FÁBRICA DE VIDA
Proteína artificial
Robert Bruce Merrifield (Fort Worth, 15 de julho de 1921 – Cresskill, 14 de maio de 2006), químico americano que conseguiu simplificar as proteínas no processo de sintetizar as enzimas que provocam as reações químicas que mantêm a vida.
Os hormônios que regulam o metabolismo, o crescimento e a reprodução também são proteínas. Os anticorpos que formam a linha de frente na defesa do organismo contra doenças ainda são proteínas. Até o início do século 20 só a natureza as fabricava. Até 1956, quando Merrifield, conseguiu simplificar o processo para sintetizá-las, elas custavam muito trabalho e dinheiro. Em outubro de 1984, exatamente por ter descoberto o método que leva seu nome, Merrifield foi laureado com o Prêmio Nobel de Química de 1984.
“O método Merrifield permitiu um grande processo no campo da Bioquímica, da Biologia Molecular, da Farmacologia e da Medicina”, justificou a Real Academia Sueca de Ciências ao anunciar o nome do químico premiado. “Fundamentalmente, ele revolucionou a fabricação de medicamentos”, acrescentou a academia. Merrifield soube de sua indicação por uma funcionária do laboratório da Universidade Rockefeller, em Nova York, onde trabalha desde 1949.
COLISEU ROMANO – A síntese de proteínas começou a ser tentada no início do século 19 pelo alemão Emil Fischer e foi aperfeiçoada na década de 30 pelo cientista alemão Max Bergmann. Como as proteínas são essencialmente combinações de aminoácidos que os cientistas podiam isolar na natureza, acreditava-se que, juntando-os de acordo com as sequências conhecidas, se podiam fabricar proteínas nos laboratórios. Em anos de tentativas aconteceu de tudo. Os aminoácidos combinavam-se invertidos e, quando se combinavam na ordem certa, demoravam até dois anos para juntar-se um ao outro. Merrifield explica: “A situação seria semelhante à deu uma mosca entrando no Coliseu romano. As dimensões relativas seriam praticamente as mesmas e é claro que a mosca poderia entrar facilmente pelos arcos abertos e achar seu caminho em volta das paredes e dos pilares. Mas levaria um bom tempo para atingir algumas das áreas e algumas fendas e criptas seriam completamente inacessíveis.”
Para compensar esses contratempos, ele concebeu uma nova forma para iniciar o processo de construção de proteínas. Passou a ligar o primeiro aminoácido a uma resina que, além de limitar as possíveis combinações químicas da experiência, firmava a estrutura que estava sendo construída. Garantida a primeira ligação, o resto era mais fácil:juntavam-se os aminoácidos seguintes até se chegar ao desenho desejado. O professor Merrifield tornou-se o primeiro a sintetizar uma proteína idêntica à da ribonucleose bovina, encontrada na carne. Para construí-la, teve de juntar, na ordem certa, 124 aminoácidos.
Além de fazer a descoberta científica, ele teve a percepção de que o seu processo podia ser elaborado mecanicamente. Assim, criou três máquinas sintetizadoras que, como o método, levam o seu nome.
(Fonte: Veja, 24 de outubro de 1984 – Edição 842 – CIÊNCIA – Pág: 58)