Foi um dos mais renomados arquitetos brasileiros, autor do Conjunto Nacional da Avenida Paulista
David Libeskind (Ponta Grossa, Paraná, novembro de 1928 – São Paulo, 9 de abril de 2014), arquiteto paranaense cuja obra mais importante é o Conjunto Nacional.
Paranaense ganhou notoriedade com apenas 25 anos de idade com o projeto do complexo arquitetônico que ocupa uma quadra da Avenida Paulista.
Com seu uso misto (moradia, serviço e comércio), o Conjunto Nacional lançou nos anos 50 um novo paradigma para a cidade.
Libeskind é conhecido por ter desenhado o projeto do Conjunto Nacional, um marco arquitetônico da cidade em plena Avenida Paulista. Em outubro de 2013, o projeto foi destaque de reportagem da revista ARQUITETURA e CONSTRUÇÃO.
Autor do Conjunto Nacional, na Avenida Paulista, o arquiteto, artista gráfico e pintor se inspirou no modelo cultural da vanguarda mas, na organização espacial, solução estrutural e tecnologia construtiva, se desviou do racionalismo funcionalista.
David Libeskind iniciou a atividade profissional no começo da década de cinquenta, período em que a arquitetura brasileira era reconhecida e valorizada no Exterior. O grande volume de obras em várias cidades do Brasil revela uma arquitetura de expressão plástica moderna, obtida por meio de uma volumetria pura ou pela composição entre formas distintas.
O Conjunto Nacional, na Avenida Paulista, em São Paulo, o projeto emblemático de Libeskind, exprime no espaço, na forma, no programa e no sistema construtivo, a articulação entre diferentes linguagens e interpretações da arte, da ciência e do modelo cultural que representa.
Nascido na cidade de Ponta Grossa, no Paraná, em novembro de 1928, Libeskind estudou arquitetura na Universidade Federal de Minhas Gerais, onde foi aluno do pintor modernista Guignard.
Em Belo Horizonte, concluiu a graduação no ano de 1952. Mas foi em São Paulo que ganhou notoriedade.
Com apenas 25 anos, realizou o que seria perpetuado como seu principal projeto: o Conjunto Nacional, um complexo arquitetônico que ocupa uma quadra da Avenida Paulista.
Ainda estudante, em Minas, David Libeskind teve oportunidade de acompanhar o trabalho de Silvio de Vasconcelos e Lúcio Costa nos escritórios do Sphan, o então Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. Em 1957, o arquiteto dirigiu a revista Brasil Arquitetura Contemporânea.
Foi diretor de planejamento da Cohab, a Companhia Metropolitana de Habitação de São Paulo, em 1970. Libeskind foi citado em enciclopédias da Alemanha, na França e na Itália, além de várias revistas no Brasil e no Exterior. Recebeu o prêmio Prefeitura de São Paulo, em 1960, e o primeiro prêmio Governo do Estado no Salão Paulista de Arte Moderna, um ano depois.
Para entender a formação da linguagem de Libeskind e a integração entre arquitetura e artes plásticas, como o modelo moderno preconizava, é preciso olhar e compreender o que Lúcio Costa e Oscar Niemeyer deixaram explícito no prédio do Ministério da Educação e Saúde, no Rio de Janeiro, inaugurado em 1945. Segundo o arquiteto e crítico catalão Josep Maria Montaner, nessa obra, a intensidade do prisma puro e autônomo, a regularidade, a ortogonalidade e a frontalidade da arquitetura maquinista de Le Corbusier são corrigidas pela dispersão e pelo contraste dos volumes, pelo caráter expansivo e transparente dos edifícios, pela posição lateral das entradas que induzem ao movimento, enfim, pelos elementos da arquitetura moderna que se articulam em uma composição aberta, oscilante, expansiva e oblíqua.
Assim, a geração de Libeskind pôde buscar referências nesse modelo que, superando o racionalismo ortodoxo, fez da arquitetura uma obra de arte plástica. Arquitetos como Warchavchik, Rino Levi e Oswaldo Bratke que, de acordo com o crítico Hugo Segawa, se distinguiram pela elaboração de aspectos técnicos e artísticos na análise de condicionamentos funcionais e de programas complexos, também aparecem como referências.
Além disso, no contexto dos anos cinquenta, é preciso salientar que a criatividade da arquitetura brasileira foi usada como expressão do “nacional desenvolvimentismo” do governo Kubitschek. Nesse sentido, a arquitetura do Conjunto Nacional, concebida dentro de conceitos do International Style, foi idealizada para representar o avanço da indústria paulista e da classe econômica que o representava. Assim institucionalizada, estava comprometida com a ideologia nacionalista, com a política vigente e com a fração mais moderna da burguesia vinculada à acumulação monopolista, dentro do processo de industrialização do País. Em parte, isso explica porque Libeskind não teve maiores dificuldades em convencer os clientes das proposições formais. A sociedade progressista estava alinhada com os padrões da moderna arquitetura. Desse modo, a obra de David Libeskind expressa a arquitetura brasileira das décadas de cinquenta e sessenta.
Desde recém-formado Libeskind demonstra maturidade e domínio no exercício profissional, como se pode observar no projeto da residência de Goiânia, de 1952. Com total segurança, ele organiza os vários ambientes e tem um cuidado especial na implantação da edificação no lote, o que se percebe em todos os projetos dele. Nessa casa, as condições do clima local e as dificuldades com manutenção indicaram a cerâmica no acabamento externo e a orientação das aberturas. A pequena platibanda da cobertura reforça o volume retangular e plano, além de esconder diversas águas de telhas de cimento-amianto.
A volumetria horizontal que espraia a edificação no terreno representa uma característica comum dos primeiros projetos de residências de Libeskind, como a casa paulistana no bairro de Indianópolis onde os caixilhos do estar não conseguem romper com essa horizontalidade, reafirmada por um muro de pedra que, solto, marca a entrada da casa. Em algumas obras, Libeskind usa o muro de pedra ou de cerâmica com funções bastante claras: como elemento de transição entre o espaço construído fechado e o espaço aberto ou jardim e, também, como elemento organizador da composição volumétrica da fachada. Essas paredes ou muros impedem o contato direto da casa com as ruas e o entorno, além de segmentar as áreas de jardim, conforme o uso destinado ao ambiente.
Outra característica da arquitetura de Libeskind, a implantação precisa para o melhor aproveitamento das visuais, se revela nas residências dos bairros Ibirapuera e Pacaembu. Parte das áreas de serviços ficam enterradas para ganhar um nível intermediário, que serve de terraço do estar, voltado para o parque do Ibirapuera. Na casa do Pacaembu, com um desnível de mais de dez metros, obtém diferentes planos de terraços e jardins que são revelados pouco a pouco, como surpresas.
Nas décadas de cinquenta e sessenta a linguagem de David Libeskind mostra uma evolução articulada com a relação formal entre os volumes e entre os diferentes materiais de acabamento como pastilha cerâmica, Fulget, alumínio, ardósia, madeira e laminado plástico.
No edifício Arper, as formas remetem à sintaxe das casas. Uma parede revestida com placas de Fulget nasce na varanda da sala e ultrapassa a linha da fachada dos quartos. Essa fachada estabelece um contraste pelo uso das cores vermelho e azul dos caixilhos de alumínio que, associando elementos fixos e móveis, completam a vedação.
No banco Crefisul em Porto Alegre, a composição entre volumes – marcada pelo contraste, como no Conjunto Nacional – impõe uma inserção no ambiente urbano. Num conjunto de três volumes, o horizontal incorpora o padrão do entorno e, sem recuos, com três pavimentos, alinha-se com as construções da quadra. Porém, no térreo, determina um recuo lateral estratégico, ampliando o espaço de uma das calçadas. Com isso, cria um espaço para colocar uma escultura de sete toneladas feita em mármore de Carrara por Bruno Giorgi, na Itália.
Sensível às transformações das últimas décadas, Libeskind aproximou-se do neo-racionalismo, que compreende a arquitetura como referência da especificidade local, ou seja, uma apropriação regionalista que enfatiza fatores locais, a topografia, as visuais, as condições climáticas e a luz. Assim, seguiu um caminho que procura expressão no universalismo capaz de se adaptar ao domínio do indivíduo e da caracterização regional.
Na década de setenta, quando usa o concreto aparente, Libeskind promove uma mudança estética profunda. Porém, o emprego do concreto aparente restringe-se a alguns elementos da fachada e está associado a outros tipos de acabamentos externos. No edifício Casablanca, o concreto aparente do terraço e dos brises em forma de arcos acentua uma plástica movimentada.
Ele considera o concreto um material de alto custo, de difícil execução e que requer muita manutenção. Essa associação de materiais se estendeu até a década de oitenta, com elementos de concreto aparente como escadas, terraços, brises, platibandas, que surgem em construções de caráter mais regionalista como nos Chalés de Itu – um hotel dentro do condomínio Terras de São José -, na residência de Itu-SP e, ainda, no conjunto de apartamentos do condomínio Catamarã, no Guarujá-SP. Nos chalés e na residência de Itu, ele abandonou a cobertura plana e passou a utilizar o telhado inclinado, em quatro águas, com telhas cerâmicas, sem platibanda. Nesses casos, fica clara a necessidade de utilizar novas referências como forma de caracterizar uma expressão regional.
Por outro lado, se nos Chalés de Itu e na residência de Itu, os arcos – uma referência ao projeto do edifício Casablanca – ainda permanecem no desenho dos elementos de concreto, nos edifícios do condomínio Catamarã, esses desaparecem e os elementos de concreto assumem uma forma cúbica, ortogonal. Nesse caso, as abas verticais que descem dos peitoris dos terraços e, naqueles que descem das vigas de cobertura, além de funcionarem como brises, impedem a visão dos aparelhos de ar-condicionado.
Na década de noventa, Libeskind tem realizado mais projetos do que obra construída, com exceção de dois edifícios residenciais em Itu. Entre os que executou naquela década encontra-se ainda um grande complexo industrial em Manaus. Nesses projetos, ele abandonou o concreto aparente e recuperou o revestimento com pastilha cerâmica e com massa pintada com tintas especiais. Hoje, vem-se dedicando a reformas de residências e de apartamentos, o que inclui a arquitetura de interiores. Foi também designer de mobiliário e muitos dos projetos incluem móveis por ele criados. Em 1956, foi curador e organizador da primeira exposição individual do pintor fluminense Alberto da Veiga Guignard (1896-1962), no IAB de São Paulo. Como artista gráfico e pintor, David Libeskind participou de várias exposições coletivas e individuais, entre as décadas de sessenta e oitenta.
Libeskind também é responsável por diversas outras obras, em especial nas décadas de 1950 e 1960. Entre elas, o Edifício São Miguel, o Hospital Infantil da Faculdade de Medicina de Sorocaba, além de várias escolas, bancos e construções residenciais em Higienópolis, Pacaembu e no Jardins. Em 1970, o arquiteto assumiu o cargo de diretor de planejamento da Companhia Metropolitana de Habitação (Cohab).
Libeskind morreu em 9 de abril de 2014, em decorrência de infecção pulmonar, insuficiência cardiorrespiratória e complicações da Doença de Parkinson, aos 85 anos, em São Paulo.
(Fonte: http://www.estadao.com.br/noticias/cidades – Notícias > São Paulo – Felipe Resk – O Estado de S. Paulo – SÃO PAULO – 10 de abril de 2014)
(Fonte: http://au.pini.com.br/arquitetura-urbanismo/94 – Artigo – A modernidade imanente/ Por Sandra Maria Alaga Pini – Edição 94 – Fevereiro/2001)