Adão Latorre, coronel, alcunha Negro Adão, ficou conhecido na história das revoluções rio-grandenses como um tipo sanguinário. Conta-se que no combate do Rio Negro os federalistas fizeram cerca de mil prisioneiros, dos quais uns trezentos teriam sido encurralados numa mangueira e degolados pelo Negro Adão, em pessoa.
O combate se deu logo no início das hostilidades, em novembro de 1893, quando Adão Latorre tinha o posto de tenente-coronel. A revolução prosseguiu, tendo ele conquistado mais uma divisa, chegando a coronel das forças federalistas.
Parece que a sua espantosa performance como grande degolador ficou cincunscrita ao episódio de Rio Negro.
Não foi, entretanto, por causa disso que ele recebeu, muito antes de ser estigmatizado como degolador, o posto de tenente-coronel, uma graduação atribuída, nas revoluções rio-grandenses, não a bandidos e, ainda menos, a degoladores, mas a homens dotados de atributos como a bravura, o tino guerreiro e a voz de comando.
Comandava à frente do destacamento que comandava em 1893, mais de uma centena de homens, na grande maioria brancos e bem pilchados, alguns com aspecto de campeiros abonados, outros com jeito de patrão.
Para chegar a essa posição, na escala do caudilhismo rio-grandense, sendo ele gaúcho pobre e, ainda por cima, de pele retinta, Adão Latorre tinha de possuir, necessariamente, credenciais e capacidades bem diferentes das de um simples degolador.
Se não fosse o seu envolvimento repulsivo, no pavoroso episódio do Rio Negro, ele estaria na galeria do caudilhismo gaúcho, não como bandido, mas como herói, com a singularidade de ter sido o primeiro negro que, vencendo arraigados preconceitos, impôs a sua têmpera de chefe guerrilheiro nas coxilhas do Rio Grande, dirigido, nas suas intrépidas cargas de lança, combatentes que, em tempos de paz, tinham situação econômica e social muito superiores às suas. Morreu na Revolução de 1923, com mais de 80 anos.
(Fonte: SAUDAÇÕES AFTOSAS CARLOS REVERBEL MARTINS LIVREIRO POA – Pág:92)