Se tornou o primeiro americano a conquistar um título mundial de xadrez
Bobby Fischer: vitória sobre os russos na Guerra Fria e discursos anti-semitas
No final de uma das sete partidas que Bobby Fischer (Chicago, 9 de março de 1943 – Reykjavik, 17 de janeiro de 2008) venceu na disputa pelo título de campeão mundial de xadrez, em 1972, o russo Boris Spassky aplaudiu o oponente americano. Demonstrações efusivas de admiração pelo adversário não são comuns no xadrez internacional (o próprio Fischer certa vez disse que gostava de “esmagar o ego” dos oponentes). Mas aquela foi uma disputa extraordinária.
O excêntrico Fischer começou perdendo duas partidas a segunda, quando se recusou a jogar na presença das câmeras de televisão , mas deu a virada e se tornou o primeiro americano a conquistar um título mundial. A vitória em plena Guerra Fria teve grande peso simbólico. A maestria no xadrez, afinal, sempre foi associada à inteligência. Propagava-se então a ideia de que a democracia americana gerava homens mais inteligentes do que os criados sob o comunismo soviético. Seu status de herói nacional, porém, logo se desvaneceu.
Ao morrer em 17 de janeiro de 2008, em Reykjavik, na Islândia a cidade onde teve lugar a histórica disputa com Spassky , Robert James Fischer, de 64 anos, era um pária que renunciara à cidadania americana.
Depois do campeonato, sua vida foi uma espiral descendente de loucura. O ex-garoto prodígio ficou conhecido por suas catilinárias de anti-semitismo paranoico. Em 1992, tornou a disputar e vencer um jogo com Spassky. A partida, pela qual Fischer embolsou 5 milhões de dólares, teve lugar na Iugoslávia do ditador Slobodan Milosevic, então sob embargo americano.
Se voltasse aos Estados Unidos, Fischer seria processado e por isso ele não mais pisou no país natal. Em 2001, logo após os atentados de 11 de setembro, concedeu uma entrevista delirante na qual aprovou o feito dos terroristas da Al Qaeda.
“Eu gosto do momento em que destruo o ego de alguém.”
(Fonte: Veja, 23 de janeiro de 2008 – Ano 41 – N° 3 – Edição 2044 – Memória – Pág: 69)