Rómulo Gallegos, escritor, novelista e político venezuelano, ex-presidente da Venezuela.

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A saga do venezuelano que escreveu um clássico, elegeu-se presidente e foi deposto

 

Autor do romance ‘Doña Bárbara’, Rómulo Gallegos teve votação recorde em 1947

 

A saga do venezuelano que escreveu livro clássico e se elegeu presidente

 

 

Rómulo Gallegos Freire (Caracas, 2 de agosto de 1884 – Caracas, 4 de abril de 1969), escritor, novelista e político venezuelano nascido em Caracas, ex-presidente da Venezuela.

 

De uma família humilde de Caracas, estudou no Colegio Sucre e se licenciou em Filosofia, Literatura y Matemáticas e abandonou os estudos de direito e agrimensura na Universidade Central da Venezuela para dedicar-se ao ensino e à política.

 

Começou sua carreira literária (1909), ano em que participou da fundação da revista La Alborada. Participou do movimento modernista e seu primeiro livro foi a coletânea de contos Los aventureros (1913).

 

Foi professor (1912-1930) e dirigiu o Liceo Federal de Barcelona, Venezuela, la Escuela Normal de Caracas e o Liceo Andres Bello, de Caracas. Durante este período, publicou numerosas novelas centradas no cotidiano de seu país, como Reinaldo Solar (1920), La rebelión (1922), Los inmigrantes (1922), La trepadora (1925) e “Doña Bárbara” (1929), romance que o consagrou definitivamente como escritor.

 

 

“Doña Bárbara”, clássico da literatura venezuelana cujo autor Rómulo Gallegos, foi eleito presidente com votação recorde, em sua primeira eleição com voto direto, universal e secreto, o país elegeu um presidente com a impressionante maioria de 74%.

 

Nascido em Caracas em 2 de agosto de 1884, ele tinha 24 anos quando, ao lado de quatro amigos, lançou a revista La Alborada , publicação que refletia a animação dos jovens literatos com a queda de Cipriano Castro, ditador que nove anos antes chegara ao poder derrubando Ignacio Andrade naquela que ficou conhecida como a invasão dos 60”.

 

 

Nosso escuro passado nos fortaleceu, nosso silêncio nos dá direito a levantar à voz; posto que fomos vítimas, podemos ser acusadores”, dizia o editorial da primeira edição da revista que, se não teve vida longa – apenas oito números -, mostrou o suficiente para identificar no recurso ao par luz/escuridão o que mais adiante seria ponto axial no ideário do escritor: o pensamento positivista e seu ideal de reforma da moral e das instituições.

 

O que Gallegos e seus amigos talvez não imaginassem é que o novo presidente, general Juán Vicente Gómez, que havia aproveitado para tomar o poder enquanto Castro passava por tratamento de saúde na Europa, se tornaria também um ditador a comandar a Venezuela com mão de ferro até sua morte, em 1935, no período classificado pelo escritor Mariano Picón Salas como a época mais cruel de nossa história republicana”.

 

Colaborador de “El Cojo Ilustrado”, uma das mais importantes revistas literárias da América Latina no começo do século 20, Gallegos estreou oficialmente em livro em 1913, com a reunião de sete contos em “Los Aventureros”.

 

Em 1920, quando era diretor do Colégio Federal na cidade de Barcelona, a 300 km de Caracas, saiu o primeiro romance, “El Último Solar” – que mais tarde passaria a ter como título o nome do protagonista, Reinaldo Solar” . “Talvez seja a concepção que Gallegos tinha da Venezuela como um todo que Reinaldo simbolize: uma sociedade que não decidiu o que quer”, disse o crítico Jefferson Rea Spell no livro Contenporary Spanich-American Fiction”.

 

Luzardo, nascido no campo, abandona-o rumo à capital devido a uma tragédia familiar. Formado advogado, volta à região do rio Arauca para resgatar a fazenda da família, que vinha sendo roubada pela gananciosa proprietária das terras vizinhas.

 

 

Bárbara, fruto formado pela violência do branco aventureiro na sombria sensualidade da índia”, carece de delicadezas femininas, mas, versada em bruxaria e com algo de selvagem, belo e terrível ao mesmo tempo, manipula os homens para conseguir ampliar seus domínios.

 

Ainda hoje, há quem torça o nariz para o romance, tomado como base do chamado “mito da
democracia racial na Venezuela. Voz da elite “criolla” (descendente de europeus), o livro sustentaria
um modelo homogêneo de identidade nacional, na qual a mestiçagem anularia qualquer ação de
dominação de um grupo sobre o outro.

 

De 1938 a 1941 andei de ceca em Meca empunhando os originais da tradução de ‘Dona Bárbara’ em
busca de editor brasileiro”, contou em artigo no Jornal do Brasil em 1974.

 

De fato, o romance tem na transformação de Marisela, filha de Bárbara, o símbolo do novo que nasce
da ação da civilização sobre a barbárie. Mas Luzardo acaba também “manchado” pelas “leis do llano”,
pois, como diz o narrador, ‘a barbárie não perdoa a quem tenta dominá-la adaptando se a seus
procedimentos.

 

O próprio Gallegos experimentaria algo parecido. Com o sucesso do livro, Juán Vicente Gómez o
nomeou senador. Ele partiu para Nova York para evitar retaliações e de la rejeitou o cargo, seguindo
para a Espanha, de onde só retornou com a morte do ditador, em 1935.

 

De volta a Caracas, ajudou a fundar o partido Acción Democrática e participou do golpe civil-militar
que, chamado de “Revolução de Outubro”, levou Rómulo Betancourt à Presidência provisória do país
1945. Dois anos depois, nas primeiras eleições de voto direto, universal e secreto da Venezuela, foi
escolhido como novo presidente da República por 74% dos eleitores.

 

Nem mesmo tamanho apoio popular foi suficiente para mantê-lo no cargo. Nove meses depois de
assumir, aquele que pôs em marcha leis como a de combate à corrupção de funcionários públicos foi
deposto por outro golpe militar no pais, desta vez arquitetado por seu próprio ministro da Defesa.
Morto em 1969, o escritor viveu o suficiente para ver Mario Vargas Llosa vencer a primeira edição do
Prêmio Rómulo Gallegos de romances. Um dos mais importantes da América Latina, o concurso está
hoje suspenso por falta de verbas.

 

 

 

Senador durante o regime de Juan Vicente Gómez, rebelou-se contra o autoritarismo do presidente e exilou-se nos Estados Unidos (1931) e depois na Espanha (1931-1935), onde ativou sua produção literária.

 

Regressou à Venezuela (1936) e foi um dos fundadores do partido Acción Democrática, e foi nomeado Ministro de Educación, porém suas ideias reformistas na educação fracassar e foi demitido. Participou do golpe militar (1945) que levou ao poder Rómulo Betancourt e pela AD foi eleito para a presidência da república (1947). Exerceu o mandato de fevereiro até novembro do mesmo ano, sendo destituído por outro golpe militar (1948) liderado por Marcos Pérez Jiménez. Exilou-se em Cuba e no México , onde continuou dedicando-se à literatura.

 

Retornou ao país após a queda do ditador Jiménez, dez anos depois (1958) e morreu em Caracas deixando uma obra em destacaram-se ainda as novelas Cantaclaro (1934) e Canaima (1935), Pobre negro (1937), El Forastero (1942), Sobre la misma tierra (1943), La Brizna de paja en el viento (1952), Una posición en la vida (1954) e El Ultimo Patriota (1957) e o livro de contos La rebelión (1946). A Universidad de Columbia lhe conferiu o Doutorado Honoris Causa (1948), mas devido ao seu idealismo renunciou ao título (1955) quando a mesma distinção foi outorgada ao ditador guatemalteco Carlos Castillo Armas.

 

Também foi distinguido por várias outras universidades, entre elas a Universidad de San Carlos, Guatemala (1951), a Universidad de Costa Rica (1951), a University of Oklahoma, USA (1951), a Universidad Central de Venezuela (1958), a Universidad de Los Andes, Venezuela (1958).

 

Morto em 4 de abril de 1969, o escritor viveu o suficiente para ver Mario Vargas Llosa vencer a primeira edição do Prêmio Rómulo Gallegos de romances. Um dos mais importantes da América Latina.

(Fonte: https://www1.folha.uol.com.br/ilustrissima/2019/05 – ILUSTRÍSSIMA / Por Rodrigo Simon – 19.mai.2019)

Rodrigo Simon é jornalista, mestre em letras pela USP.

(Fonte: Veja, 16 de abril de 1969 – Edição 32 – INTERNACIONAL – Pág: 32)

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