Federico García Lorca (Fuente Vaqueros, Espanha, 5 de junho de 1898 – Viznar, Espanha, 19 de agosto de 1936), poeta e dramaturgo espanhol, e uma das primeiras vítimas da Guerra Civil Espanhola.
Da Guerra Civil Espanhola, a mais trágica e cruel do século XX, todos sairiam derrotados. Os danos infligidos à alma espanhola, e que se prolongou por três décadas, incluiu uma rígida e sistemática censura ao espírito, as constantes arbitrariedades policiais, a interdição do voto livre e um radical e persistente desrespeito à pessoa humana.
Essa longa série de martírios pode ser facilmente simbolizada por inúmeros episódios, dos quais o mais eloquente continua sendo o assunto do maior poeta espanhol do século XX por militares franquistas, em agosto de 1936. Não chega a ser difícil entender as razões que levariam Federico García Lorca, morto aos 38 anos de idade, a se transformar em alvo da fúria fascista. Embora a nação espanhola fosse para ele um dado quase físico e o povo espanhol reconhecesse em sua linguagem algo inventado pelas aldeias, Lorca tinha ojeriza ao patriotismo retrógrado das bandeiras e dos hinos.
Político, não – Isso o levava a dizer coisas perigosas como: “No dia em que a fome for eliminada, haverá a maior explosão espiritual que o mundo já viu”. No entanto, o próprio Lorca declarava: “Nunca serei um político, nunca! Tal como todos os verdadeiros poetas, sou um revolucionário, mas um político – nunca!”
Os tempos, porém, eram de patriotismo exacerbado, injustiças gritantes e anti-revolucionários militantes. E Lorca se vê envolvido numa trama de preconceitos que o assimilam ao ideal republicano. No entanto, nunca se perde de vista a significação profunda da morte do poeta. “A repressão”, evoca Granada de maneira vigorosa: das 3 000 pessoas ali executadas entre 1936 e 1939, cerca de 600 foram vítimas dos fuzilamentos sumários de agosto de 1936.
Intelectuais, médicos, operários e juristas sumiram na madrugada. E, de noite, uma população assustada ouvia disparos vindos do cemitério. García Lorca foi uma dessas vítimas – através dela o fascismo espanhol tentava livrar-se da poesia.
(Fonte: Veja, 9 de fevereiro de 1977 – Edição 440 – LIVROS/ Por CLÁUDIO BOJUNGA – DATAS – Pág: 96/98)