Karol Wojtyla, o Papa João Paulo II, João de DEUS

0
Powered by Rock Convert

Da Polônia ao trono de Pedro

João Paulo II, João de DEUS

Karol Wojtyla, o Papa João Paulo II

1920

Nasce, no dia 18 de maio, na pequena cidade de Wadowice, na Polônia, Karol Wojtyla, segundo filho de um militar reformado e de uma costureira, que morreria pouco antes de ele completar 9 anos

1938

Muda-se com o pai para Cracóvia. Lá, começa a cursar filosofia e adere ao Grupo da Congregação Mariana

1939

As forças nazistas fecham a universidade e o jovem Karol é obrigado a trabalhar em uma pedreira, explodindo rochas. Paralelamente ao trabalho como operário, mantém sua ligação com o teatro, iniciada ainda no curso secundário e agora adotada como alternativa à participação na luta armada contra os nazistas. Integra um grupo clandestino que prega a “resistência cultural” aos alemães, encenando peças de grandes autores poloneses. Freqüenta um grupo de estudos religiosos também clandestino, já que a atividade está proibida na cidade ocupada

1940

Conhece Jan Tyranowski, um alfaiate que terá profunda influência em sua vida. Asceta e estudioso da vida dos místicos espanhóis Santa Teresa de Ávila e São João da Cruz, Tyranowski é apontado por biógrafos como o responsável pela opção do futuro papa pelo sacerdócio

1941

Aos 21 anos, Karol Wojtyla – que já havia perdido a mãe, a irmã mais nova (morta ainda criança) e o irmão (vítima de febre escarlatina aos 26 anos) – vê morrer também o pai, de ataque cardíaco. No ano seguinte, ingressa na faculdade de teologia

1946-1978

Um ano depois de as forças soviéticas liberarem Cracóvia da ocupação nazista, Karol Wojtyla é ordenado padre. Em novembro, celebra sua primeira missa na cripta de São Leonardo de Wavel. Deixa a Polônia para começar estudos em Roma. Em 1958, torna-se bispo auxiliar de Cracóvia. Em 1963, é promovido a arcebispo e, em 1967, nomeado cardeal. Elege-se papa em 1978, sucedendo a João Paulo I. É o primeiro pontífice não-italiano em 456 anos

1979

Em sua primeira viagem fora da Itália, para o México, critica pela primeira vez a Teologia da Libertação, ao dizer que a Igreja “não necessita recorrer a sistemas e ideologias para amar, defender e colaborar na libertação do homem”. Em junho, vai à Polônia, numa iniciativa que historiadores consideram decisiva para a criação do sindicato Solidariedade e a derrocada do regime comunista. Em meio à Guerra Fria, prega a “unidade da Europa cristã”

1980

Vem pela primeira vez ao Brasil. Visita detentos em Brasília, operários em São Paulo, favelados no Rio e hansenianos em Belém do Pará. No mesmo ano, vai à África também pela primeira vez

1981

É atingido por três tiros disparados pelo turco Mehmet Ali Agca, enquanto abençoava peregrinos na Praça de São Pedro. As balas atingem uma de suas mãos e o abdômen, o que o obriga a submeter-se a duas cirurgias

1982

Um ano depois do atentado, vai ao Santuário de Fátima, em Portugal. O papa foi ferido no dia de Nossa Senhora de Fátima, e creditou à santa o fato de ter escapado com vida. João Paulo II escolheu como dístico de seu pontificado a expressão Totus Tuus (“Todo Teu”, em latim), para mostrar sua devoção à Virgem. Não é um acaso que o marianismo, o culto a Maria, tenha crescido tanto nas últimas duas décadas. Em junho, encontra-se com o presidente americano Ronald Reagan. Nesse mesmo ano, recebe o líder palestino Yasser Arafat

1983

Na época do Natal, encontra-se com Agca na prisão, em Roma, e o absolve. No mesmo mês, visita uma igreja luterana, iniciativa inédita na história do papado

1984

Inicia viagem à Ásia e à Oceania. Na Coréia do Sul, que comemora o bicentenário de sua evangelização, canoniza mais de 100 mártires do país

1985

Fala diante de uma assembléia islâmica em Casablanca, no Marrocos. Pune com o “silêncio penitencial” o brasileiro e então frade franciscano Leonardo Boff, um dos expoentes da Teologia da Libertação. Pede perdão aos africanos e índios pela tolerância com que a Igreja Católica assistiu à escravização de seus antepassados

1986

Em abril, visita uma sinagoga em Roma. Em outubro, preside o primeiro encontro mundial inter-religioso na Itália, que reúne líderes de diversas igrejas e tradições religiosas. Em seu discurso, diz que “a paz é portadora do nome de Cristo, mas os católicos nem sempre foram fiéis a essa afirmação de fé. Não temos sido sempre construtores da paz”

1987

Visita a Alemanha Ocidental e defende a reunificação das Alemanhas. Inaugura as férias papais, esquiando nos Alpes, hábito que manterá até 1994

1988

Excomunga o bispo francês Marcel Lefèbvre, que desafiara Roma com suas posições ultratradicionalistas

1989

Pela primeira vez na história, um pontífice recebe um secretário-geral do Partido Comunista Soviético. O encontro com Mikhail Gorbachev restabelece as relações diplomáticas entre a Santa Sé e Moscou

1991

Publica a encíclica Centesimus Annus, criticando o modelo comunista: “A negação desse direito (à iniciativa econômica) ou sua limitação, em nome de uma pretensa igualdade de todos na sociedade, reduz ou destrói o espírito de iniciativa e a personalidade criativa do cidadão. Em seu lugar, prevalecem a passividade, a dependência e a submissão”. Vem ao Brasil pela segunda vez

1992

É submetido a uma cirurgia para retirar um tumor intestinal

1993

Publica a encíclica Veritatis Splendor, em que aborda o que seria a crise moral do Ocidente. O documento condena a homossexualidade, o aborto e o sexo fora do casamento

1994

Critica veementemente o texto da ONU que apóia o aborto e defende o uso de métodos artificiais de contracepção. De sua janela, sobre a Praça de São Pedro, brada: “Nós protestamos!”. O assunto torna-se o principal tema de seu encontro com o presidente americano Bill Clinton, em junho. O italiano Vittorio Messori lança o livro Cruzando o Limiar da Esperança, uma longa entrevista com João Paulo II. Em abril, é operado para a colocação de uma prótese no fêmur, fruto de uma queda no banheiro. Surgem especulações de que estaria sofrendo de osteoporose, mal de Parkinson ou câncer ósseo. O Vaticano nega. É escolhido “O homem do ano” pela revista Time

1995

Publica a encíclica Evangelium Vitae, em que condena o aborto, a eutanásia e o uso de métodos contraceptivos

1996

A possibilidade de renúncia do pontífice é formalizada por meio da publicação da Constituição Apostólica Universi Dominici Gregis. Dois anos antes, João Paulo II havia declarado que “seria bom que um papa pudesse assistir à eleição de seu sucessor”. Lança o livro autobiográfico Dom e Mistério, em que fala de sua paixão pelo teatro e relembra episódios como o dia de sua ordenação como padre, quando apenas uma tia assistiu à cerimônia – já que todo o resto da família morrera. Em novembro, depois de seis anos de negociações entre emissários eclesiásticos e o governo de Cuba, Fidel Castro é recebido no Vaticano

1997

Faz sua terceira visita ao Brasil

1998

Pede perdão aos judeus pelo comportamento da Igreja no Holocausto. Afirma que faltou aos cristãos “resistência espiritual” para fazer frente ao massacre nazista. Publica a encíclica Fides et Ratio, em que procura conciliar fé e razão. Na terra de Fidel Castro, pede que “Cuba se abra para o mundo e o mundo se abra para Cuba”. Critica o embargo americano e defende a libertação dos “prisioneiros de consciência”

2000

No Ano Santo do Jubileu, celebração dos 2 000 anos do nascimento de Cristo, pede novamente perdão por erros cometidos pela Igreja, citando as Cruzadas e a Inquisição. Vai a Israel. A visita, histórica, inclui o Museu do Holocausto e o Muro das Lamentações

2001

Em maio, visita uma mesquita em Damasco, na Síria. Em obediência à tradição muçulmana, retira antes os sapatos. É o primeiro líder católico a entrar em um templo islâmico. Em novembro, usa a internet para enviar um pedido de desculpas à Oceania por injustiças e abusos cometidos por integrantes da Igreja Católica naquele continente

2002

Em agosto, faz sua última viagem à Polônia. Em missa para 2,7 milhões de fiéis, realizada em um parque de Cracóvia, despede-se: “Gostaria de vê-los novamente, mas isso agora está nas mãos de Deus”

2003

Em março, lança o livro Tríptico Romano – Meditações, em que reúne poesias e reflexões. Em setembro, vai à Eslováquia, na 102ª viagem de seu pontificado. Enfraquecido, pede a um assistente que termine a leitura de seu discurso – que retoma ao final, quando abençoa o país. Pouco antes, em maio, o Vaticano havia reconhecido oficialmente o que todo mundo já sabia: que o papa sofria do mal de Parkinson. João Paulo II declara estar chegando o dia em que terá “de se apresentar perante Deus”

2004

Em 18 de maio, quando completa 84 anos, João Paulo II lança outra autobiografia. Nela, o papa reúne relatos colhidos desde 1958, quando foi nomeado bispo de Cracóvia, na Polônia. Levantai-vos! Vamos! tem também poemas e conselhos do papa aos religiosos. Logo depois, faz suas duas últimas viagens apostólicas. Vai a Berna, na Suíça, e a Lourdes, na França. Em janeiro, o Vaticano decide aposentar dom Pedro Casaldáliga, então bispo de São Félix do Araguaia, cidadezinha de 10 000 habitantes em Mato Grosso. O bispo de origem catalã, um dos representantes mais radicais da ala progressista, passou quase vinte anos sem se apresentar nas audiências obrigatórias com o papa, defendia a ordenação de mulheres e recomendou que a morada papal, em vez das suntuosas dependências romanas, fosse uma capelinha

2005

Em sua última carta apostólica, a 45ª de seu papado, intitulada O Rápido Desenvolvimento, João Paulo II pede aos meios de comunicação que promovam justiça e solidariedade. No documento, a televisão é citada como um “instrumento para agressões pessoais, um lugar para denegrir os outros e fórum para conflitos vulgares e de mau gosto”. Em fevereiro é lançado o livro Memória e Identidade, em que João Paulo II fala sobre sua experiência com o totalitarismo nazista e comunista, relativiza a democracia e ataca mais uma vez a legalização do aborto e o reconhecimento do casamento entre pessoas do mesmo sexo.

(Fonte: Veja edição especial de 6 de abril de 2005 – ANO 38 – N° 40 – VEJA 1899/A – Pág: 4/5)

Powered by Rock Convert
Share.