Isaac Babel, jornalista e escritor soviético, um dos maiores escritores de língua russa do século 20

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Isaac Babel (Odessa, Ucrânia, 13 de julho de 1894 – Moscou, 27 de janeiro de 1940), jornalista e escritor soviético, um dos maiores escritores de língua russa do século 20, expressou em seus romances as turbulências históricas do país.

No que parece quase uma inverossimilhança histórica, Isaac Emmanuilovich Babel, filho de um comerciante judeu de Odessa, na Ucrânia, e atento leitor de Maupassant, serviu ao lado dos grosseiros cossacos na Cavalaria Vermelha. Foi dessa experiência que surgiram os contos de “O Exército de Cavalaria”.

Bábel, apesar de comunista convicto, não submeteu sua literatura ao cabresto do partido. Seus personagens às vezes fazem apaixonadas profissões de fé socialistas – um deles chega a dizer que até as abelhas vão se beneficiar com a vitória da revolução -, mas “O Exército de Cavalaria” não acena com nenhuma redenção. A guerra de cima de um cavalo: eis a utopia dos cossacos.

A violência é exacerbada pela casualidade gélida com que as piores atrocidades são narradas. As metáforas de gosto expressionista cultivadas por Babel só acentuam o terror. É admirável a coragem e a virilidade brutal desses cavaleiros.

O modo de vida cossaco, ironicamente, perdeu seu lugar com a industrialização da União Soviética. Uma nova barbárie estatizou-se sob o comunismo. E Bábel acabou fuzilado pelo regime de Stalin, em 27 de janeiro de 1940.

Em Exército de Cavalaria, Babel narra episódios da guerra russo-polonesa, um dos conflitos que se seguiram à revolução comunista de 1917, a obra está repleta de batalhas, saques, execuções, estupros, eviscerações.

Os soldados são uma espécie de versão russa dos gaúcgos dos pampas brasileiros e argentinos: cavaleiros rústicos, brutos, desconfiados de toda forma de civilização. No tempo dos czares, eram ferozes defensores da integridade territorial da mãe Rússia.

Também costumavam atuar nos pogroms – matanças em aldeias judaicas. Nas guerras civis que se seguiram à revolução d e1917, alguns cossacos integraram-se ao Exército Vermelho, enquanto outros combateram ao lado dos brancos.

(Fonte: Veja, 13 de dezembro de 2006 – ANO 39 – N° 49 – Edição 1986 – LIVROS/ Por Jerônimo Teixeira – Pág; 133)

 

 

 

Isaac Bábel: “O Exército de Cavalaria”

O assombroso Isaac Bábel (1894-1940), um judeu franzino de óculos nascido em Odessa, cumpriu um percurso tristemente típico de seu tempo e lugar: fulgurante escritor revolucionário soviético nos anos 20, uma espécie de Maiakóvski da prosa; visto com desconfiança cada vez maior e incomodado com os rumos tomados pelo país ao longo dos anos 30; preso como contra-revolucionário e assassinado pela máquina repressiva de Stálin em 1940; reabilitado oficialmente pelo Partido em 1957. Esse breve esboço biográfico vai aqui porque, em primeiro lugar, ajuda a dissipar um pouco do denso desconhecimento que paira sobre Bábel no Brasil, e depois por ter, na sua brutalidade, uma sinistra correspondência com a literatura do homem.

Escritos a partir das experiências de Bábel como correspondente no front da guerra russo-polonesa em 1920, os contos curtos e violentos de “O Exército de Cavalaria” têm uma estranha mistura de secura realista e imagística suntuosa que não se encontra em nenhum escritor antes ou depois de Bábel. No posfácio, Schnaiderman os chama de “texto-paradigma do século XX”. E explica: “Com o seu sabor acre de sangue e terra, com sua violência que nos deixa perplexos, eles estão realmente entre os escritos que expressaram melhor aquele século de horror e de mudança”.

(Fonte: http://veja.abril.com.br/blog/todoprosa/primeira-mao – Sérgio Rodrigues – Todoprosa – Primeira mão – 29/11/2006)

O escritor russo Isaac Babel, e seu livro “A Cavalaria Vermelha”, de 1926, conquistou súbita notoriedade em sua experiência no 1.º Exército de Cavalaria, da União Soviética, que combateu na Polônia entre 1918 e 1922.

O retrato desse período, pintado por Babel com precisão, contundência e economia de meios, não traz qualquer retoque de ordem nacionalista. O livro mostra os integrantes da Cavalaria Vermelha como homens, e não heróis. Se ganham algumas batalhas, também perdem outras e até fogem, muitas vezes, do inimigo.

Essa visão pouco ortodoxa da Cavalaria Vermelha e os constantes elogios que os personagens fazem a Leon Trotsky (1879-1940) – o organizador do Exército soviético e principal inimigo de Josef Stalin (1878-1953), que governou a União Soviética com mão de ferro entre 1924 e 1953 – valeram a Babel a pecha de contra-revolucionário.

Em 1928, por conta das pressões, ele chegou a renegar o livro. Mesmo assim, foi preso em 1938 e mais tarde enviado para um campo de concentração na Sibéria, onde morreu em janeiro de 1940, vitima do terror stalinista.

(Fonte: Veja, 31 de maio de 1989 – ANO 22 – N° 21 – Edição 1081 – LIVROS – Pág: 155)

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