Sem consulta aos demais países, o presidente George Bush recriou a Quarta Frota da Marinha dos Estados Unidos, que deverá proteger seus interesses nas águas da América Latina e Caribe.
Um levantamento do professor John Coatsworth, da Universidade Columbia, ensina que, entre 1898 e 1994, os Estados Unidos ajudaram a derrubar 41 governos latino-americanos. Um a cada 28 meses. As intervenções militares diretas foram 17 e, não está contabilizada a fracassada invasão de Cuba, de 1961, e a deposição do presidente haitiano Jean-Bertrand Aristide, em 1984.
No Brasil, faz-se de conta que a frota só ameaça os outros. Falso. A primeira intervenção americana ocorreu em 1864, com o seqüestro de um vapor confederado no porto de Salvador, Estão documentadas outras três.
A maior de todas, durante a Segunda Guerra Mundial, ficou no papel. Segundo a primeira versão do Plano do Teatro de Operações do Nordeste do Brasil, de 1° de novembro de 1941 (um mês antes do ataque japonês a Pearl Harbour), os Estados Unidos desembarcariam até cem mil soldados num arco que iria de Belém a Salvador. A cabeça de ponte da invasão ficaria em Natal. Getúlio Vargas entendeu que não lhe restava outro caminho e cedeu aos americanos o acesso ao Saliente Nordestino.
A frota americana meteu-se na vida nacional em duas outras ocasiões. A primeira, em 1893, contribuiu para o fim da Revolta da Armada e a convocação de eleições por Floriano Peixoto. Os Estados Unidos concentraram na Baía da Guanabara cinco cruzadores, equivalentes a um terço da tonelagem da Marinha americana. Esse foi o primeiro grande lance de imperialismo naval da história dos Estados Unidos.
Em 1964, quando a Quarta Frota estava desativada, os Estados Unidos planejaram outra intervenção. Chamou-se Operação Brother Sam e era formada por um porta-aviões e seis contra-torpedeiros. Destinava-se a mostrar que a Casa Branca estava do lado da revolta contra o presidente João Goulart. O espetáculo militar foi desnecessário e os barcos deram meia-volta.
(Fonte: Correio do Povo Ano113 N° 280 Geral Por Elio Gaspari – Domingo, 6 de julho de 2008 Pág; 6)