Ferdinand Porsche e seu filho. Dupla revitalizou a empresa depois da Segunda Guerra Mundial
Ferdinand Porsche e seu filho, Ferry, criador de um dos maiores ícones dos carros esportivos e de competição
Pai e filho fizeram da Porsche referência em carros de luxo
Família superou passado ligado ao nazismo e transformou marca em símbolo de sofisticação e velocidade
Sinônimo de luxo e conforto, os carros da Porsche são o sonho de consumo de quase todos os amantes de automóveis. Porém, para construir esta sólida imagem que tem hoje, a empresa teve de superar uma série de dificuldades, como um passado ligado ao nazismo e sua quase falência por conta dos embargos no pós-Segunda Guerra Mundial. Tudo isso só foi possível graças ao trabalho conjunto de Ferdinand Porsche, fundador de empresa, e de seu filho, Ferry, criador do modelo que deu fama mundial à corporação e a transformou em um dos maiores ícones dos carros esportivos e de competição da atualidade.
Ferdinand Porsche nasceu em 1875, na Boêmia, região que na época fazia parte do Império Austro-Húngaro e hoje integra a República Tcheca. Seu pai era um mecânico que fazia reparos em carrocerias de veículos avariados. Desde cedo, o jovem mostrou aptidão com trabalhos mecânicos e deu mostras de que seguiria os passos do pai. Estudava em uma escola técnica à noite e ajudava na oficina da família durante o dia.
Graças a isso, ele conseguiu emprego em uma companhia elétrica de Viena quando completou 18 anos. Em 1898, Porsche passou a trabalhar na Jakob Lohner & Company, empresa que produzia automóveis na então capital do Império Austro-Húngaro. Três anos depois, criou o primeiro sistema de alimentação de motores que combinava gasolina e eletricidade – precursor da tecnologia hoje utilizada nos carros híbridos –, mas o alto custo dos componentes na época impediu sua popularização e produção em larga escala.
Ao mesmo tempo, começou a projetar e testar carros de corrida, que passaram a obter resultados expressivos. Assim, em 1905 ele ganhou o prêmio Pötting, que era dado ao mais destacado engenheiro automotivo da Áustria de cada ano. A premiação abriu as portas para que ele passasse a ocupar posições de destaque em uma série de montadoras até 1929, quando a empresa em que trabalhava faliu por conta da Grande Depressão.
Ascensão com o nazismo
Desempregado e com mais de 50 anos, Porsche decidiu montar seu próprio negócio. No entanto, ele só conseguiria realizar seu sonho dois anos depois, quando nasceu a Porsche GmbH, empresa de design e prestação de serviços de consultoria para motores e veículos.
Inicialmente, o negócio tinha apenas 12 funcionários, em sua maioria antigos colegas de trabalho do fundador. Seu primeiro projeto foi o desenho de um carro voltado para a classe média para a montadora Wanderer. Em 1933, ele criou uma subsidiária para projetar carros de corrida. Sua maior criação foi o Auto Union, que bateu três recordes mundiais em janeiro de 1934 e trouxe conceitos usados até hoje em carros de Fórmula 1.
Nesta época, o chanceler alemão Adolf Hitler anunciou sua intenção de motorizar a nação, para integrá-la por meio das rodovias. Porsche foi contratado para criar um carro barato e que pudesse ser produzido em massa. Após quatro anos de dedicação, ele entregou a Hitler o projeto do Volkswagen (literalmente, “carro popular” em alemão). O modelo, que anos mais tarde passaria a ser chamado de Fusca no Brasil, começou a ser produzido imediatamente e seguiu com o mesmo layout até 2003, com mais de 21 milhões de unidades saídas das fábricas da montadora que foi criada especialmente para a produção do modelo e batizada em sua homenagem.
Com o fim do conflito, Ferdinand foi preso na França como criminoso de guerra por ter sido membro do Partido Nazista e oficial honorário da SS, além de ter ajudado na produção de tanques e armas de guerra. Durante os 20 meses em que ficou encarcerado, seu filho Ferry Porsche, que trabalhava como piloto de testes na corporação, assumiu os negócios e começou a trabalhar no protótipo de um carro que levasse o nome da família. Nascia assim o Porsche 359, cujas primeiras 49 unidades foram produzidas artesanalmente em uma serraria na Áustria.
Trabalho em família
Após ser solto, Ferdinand e sua família se estabeleceram em Stuttgart sem saber como recomeçar seus negócios. Os bancos não lhe davam crédito, pois suas fábricas não podiam ser penhoradas por conta do embargo imposto à Alemanha pelas forças de ocupação norte-americanas. Como último recurso, o fundador da Porsche pegou uma das unidades do 356 e a apresentou para revendedores da Volkswagen, na esperança de conseguir algumas encomendas do carro com pagamento adiantado, levantando capital suficiente para reativar a produção.
A ideia deu certo, mas Ferdinand faleceu em 1951, sem poder acompanhar a ascensão da sua empresa. Seu filho, por outro lado, ajudou a modernizar o Porsche 356, que se tornou um enorme sucesso, vendendo mais de 78 mil unidades nos 17 anos seguintes. As finanças da corporação ficaram ainda melhores quando, em meados dos anos 1950, ela começou a receber royalties por cada Fusca produzido.
Com recursos, Ferry pôde investir na produção de veículos de competição, que rapidamente ganharam notoriedade e inúmeras corridas, como as 24h de Le Mans, as 24h de Daytona e o Rally Paris-Dakar. Estima-se que os carros da Porsche tenham ganhado mais de 24 mil corridas ao redor do mundo até os dias de hoje, fazendo do nome da empresa sinônimo de qualidade e velocidade.
Para completar, em 1964 o modelo 356 estava ficando ultrapassado e a empresa decidiu lançar um novo modelo que acabou se tornando um dos maiores símbolos dos carros esportivos até os dias atuais: o Porsche 911. Com motor traseiro de seis cilindros, dois litros e 130 hp de potência, o carro se tornou um sucesso instantâneo, com um custo de cerca de US$ 5,5 mil.
Ao longo das décadas, a linha 911 foi remodelada várias vezes, dando origem a modelos de sucesso como o 911 S, de 1967; o 911 Turbo, de 1974; o 911 Cabriolet, de 1983; e o 911 Carrera, de 1999. Além dos modelos próprios, a Porsche nunca deixou de atuar no mercado de projetos, trabalhando junto de outras empresas ao longo da sua história, como Marcedes-Benz, Volkswagen, Audi, Harley Davidson, e até a soviética AvtoDAZ e a fabricante de aviões Airbus. Tudo isso faz com que a marca seja hoje uma das mais consolidadas do setor automotivo, registrando um lucro superior a 14 bilhões de euros em 2013.
(Fonte: http://economia.terra.com.br – SEBRAE – ECONOMIA – CARREIRA – Vida de Empresário – 16 de setembro de 2014)