Olga Benário Prestes, agitadora política da Juventude Comunista alemã, foi a comunista que Getúlio Vargas entregou a Adolf Hitler

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Estrela clandestina

Olga Benário Prestes

Olga Benário Prestes

Olga Benário Prestes (Munique, 12 de fevereiro de 1908 – Bernburg, 23 de abril de 1942), agitadora política alemã de origem judaica que, no Brasil, participou da Intentona Comunista de 1935, foi a comunista que Getúlio Vargas entregou a Adolf Hitler.

Presa junto com seu marido Luís Carlos Prestes, o ‘Cavaleiro da Esperança’ o líder da revolta, ela foi deportada para a Alemanha de Hitler, grávida de sete meses, onde seu destino seriam os campos de concentração e a morte numa câmara de gás. Na Alemanha, há dezenas de escolas e ruas que levam o nome de Olga Benario Prestes, ela é homenageada por sua ousada militância na Juventude Comunista.

No Brasil, o mito criou-se apenas com uma frase e duas cenas. Na primeira imagem, ela aparece colocando-se entre policiais e Prestes para evitar que ele fosse morto ao ser preso, na madrugada de 5 de março de 1936. Na outra, ocorrida em 23 de setembro do mesmo ano, Olga sobe num navio para ser entregue às autoridades nazistas.

A frase, que aparece mesmo em livros de historiadores marxistas, contrasta com tais cenas heroicas e define Olga só como “a mulher de Prestes”.

Nascida em Munique, em fevereiro de 1908, de família abastada, Olga já era militante aos 15 anos. Aos 20, morando em Berlim, ela já conquistara a direção da Juventude Comunista, graças a sua dedicação e ousadia. Olga planfetou o centro de Berlim, desafiando a polícia, comandou uma manifestação proibida, fazendo os jovens chegarem ao local marcado disfarçados, e chefiou a libertação do teórico e estrategista Otto Braun (1872-1955) da prisão com armas de brinquedo. Braun era importante para o partido e também para Olga, pois era seu namorado e professor de marxismo, e os dois fugiram para Moscou.

Todo o episódio da Intentona Comunista de 1935, apresenta personagens movidos pela paixão política e que vivem epicamente os tempos de fogo dos anos 20 aos anos 40, quando o comunismo e o nazismo polarizaram o mundo. Ao compor a situação do mundo em que Olga viveu, deve-se estar atento a dois problemas. Em primeiro lugar, há uma dificuldade com a própria Olga, que morreu em abril de 1942, sem deixar muitos amigos ou conhecidos – essenciais para se traçar o seu perfil, e lhe dar peso documental. Além disso, como toda militante comunista disciplinada, Olga dificilmente fazia confidências, desprezava a vida pessoal e os sentimentos e passou mais da metade dos seus 34 anos na clandestinidade e em prisões.

Ali estão, sobre o pano de fundo da ascensão do nazismo, os planos e os esforços da União Soviética para propagar sua ideologia, treinando militantes, providenciando fundos e montando uma extensa rede de apoio para que os agitadores pudessem movimentar-se em segurança. Da China aos países europeus e dos Estados Unidos à América Latina, os comunistas estavam por toda parte e Moscou por trás de todos, enquanto em cada país as polícias secretas vigiavam, prendiam os militantes e trocavam informações entre si. Por exemplo, o documento em que o embaixador brasileiro em Berlim dá toda a ficha de Olga Benario Prestes, obtida juntamente à Gestapo, a polícia política dos nazistas.

Sobre as cartas de Olga a Prestes e à mãe dele, dona Leocádia, que retratam, ao mesmo tempo, a força com que resistia às durezas do cárcere e a ternura que tinha pelo marido e pela filha, Anita Leocádia. Em sua última carta a Prestes e à filha, escrita em 1942, ela dizia: “Lutei pelo justo, pelo bom e pelo melhor do mundo. Prometo-te agora, ao despir-me, que até o último instante não terão por que se envergonhar de mim”.

Em entrevistas com sobreviventes dos campos de concentração, descobriu-se que Olga dava importância aos dezessete escassos meses que viveu no Brasil e como, apesar de saudosa, ela continuava uma militante rígida, capaz de dar aulas às presas depois de um dia de trabalhos forçados.

Quanto ao movimento da Intentona, foi traído por um comunista que era agente duplo, o alemão Paul Franz Gruber, que fez com que boa parte dos arquivos do PCB chegasse às mãos da polícia. Explica-se por que o chefe de polícia Filinto Müller deu ordem para seus homens não prenderem Prestes vivo, revelando que tal ódio datava dos tempos da Coluna Prestes, em 1925: Müller, que participou da coluna, havia sido rebaixado e depois expulso do movimento a mando de Luís Carlos Prestes, que o acusou de covardia e corrupção.

Sobre o pano de fundo de militantes comunistas sendo torturados e mortos, ganha corpo, finalmente, a incrível sucessão de erros que foi a revolta comunista de 1935 – com militantes falando demais, análises delirantes da situação política do Brasil e uma ingenuidade que não é risível apenas porque causou tantos sofrimentos.No final, juntando a aventura comunista com a tragédia, chega-se à uma triste conclusão – a de que, dona de uma rara combinação de coragem pessoal e fervor ideológico, Olga Benario Prestes jogou sua vida e se deixou destruir por uma causa perdida.

(Fonte: Veja, 16 de outubro de 1985 – Edição 893 – LIVROS/ Por MIRIAN PAGLIA COSTA – “Olga”, de Fernando Morais, jornalista e deputado – Pág: 125/126)

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