Jack Kirby foi responsável por algumas das obras mais influentes na Marvel e DC
O rei injustiçado: ele criou o Universo Marvel
Jacob Kurtzberg (Nova York, 28 de agosto de 1917 – Thousand Oaks, 6 de fevereiro de 1994), foi responsável pela criação dos maiores personagens de quadrinhos das duas maiores editoras dos EUA: Marvel e DC, mais conhecido pelo nome artístico Jack Kirby. O quadrinista, roteirista e editor de histórias em quadrinhos nasceu em Nova York no dia 28 de agosto de 1917. Nos anos 1940, junto com o roteirista Joe Simon criou o Capitão América para a Timely Comics, que depois se tornaria a Marvel Comics. É dele a famosa capa em que o herói banderoso aparece socando Hitler.
Após a Guerra, Jack Kirby passou por várias editoras e títulos até que, nos anos 1960, firmou sua grande parceria, com Stan Lee. Juntos, os dois praticamente criaram o Universo Marvel como o conhecemos hoje, com o Quarteto Fantástico, X-Men e Hulk, entre outros.
O rei injustiçado: ele criou o Universo Marvel e morreu no esquecimento.
Jack Kirby foi responsável por algumas das obras mais influentes na Marvel e DC, mas nunca foi verdadeiramente reconhecido pelo público – tanto em vida quanto em morte.
Para boa parte do público, é difícil não associar os super-heróis da Marvel a Stan Lee, que desde os anos 1960 tem sido (de uma forma ou de outra) a cara da companhia, quase tão emblemático quanto o Homem-Aranha ou os X-Men.
Quanto maior sua presença na cultura pop cresceu- especialmente com as participações especiais nos filmes baseados nos heróis da Marvel que tem feito pelos últimos 17 anos -, mais fácil é de imaginar que Lee foi a grande mente criativa por trás da criação e eventual ascensão deste império.
Mas isso não é totalmente verdade.
Embora as contribuições de Lee sejam (em geral) inegáveis, para muitos fãs de quadrinhos o verdadeiro coração criativo da Marvel, responsável não só pela criação de seus grandes heróis como a evolução técnica e artística de suas histórias, pertence a outro homem: Jack “King” Kirby, que completaria 100 anos em 2017.
Desde seu início na indústria de quadrinhos, na década de 1930, até sua morte em 1994, Kirby foi uma das figuras mais prolíficas e influentes para artistas e roteiristas ao redor do mundo.
Infelizmente, tanto em vida quanto depois de sua morte, o verdadeiro valor da obra de Kirby nunca foi reconhecido além de certos círculos de fanáticos por quadrinhos. E mesmo hoje, com suas criações mais populares do que nunca, ele ainda é visto como um mero coadjuvante.
Janela para o futuro
Jacob Kurtzberg nasceu em 28 de agosto de 1917 em Nova York, filho de imigrantes judeus austríacos.
De família pobre, Jacob teve uma infância difícil crescendo no Lower East Side, chegando a até a se envolver com gangues e brigas com meninos de vários outros pontos da cidade.
Ao voltar para casa durante uma tempestade, em um certo dia de 1929, Jacob encontrou algo que mudaria sua vida.
“Eu vi uma revista flutuando perto de um bueiro, e pulei para salvá-la bem antes de ela cair para o esgoto”, relembrou anos depois. “Havia algo na capa que nunca tinha visto na vida — ela era incrível! Tinha naves espaciais e cidades futuristas. Foi aí que algo se solidificou na minha mente.”
Esta inspiração levou o jovem Kurtzberg começou a estudar arte, mas após seu pai perder o emprego precisou encontrar alguma forma de sustentar a família, encontrando trabalho no famoso estúdio de animação dos irmãos Fleischer, de “Betty Boop” e “Popeye”.
Ele detestava aquele emprego, por lembrá-lo mais de uma linha de produção do que um ambiente criativo. Ainda assim, dava para pagar as contas, e Jacob trabalhou no estúdio até os Fleischer se mudarem de Nova York após uma batalha sindical com seus artistas.
À procura de novas oportunidades, o desenhista trabalhou em tiras de jornal até conhecer Joe Simon, seu primeiro grande colaborador. Logo, a dupla começou a criar histórias para a Timely Comics, e foi lá que Jacob Kurtzberg decidiu adotar um novo nome artístico: Jack Kirby.
Em 1939, na época do estopim da Segunda Guerra, os dois tiveram como missão fazer um herói patriótico para o grande público. Juntos, eles criaram o Capitão América, com Kirby desenhando a icônica capa em que o Sentinela da Liberdade dá um soco na cara de Hitler.
O personagem foi um sucesso, mas ao descobrir que o dono da Timely, Martin Goodman (1908-1992), não estava pagando seus royalties como deveria, a dupla decidiu trabalhar em segredo para a National Publications (hoje em dia mais conhecida como DC Comics).
Eventualmente, Goodman descobriu o plano, e os dois foram demitidos. Na época, Kirby suspeitou que quem os delatou foi o sobrinho do empresário e funcionário da companhia, Stanley Lieber.
“Da próxima vez que eu ver aquele desgraçado, vou matá-lo”, disse a Simon.
Kirby, como quase todos os artistas de sua geração, serviu na Segunda Guerra Mundial, desembarcando na Normandia algumas semanas após o fatídico Dia D, e graças a suas habilidades como desenhista serviu como batedor para o exército americano – a única vez em que se arrependeu de ter seus talentos.
“Se alguém quiser te matar, ele te faz de batedor”, declarou certa vez. “Caras legais não recebem missões de reconhecimento”.
Simon e Kirby continuaram a colaborar após o fim da Guerra, mesmo com a queda de popularidade de super-heróis. No fim dos anos 1950, porém, a indústria de quadrinhos sofreu um grave revés com a publicação do livro “A Sedução dos Inocentes” do psicólogo Frederic Wertham, que indicava que HQs com conteúdo violento poderiam influenciar as mentes da juventude americana.
O mercado sofreu um impacto forte, e Simon decidiu tentar sua sorte no mundo da propaganda. Kirby, por sua vez, acabou voltando como freelancer para a Timely Comics, agora conhecida como Atlas Comics – e, mais tarde, de Marvel Comics.
O Método Marvel
No início dos anos 1960, Goodman pediu para Stanley Lieber – agora editor e mais conhecido como Stan Lee – criar um novo grupo de super-heróis, para bater de frente com a Liga da Justiça. Lee, sabiamente, procurou a ajuda de seu antigo nêmesis, Jack Kirby.
Logo, a primeira edição de “O Quarteto Fantástico” chegou à bancas. A dinâmica diferente entre o grupo, mostrando as dificuldades da vida de super-herói – em particular para Ben Grimm, o Coisa, preso em um corpo de pedra -, cativaram o público imediatamente.
Vendo uma chance de expandir o mercado, Goodman pediu para que os dois criassem novos heróis. Foi assim que surgiram o Incrível Hulk, em uma revista própria; O Poderoso Thor, nas páginas da HQ “Journey Into Mystery”; O Homem-Formiga, em “Tales to Astonish”; o Homem de Ferro em “Tales of Suspense”; e os Filhos do Átomo, os X-Men.
Por ter que lidar com tantas revistas ao mesmo tempo, Kirby passou a trabalhar 7 dias por semana no porão de sua casa – apelidado carinhosamente de “O Calabouço” – para entregar todas as páginas em dia e deixar Lee desenvolver os diálogos.
A verdade é que o sucesso inicial desta linha editorial deve-se ao chamado “Método Marvel”, em que Lee elaborava uma sinopse para uma história, e dava liberdade ao artista de desenvolvê-la da forma que achar melhor, só precisando enviar os esboços para serem coloridos e receberem o toque final do roteirista e editor.
Kirby era um mestre do Método Marvel, desenvolvendo e expandindo as ideias de Lee com seus desenhos. No começo, o único que se comparava a ele neste processo era Steve Ditko, responsável pelo Homem-Aranha e o Dr. Estranho.
Esta liberdade também permitiu a Kirby expandir seu leque de habilidades como desenhista, utilizando novos métodos para ilustrar suas histórias e apresentar novas facetas deste Universo, como o Devorador de Mundos Galactus e o Surfista Prateado.
Logo, a Marvel virou a nova cara dos quadrinhos, conquistando não só o público infantil como adolescentes e universitários. Lee, energético como só, começou a capitalizar nesta popularidade, fazendo aparições e palestras em faculdades e eventos aos redor dos EUA.
Isso causou atrito com Kirby, já que ele passava quase todo seu tempo útil desenhando no Calabouço ou ensinando novos artistas contratados a lidar com o Método Marvel – treinando seus substitutos, como chegou a pensar.
Mais, ele queria créditos como roteirista, já que o envolvimento de Lee com as revistas estava cada vez menor, e ele gostaria de explorar mais as suas próprias ideias narrativas.
Todos estes problemas, mais uma renovação de contrato que não o agradou, levaram a um fatídico telefonema feito para Stan em 6 de março de 1970.
Jack Kirby estava indo para a DC.
O Quarto Mundo
Kirby trabalhou na DC Comics de 1971 a 1975, e embora não tenha trabalhado em nenhum dos grandes títulos da empresa – o mais próximo que chegou a Superman foi com a HQ de Jimmy Olsen -, ele ainda conseguiu cravar sua marca dentro deste Universo.
Foi assim que surgiu o que muitos consideram a obra máxima de Kirby: “A Saga do Quarto Mundo”, uma epopeia de vários anos e com várias HQs se interligando para contar uma narrativa maior.
Inspirado por ideias anteriores que queria desenvolver para Thor e os Inumanos enquanto estava na Marvel, a Saga do Quarto Mundo envolve uma grande guerra entre panteões de deuses que vivem em dois planetas diferentes: a idílica Nova Gênesis, do Pai Celestial, e o aterrorizante mundo de Apokolips, dominado por Darkseid – que hoje em dia é considerado o maior vilão do Universo DC.
Nas páginas de quadrinhos como “Senhor Milagre”, “Novos Deuses”, “O Povo do Amanhã” e Jimmy Olsen, Kirby retratou a batalha entre as forças destas novas divindades, com as forças de Nova Gênesis tentando impedir Darkseid de encontrar a Equação da Anti-Vida, que permitiria controle total sobre qualquer ser no Universo.
Infelizmente, o projeto acabou sendo cancelado pela DC antes de que Kirby pudesse completar sua história. A Saga só teria uma conclusão nos anos 80, com a graphic novel “Hunger Dogs”.
Além da Saga do Quarto Mundo, Kirby também criou vários personagens diferentes (embora não particularmente populares), como Kamandi, OMAC e o demônio Etrigan.
Retorno e adeus
Em 1976, Kirby decidiu não renovar seu contrato com a DC Comics e acabou voltando brevemente para a Marvel, onde chegou a retrabalhar o conceito dos Novos Deuses na série Os Eternos, criando a poderosa raça alienígena conhecida como “Celestiais”.
Não bastasse isso, ele até voltou a trabalhar com Stan Lee em uma história do Surfista Prateado, antes de deixar novamente a empresa.
Nos seus últimos anos, o artista trabalhou em diversos projetos diferentes, principalmente no mercado de HQs independentes, e ajudou a criar o desenho animado “Os Centuriões” ao lado de outra lenda dos quadrinhos, Gil Kane.
Em 7 de fevereiro de 1994, Jack Kirby morreu por insuficiência cardíaca aos 76 anos em Thousand Oaks, na Califórnia. Embora tenha conseguido viver uma vida relativamente confortável e sustentado sua mulher e filhos, ele nunca enriqueceu com suas criações da forma com que os executivos da Marvel ou da DC conseguiram.
Até 2014, a Marvel nem chegava a creditar Kirby nas HQs de personagens criados por ele, só começando a fazer isso regularmente após uma longa batalha legal que terminou em um acordo entre a empresa e a família do artista.
Embora ele seja creditado nos filmes baseados em seus personagens – mesmo que apenas no final -, Kirby acaba sendo apenas um nome abaixo ou ao lado do de Stan Lee, que também tem a oportunidade de participar destas produções, tendo a vantagem de ainda estar vivo.
(E é provável que, mesmo que Jack ainda estivesse entre nós, Stan ainda roubaria o show, já que ele sempre foi o mais chamativo da dupla).
Ainda assim, Kirby contribuiu literalmente dezenas de milhares de páginas para a Marvel, DC, e tantas outras editoras que aceitaram seu trabalho, moldando uma forma de expressão artística durante décadas, e influenciando lendas como Walt Simonson, Jim Starlin, Grant Morrison, entre tantos outros.
A maioria das pessoas pode não saber da importância do seu reino, mas Lee estava certo ao apelidá-lo de “King” Kirby, já que nenhuma outra pessoa é mais merecedora do título de Rei dos Quadrinhos.
Jack Kirby faleceu aos 76 anos, em 6 de fevereiro de 1994.
(Fonte: http://omelete.uol.com.br)
(Fonte: https://jogos.uol.com.br/ultimas-noticias/2017/05/03 – JOGOS – GEEK/ Por Victor Ferreira/ Do Gamehall, em São Paulo – 03/05/2017)