Um mestre da razão e da polêmica
Jayme Landmann (Romênia, 1920 – Rio de Janeiro, julho de 2006), médico e escritor, foi autor do livro “Medicina não é Saúde”, de 1983
“A saúde é muito importante para ser deixada unicamente ao critério de médicos”, proclamou, com sarcasmo, nesse seu livro, o nefrologista carioca, adaptando para a medicina a pérola célebre que o estadista francês Georges Clemenceau aplicou aos generais com relação à guerra.
Nascido na Romênia em 1920, chegou ao Brasil, em 1929, formou-se em Medicina pela Universidade Federal Fluminense em 1945, posteriormente trabalhou no Hospital Servidores do Estado e foi diretor do Hospital Pedro Ernesto e do Centro Biomédico da Universidade do Estado do Rio de Janeiro.
Fundador junto com José de Barros Magaldi (professor da USP falecido precocemente em 1978) da Sociedade Brasileira de Nefrologia, foi introdutor da terapia renal substitutiva no Brasil.
Sua notoriedade transbordou os limites da medicina carioca e da nefrologia nacional nos anos 80 quando assumiu a condição de polemista médico número um do país. Sua contribuição foi grande onde destaco três livros que ainda restam em minha biblioteca: “Medicina não é Saúde” em 1983 e “A Outra Face da Medicina” em 1984.
“As Medicinas Alternativas: Mito, Embuste ou Ciência?” em 1988. O destaque de Landmann foi devido a proposições não dogmáticas e, pelos seus ideais coletivos para organizar a medicina e a saúde pública brasileiras.
Landmann foi um médico de prestígio, dono de uma próspera clínica e diretor do Centro Biomédico da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, e autor da publicação, em 1982, de seu best-seller, Evitando a Saúde e Promovendo a Doença. Neste livro, apoiado numa extensa literatura, composta por um total de 342 autores citados, Landmann amplia e aguça suas críticas à medicina em geral.
Os temas trabalhados pelo autor neste e em muitos dos seus livros (nove no total) se assemelham em muito aos que abordamos em Fragilidades.
Sua contribuição ao debate da prática da medicina no país nunca foi reconhecida pela saúde pública brasileira por pelo menos quatro motivos. Primeiro, a deformação da medicina pelo “complexo médico-industrial” ainda era incipiente perto da provocada nos anos 90; segundo, Landmann não usava linguagem marxista, nem tinha lido Foucault, o que o afastava da assim chamada “epidemiologia social”; terceiro, como dirigente hospitalar não aceitou a manipulação política das greves nos anos 80 o que motivou antipatia; quarto, combateu o corporativismo motivando uma reação inquisitorial do então Conselho Regional de Medicina do Estado do Rio de Janeiro que lhe aplicou uma censura sigilosa que ele tornou pública em recurso ao Conselho Federal de Medicina, onde foi absolvido.
(Fonte: Veja, 30 de novembro de 1983 – Edição 795 – LIVROS / Por EURÍPEDES ALCÂNTARA – Pág: 122)
(Fonte: http://paulolotufo.blogspot.com.br/2006/08 – POSTADO POR Paulo Lotufo – 26 de agosto de 2006)