Fernando Henrique
O intelectual brilhante foi seduzido pelo embate político e registra o feito inédito da reeleição à Presidência pelo voto direto.
Filho e neto de militares, Fernando Henrique Cardoso nasceu em 1931, no Rio de Janeiro, e desde cedo teve uma educação rigorosa. Aos três anos estava alfabetizado. Formou-se em Ciências Sociais na Universidade de São Paulo (USP) com brilhantismo. Influenciado pelas convicções políticas do pai, o general Leônidas Cardoso, que nos anos 50 participara da campanha O Petróleo é Nosso, o universitário Fernando Henrique encontrava tempo para ser secretário de uma publicação do Partido Comunista.
Sob a acusação de atividades subversivas, teve a prisão decretada pelo regime militar instaurado em 1964. Fugiu para o Chile, onde escreveu em parceria com Enzo Faletto a obra Dependência e Desenvolvimento na América Latina, um clássico do pensamento econômico de esquerda. De volta ao Brasil em 1968, suas posições políticas desagradavam ao regime militar e foi aposentado do cargo de professor de Ciências Políticas da USP. Durante cinco anos, ensinou em universidades estrangeiras.
O retorno definitivo deu-se em 1973, quando engajou-se no partido de oposição ao governo instalado no poder desde 1964. Ali começava a carreira política que culminaria com um feito histórico: iria tornar-se o primeiro presidente na história da República a ser reeleito pelo voto direto. Mas sua trajetória no embate político consolidou-se depois de um começo difícil.
Em 1985, Fernando Henrique Cardoso era o favorito na eleição para a prefeitura de São Paulo. As pesquisas apontavam uma vitória tão folgada sobre seus adversários que ele concordou em ser fotografado um dia antes da eleição sentado na cadeira de prefeito. Acabou sendo derrotado por Jânio Quadros.
O episódio mostrou que o intelectual brilhante ainda não dominava todos os meandros da carreira política. Eleito senador em 1986, primeiro cargo obtido pelo voto, encontrou a oportunidade que precisava para ganhar experiência.
Vinte anos depois, já no PSDB, Fernando Henrique foi convidado a assumir o Ministério das Relações Exteriores e, depois, o comando da economia no governo Itamar Franco.
Capitalizando o êxito obtido pelo Plano Real, com o qual derrubou a inflação, elegeu-se presidente em 1994. Ao tornar-se presidente, o acadêmico passou a conviver com o pragmatismo da política. Hábil negociador, sua primeira gestão foi marcada essencialmente pelo esforço em manter a economia sob controle. A meta foi atingida graças à política cambial, às privatizações e a cortes no orçamento que valeram a Fernando Henrique a acusação de seus opositores de não se preocupar com os problemas sociais.
A façanha de controlar a inflação, no entanto, em muito ajudou quando o Congresso aprovou a emenda constitucional que instituiu a reeleição para presidente da República, governadores e prefeitos.
Venceu a eleição seguinte, em 1998, ainda no primeiro turno, com o compromisso de uma gestão voltada para as questões sociais do país.
(Fonte: 500 ANOS/50 PERSONAGENS)