Hugo Assmann (Venâncio Aires, 22 de julho de 1933 – São Paulo, 22 de fevereiro de 2008), teólogo e educador, foi um dos mais importantes teólogos brasileiros das últimas décadas
Hugo Assmann foi um dos precursores da Teologia da Libertação no Brasil e na América Latina. Natural de Venâncio Aires, cidade gaúcha a 120 quilômetros de Porto Alegre, aos 22 de julho de 1933. Assmann publicou 41 livros, boa parte na área da Educação.
Hugo Assmann nasceu em Venâncio Aires, RS, aos 22 de julho de 1933, fez seus estudos de Filosofia no Seminário Central de São Leopoldo (1951-1954) e de Teologia na Pontifícia Universidade Gregoriana de Roma, dos Jesuítas (1954-1958). Ordenou-se padre em 1958, em Roma. No ano letivo 1959/1960, realizou estudos de pós-graduação em Sociologia na Universität Johann Wolfgang Goethe, em Frankfurt am Main.
Realizou, a seguir, seus estudos e pesquisas de doutorado em Teologia, obtendo o título de Doutor em 1961, pela Pontifícia Universidade Gregoriana de Roma, com a tese “A dimensão social do pecado”. Seu orientador foi o jesuíta Joseph Fuchs, um dos teólogos influentes na renovação da Teologia Moral no contexto do Concílio Vaticano II (1962-1965). De volta ao Brasil, estabeleceu-se em Porto Alegre, onde foi vigário da Paróquia de Nossa Senhora do Mont Serrat e professor de teologia no Seminário de Viamão.
Assmann foi um dos precursores da Teologia da Libertação. Num primeiro momento, sua reflexão se realizou na linha de uma Teologia do Desenvolvimento. Sobre essa temática, a partir de 1961 publicou artigos marcantes na “Revista Seminário”, que depois passou a se chamar “Ponto Homem”. Em 1968, publicou na Revista Vozes, nº 62, o artigo “Tarefa e limitações de uma teologia do desenvolvimento”. Num segundo momento sua reflexão avançou para uma Teologia da Revolução: seu livro “OpressãoLiberação.
Desafio aos cristãos”, publicado no Uruguai, em 1971, aponta essa direção. Na Revista Ponto Homen [4 (1968):6- 58], publicou o artigo “Caracterização de uma
Teologia da Revolução”.
A partir do golpe de 1964, suas tensões com o conservador Dom Vicente Scherer, Arcebispo de Porto Alegre, aumentaram significativamente; Hugo resolveu deixar a capital gaúcha, foi morar em São Paulo e começou a lecionar no Instituto de Filosofia e Teologia, IFT, no Ipiranga. Continuou seus estudos e publicações teológicas e viajou por diversos estados brasileiros, fazendo palestras e desenvolvendo cursos sobre a Teologia LatinoAmericana.
Hugo participou também da Conferência Episcopal Latino-Americana de Medellín, como teólogo assessor dos bispos brasileiros, em agosto/setembro de 1968. Medellín foi um marco na igreja latino-americana, pós Vaticano II. Teve o apoio e a participação de Paulo VI, na abertura da Conferência. E os três temas fundamentais que permearam os documentos de Medellín foram: Opção pelos pobres; Teologia da Libertação; Comunidades Eclesiais de Base.
Em dezembro de 1968, com o Ato Institucional nº 5 e o conseqüente endurecimento do regime militar, Hugo resolveu deixar o país e, inicialmente, buscou refúgio na Alemanha. Já havia recebido convite dos teólogos católicos alemães Karl Rahner e Johann Baptist Metz para escrever um artigo sobre Teologia Política. Hugo escreveu o artigo em Munique e depois, pela mediação de Metz, lecionou a disciplina “Teologia Latino-Americana” na Universität de Münster, no ano letivo 1969/1970. Foi em Munique que Hugo conheceu o grande amor de sua vida, Melsene Ludwig, gaúcha de Porto Alegre, que nesse período trabalhava em Munique na British European Airways, e depois se transferiu para Münster, trabalhando na “Secretaria do Trabalho” daquele município. Mel e Hugo nunca mais se separaram. Durante 39 anos viveram juntos, trabalharam juntos, tiveram dois filhos e combateram, juntos, o bom combate da vida.
Em 1970, convidado por um amigo jesuíta, refugiou-se no Uruguai, trabalhou como pesquisador no Centro Pedro Fabro e como professor Tempo Parcial 20 horas na Universidad de La República de Montevideo, lecionando a disciplina “Ética social”, para o curso de Pedagogia da Faculdade de Educação. Mel permaneceu na Alemanha.
Assmann publicou o livro Opressión-Liberación. Desafios a los cristianos, em Montividéu, 1971. No final de 1970, convidado pelos Padres Oblatos, se transferiu para Oruro, Bolívia, e trabalhou como teólogo e investigador, no Instituto de Pesquisa, financiado com verbas canadenses. Com o golpe de Hugo Banzer, na Bolívia, em agosto de 1971, foi obrigado a deixar Oruro e fugiu para o Chile, em plena época do governo do socialista Allende, para trabalhar com os jesuítas e no ISAL – Igreja e Sociedade na América Latina, instituto ecumênico financiado pelo Conselho Mundial das Igrejas.
É de lá que ele enviou um telegrama a Mel: “Estou no Chile: venha”. E a Mel chegou ao final de novembro de 1971 e trabalhou com Hugo no ISAL. Hugo também lecionou por dois anos, 1972/1973, a disciplina Comunicação Social na Universidade Católica do Chile, 20 horas semanais. No Chile ele ajudou na criação do CEREN, Centro de Estúdios de La Realidad Nacional, ligado à Universidade Católica, que publicava Cuadernos de La Realidad Nacional. E lá também conheceu Franz Hinkelammert e Pablo Richard, que depois trabalharão juntos no DEI, em Costa Rica.
Hugo e Mel permaneceram no Chile até pouco depois do fatídico golpe de Pinochet, aos 11 de setembro de 1973. No Chile nos deparamos com Hugo plenamente atuante na Teologia da Libertação. É de 1973 o seu livro “Teologia desde la práxis de la liberacion”, considerado por Enrique Dussel como a primeira demarcação da Teologia da Libertação. É desse período também a elaboração da importante obra “Marx, K & Engels, F. Sobre La religión”, escrita juntamente com Reyes Mate, e publicada posteriormente, em 1979, pela Editora Sígueme, de Salamanca, Espanha. Participa, como assessor teológico, do movimento “cristãos para o socialismo”. No final de exílio do casal Assmann, em Santiago, nasceu sua filha Careimi. Felicidade e tensão, ao mesmo tempo, pois o nascimento da menina se deu três semanas após o golpe de Pinochet e logo depois, em janeiro de 1974, são obrigados a deixar o Chile e vão para São José da Costa Rica, passando pelo Peru.
Na Costa Rica vão permanecer durante sete anos. Hugo lecionou Comunicação na Universidad de Costa Rica, e Sociologia na Universidad Nacional, em Heredia, município vizinho da capital, de 1974 a 1980. Ao mesmo tempo participou com Mel e outros teólogos latino-americanos da fundação do DEI – Departamento Ecumênico de Investigaciones, financiado inicialmente pelo conselho Mundial das Igrejas, centro por excelência de formação pastoral, teológica para cristãos vindos de diversos países da América Latina. Pelo DEI passaram pessoas importantes: o poeta nicaragüense Ernesto Cardenal, o Arcebispo Oscar Romero, de El Salvador, o ministro Sérgio Ramires, do comando sandinista, o teólogo da libertação Gustavo Gutierrez, o filósofo da libertação Enrique Dussel. Hugo e Mel tiveram o prazer de hospedar em sua casa, dentre outros, Lula, Frei Betto, Paulo Freire, Hélio Bicudo.
Hugo, além de suas atividades específicas como professor nas duas universidades e seus cursos no DEI, viajou várias vezes a Cuba, a Manágua, ao México, aos EUA e à Europa, dando cursos e conferências sobre suas pesquisas teológicas. Antes, porém, de iniciar a sua incursão teórica pelos meandros religiosos do mercado Assmann publicou, juntamente com Theotônio dos Santos, Noam Chomsky, Franz Hinkelammert e outros intelectuais o livro, “Carter y la lógica del Imperialismo” (em dois volumes, Costa Rica, 1978), que foi traduzido em várias línguas, e publicado pela Vozes, 1986, com o nome “A trilateral. A nova fase do capitalismo mundial”. Ajudou a fundar a Associação Ecumênica de Teólogos do Terceiro Mundo, EATWOT, em agosto de 1976. E continua a levar adiante “a importante e inovadora reflexão teológica sobre a Economia” e, junto com Franz Hinkelammert, ex-seminarista e economista, escreveu a importante obra “A idolatria do mercado: um ensaio sobre economia e teologia” (publicada pela Vozes, em 1989).
Relacionado a essa temática, Hugo publica outras obras: “Clamor dos pobres e ‘racionalidade econômica’ (publicada pela Editora São Paulo, 1990), “Crítica à lógica da exclusão. Ensaios sobre economia e teologia”(publicada pela Editora São Paulo, 1994). Em 1975, o casal Assmann teve seu segundo filho, o Eremin. É do teólogo Assmann a pertinente reflexão que caracterizava bem a densidade e o engajamento de sua teologia: “Se a situação histórica de dependência e dominação de dois terços da humanidade, com seus 30 milhões anuais de mortos de fome e desnutrição, não se converte no ponto de partida de qualquer teologia cristã hoje, mesmo nos países ricos e dominadores, a teologia não poderá situar e concretizar historicamente seus temas fundamentais. Suas perguntas não serão perguntais reais. Passarão ao lado do homem real” (do livro Teologia desde La práxis de La liberación, 1973).
Em 1981, a convite do prof. Elias Boaventura, então reitor da Universidade Metodista de Piracicaba, Hugo e Mel voltaram ao Brasil – a anistia tinha se dado pouco tempo antes – e iniciaram seu trabalho na UNIMEP: Hugo como professor de Sociologia e Comunicação e Mel em atividades de secretaria. Hugo e Mel participaram da criação da Editora da UNIMEP no início do ano 1981, sendo ele seu primeiro editor. Entre as primeiras obras editadas está o livro de Enrique Dussel “A Filosofia da Libertação”(em co-edição com a Loyola), 1982, e a tese de doutorado de Bruno Pucci, “A Nova Práxis Educacional da Igreja: 1968-1979” (em co-edição com as Paulinas), 1984. Hugo fez parte também do Conselho de Política Editorial da UNIMEP, responsável pela criação da Impulso, nos anos 1987, que surgia como uma revista para apoiar a constituição da Pós-Graduação na UNIMEP, estabelecendo espaço editorial para o debate das questões
que norteavam, no momento, a área de Educação.
Hugo iniciou suas atividades no Programa de Pós-Graduação em Educação, PPGE, no ainda no ano de 1981, participando, em dezembro desse mesmo ano da banca de defesa da 12ª dissertação do PPGE/UNIMEP, defendida por Antônio Geraldo de Aguiar. Orientou 43 dissertações de mestrado e 11 teses de doutorado. Sua primeira orientanda de mestrado foi Jane de Oliveira, que iniciou o curso em março de 1983 e defendeu sua dissertação em novembro de 1985. Seu primeiro orientando de doutorado foi Laerthe de Moraes Abreu Junior, que iniciou o curso em março de 1993 e defendeu sua tese em novembro de 1995.
Assmann foi também o primeiro professor da UNIMEP a orientar estudos de Pós-Doutorado, tendo como orientando Jung Mo Sung, que apresentou seu trabalho final em 1999. Do diálogo entre orientador e orientando deste Pós-Doutorado foi construído o livro Competência e Sensibilidade solidária: Educar para a Esperança, editado pela Vozes (2000). Nas décadas de 1980 e de 1990, até 1994, predominaram, nas publicações de Hugo, artigos, livros e capítulos de livros sobre questões relacionadas à teologia.
A partir do ano 1994, já mais integrado nas atividades da PósGraduação em Educação, Hugo produziu textos sobre os paradigmas educacionais e a questão da corporeidade. Desde o ano 1997, suas pesquisas se direcionaram prioritariamente para questões educacionais no interior da Sociedade do Conhecimento, que o acompanharam até o final do ano 2005, quando encerrou suas atividades no PPGE, por problemas de saúde. Hugo se utilizou constantemente, nos últimos dez anos de sua produção científica, das contribuições de Edgar Morin e de sua teoria da complexidade. Sua publicação mais importante no terreno da comunicação foi “A Igreja electrônica e seu impacto na América Latina”(Vozes, 1986), onde analisou o caráter ideológico dos programas radiofônicos e televisivos controlados pelos tele-pregadores norte-americanos e suas repercussões nos movimentos pentecostais latino-americanos.
Os livros educacionais de Hugo mais conhecidos são: “Paradigmas Educacionais e Corporeidade” (1994), editado pela Editora da UNIMEP, 3 edições; “Metáforas Novas para Reencantar a Educação: epistemologia e didática” (1996), Editora da UNIMEP, 3ª edição, em 2001; “Reencantar e Educação: rumo à sociedade aprendente” (1998), Editora Vozes, 10ª edição, em 2007. Este livro, com o título “Placer y Ternura en la Educación – Hacia una sociedad aprendiente”, foi publicado na Espanha, em 2002; “Competência e Sensibilidade solidária: Educar para a Esperança”, em co-autoria com Jung Mo Sung, (2000), Editora Vozes, 4 edições; “Curiosidade e Prazer de Aprender. O papel da curiosidade na aprendizagem criativa”(2004), Editora Vozes, 3 edições (também já traduzido ao espanhol).“Redes digitais e metamorfoses do aprender”, em co-autoria com: Rosana Pereira Lopes, Rosemeire Carvalho do Amaral Delcin, Gilberto Canto e Getúlio de Souza Nunes (2005). Enquanto gozava de boa saúde, nos anos 1998 a 2003, fez diversas conferências sobre educação, sobretudo nos estados do sul, com a presença de um número significativo de ouvintes.
Assmann, teólogo católico, viveu exilado, durante os anos da ditadura militar brasileira, no Uruguai, no Chile e na Costa Rica, onde fundou o Departamento Ecumênico de Investigação (DEI). Ao regressar dos exílios, em 1981, foi admitido como professor na Universidade Metodista de Piracicaba (Unimep), na qual trabalhou durante 24 anos, até 2005.
Hugo Assmann faleceu em 22 de fevereiro de 2008, aos 75 anos, vítima de parada cardíaca, em São Paulo.
(Fonte: http://www.novolhar.com.br/noticia_edicoes.php?id=4891 – ARTIGOS – GERAL – 25 de fevereiro de 2008)
(Fonte: http://www.unimep.br/~bpucci/artigo-hugo-assmann – Bruno Pucci, Cleiton de Oliveira e Christine Betty)