Stendhal: muralista social
Escritor passou a ser reconhecido por suas obras apenas depois de morrer
Henri Beyle (Grenoble, 23 de janeiro de 1783 – Paris, 23 de março de 1842), mais conhecido pelo pseudônimo de Stendhal, romancista foi pioneiro do romance psicológico moderno. Stendhal é considerado o criador do romance moderno, que deu passo à grande narrativa do século 19.
Consagrado por sua aguda análise da psicologia de seus personagens e a concisão de seu estilo, é considerado como um dos primeiros e mais importantes literatos do realismo.
Beyle utilizou diferentes pseudônimos, sendo Stendhal o mais conhecido. A hipótese mais verossímil sobre sua origem é que o tomou da cidade alemã de Stendal, lugar de nascimento de Johann Winckelmann, fundador da arqueologia moderna, a quem admirava.
Publicado em 1822, o primeiro romance de Henri Beyle, é catorze anos mais jovem que “O Vermelho e o Negro” (1830), sua obra-prima.
Na sua obra futura “Armance” (1826) ele já antecipa os incomparáveis retratos psíquicos e sociais que fazem de Stendhal o pioneiro, mas ainda não possui a compostura tensa e trágica de sua obra futura.
Embora seu enredo se resuma a um simples caso amoroso, entre o belo e impotente “Octave”, visconde de Malivert, e sua prima “Armance” – com as inevitáveis separações, equívocos e a ruptura final -, o romance é sobretudo uma ácida crítica a uma sociedade conturbada por profundas mudanças, sob os efeitos da Revolução Francesa e da Revolução Industrial.
Crítica à nobreza francesa do século XIX, sintetizada em uma frase do protagonista: “Desde que a máquina a vapor é a rainha do mundo, um título é um absurdo.”
Em “Armance” o que poderia permanecer como simples entrevero amoroso acaba como denúncia ferina. Em verdade, a impotência de Octave é também simbólica: é o perfil de toda uma geração inerte, desprovida de “senso íntimo”, tentando desesperadamente manter seus anacrônicos privilégios.
De 1832 a 1836 foi designado vice-cônsul da França em Civitavecchia, porto dos Estados Pontifícios, perto de Roma. Em 1836 obtém permissão para residir em Paris. Em 1841 sofre um primeiro ataque de apoplexia.
Em 22 de março de 1842, Stendhal sofre um novo ataque em plena rua. Levado a casa, morre na madrugada de 23 sem ter recuperado a consciência.
(Fonte: Veja, 11 de fevereiro de 1981 – Edição 649 – LIVROS/ Por Álvaro Cardoso Gomes – Pág; 67)