Mestre Dezinho e as esculturas sacras
José Alves de Oliveira (Valença, Piauí, 2 de março de 1916 - Valença, 20 de fevereiro de 2000), artista mais conhecido como o Mestre Dezinho de Teresina.
Ex-vigia noturno, marceneiro de móveis baratos, transformou-se em celebrado escultor absolutamente por acaso. Povoou um vasto universo pessoal com santos, anjos, vaqueiros, rendeiras, cangaceiros ou simplesmente caboclos, homens comuns como ele, sertanejos.
Foi em 1971, assim que deixou sua Valença do Piauí, uma cidadezinha plantada em plena caatinga, para morar em Teresina. O vigário da Igreja de Nossa Senhora de Lourdes, padre Francisco Carvalho, para quem Dezinho fabricava móveis, precisava de imagens novas para seus altares reformados, mas não tinha dinheiro para contratar santeiros de nome.
Encomendou-as a Mestre Dezinho, cuja única incursão pela escultura, até então, tinham sido os ordinários ex-votos para os amigos mais chegados pagarem suas promessas ao Padre Cícero Romão Batista. Seis meses depois, Mestre Dezinho entregou-lhe o púlpito, o próprio altar-mor e uma dúzia de anjos e santos, Nossa Senhora de Lourdes à frente.
ATRAÇÃO LOCAL – Em seguida vieram os elogios e a igreja se tornou atração turística, tão famosa quanto os banhos no rio Parnaíba, que circunda a capital. Mestre Dezinho sentiu-se gratificado. Os rostos angulosos e a baixa estatura de seus personagens terminam por denunciar o biotipo nordestino que o inspira.
Já com o curso superior concluído, Mestre Dezinho tem um currículo que inclui a Bienal de São Paulo, exposições no Centro Domus de Milão, a Bienal de Bratislava, na Checoslováquia, onde foi premiado em 1974, e individuais no Rio de Janeiro e São Paulo. Com o tempo, deixou a técnica dos gravadores populares. Abandonou o formão, substituindo-o pelos tocos de faca.
(Fonte: Veja, 7 de janeiro de 1981 – Edição 644 – Arte/ Por José Maria Andrade, do Recife – Pág: 81)