Por iG Sâo Paulo – Agosto de 2013)