Elias Gleizer (São Paulo, 4 de janeiro de 1934 – Rio de Janeiro, 16 de maio de 2015), ator da Rede Globo. Em 56 anos de carreira, iniciada na TV Tupi, em 1959, Gleizer participou de mais de 50 novelas, séries e minisséries, sendo seu último trabalho na novela Boogie Oogie, em 2014.
Seu tipo bonachão e seu jeito doce sempre renderam muitos personagens do mesmo estilo, incluindo 10 padres, e por isso o carinho da classe, como Bruno Gagliasso em lhe chamar eternamente de “avô”.
Filho de poloneses, o ator começou a carreira na TV Tupi, no final dos anos 1950. Entre os personagens mais conhecidos estão o Jairo, de “Tieta” (1989), o tio Zé, de “Sonho meu” (1993), o Canequinha, de “Anjo de mim” (1996), e o Pepe, de “Era uma vez” (1998).
Ele trabalhou no teatro e no cinema, mas consagrou-se na televisão. A carreira de ator começou no fim dos anos 1950, na extinta TV Tupi. O papel mais recente de Elias Gleizer em novelas foi em “Boogie Oogie”, de 2014. O ator também esteve em dezenas de produções, incluindo as novelas “Tempos Modernos”, “Caminho das Índias”, “Pé na Jaca”, “Sinha Moça”, “Sonho Meu”, entre outras.
Ele estreou na Globo em 1984, convidado pelo autor Walther Negrão para atuar em Livre para Voar. A lista de novelas das quais participou é extensa. Direito de Amar (1987), de Walther Negrão e Alcides Nogueira; Tieta (1989), de Aguinaldo Silva, Ana Maria Moretzsohn e Ricardo Linhares; Explode Coração (1995), de Gloria Perez, primeira novela gravada inteiramente no Projac; Terra Nostra, de Benedito Ruy Barbosa (1999) são alguns exemplos. Outra novela marcante foi Caminho das Índias, de Gloria Perez, a primeira a vencer o Prêmio Emmy, em 2009. Na trama, Elias Gleizer viveu o Seu Cadore, que sofria com a falsa morte de um dos filhos e a esquizofrenia do neto querido.
O ator também participou da minissérie Chiquinha Gonzaga (1999), de Lauro César Muniz e Marcílio Moraes. Em 2010, emendou duas novelas: Tempos Modernos, de Bosco Brasil, e Passione, de Silvio de Abreu. Três anos mais tarde interpretou o cigano Manolo em Flor do Caribe (Walther Negrão). Além do trabalho em novelas e minisséries, Elias Gleizer também fez participações no seriado Malhação e no humorístico Zorra Total. O ator também atuou no cinema em Didi Quer Ser Criança, dirigido por Alexandre Boury e Fernando Boury, com Renato Aragão (2004).
TRAJETÓRIA
Elias Gleizer já participou de mais de 50 de novelas, especiais e minisséries na televisão brasileira, desde sua estreia na TV Tupi, em 1959. Foram diversos papéis consagrados pelo grande público. Talvez pelo seu porte físico, seu jeito de boa gente, a ternura dos gestos e o olhar doce, o fato é que o ator não escapa de personagens do tipo bonachão, adorado por todos. E o público gosta disso. “Eu fiz mais de cinco novelas com crianças. Eu tenho cara de vovô. Mas fiz mais novela de padre. Foram dez padres. Também fiz frei, só não consegui ser bispo”, brinca.
Elias nasceu em 4 de janeiro de 1934, em São Paulo, filho de imigrantes judeus poloneses, de pai sapateiro e mãe dona de casa. Aliás, Elias não; para dizer seu nome de batismo, geralmente ele precisa repetir a mesma historinha de sempre: “Quando estou numa repartição pública, na hora da entrega do documento, eles começam: ‘Pedro de Oliveira, Antonio de Souza, Joaquim Gonçalves…’ Quando percebo uma pausa de dois minutos, falo: ‘Sou eu’. Meu nome é Ilicz. Costumo dizer que houve só três Ilicz no mundo: Ilytch Tchaikovsky, Vladimir Ilyich Lênin e Ilicz Gleizer.”
A profissão de ator não era, definitivamente, o sonho dos pais dos anos 1940. Mas o sapateiro Abraão Gleizer era sensível e obrigou o filho a aprender violino. “Tive de aprender. Comecei a tocar violino com 8, 9 anos. Aos 12 anos, já estava tocando numa orquestra juvenil amadora. Papai ia lá, me via no meio de 40 crianças, e chorava”, relembra. O jovem Elias ensaiava no Instituto Cultural Israelita quando foi convidado pelo diretor para participar de uma peça teatral. Foi com a intenção de experimentar, mas acabou gostando. “Sou persistente. Conforme ia faltando alguém, eu ia fazendo o papel do outro, até que fui o protagonista. Participamos de um festival de teatro amador, em 1956, e ganhei o prêmio. Em 1955, quem ganhou foi o Gianfrancesco Guarnieri. Era um festival de teatro seriíssimo”, classifica.
Não demorou e, em 1959, foi trabalhar na TV Tupi. Fez pontas, até chegar ao especial José do Egito, seu primeiro trabalho expressivo. A primeira novela na emissora foi em 1964, Se o Mar Contasse, de Ivani Ribeiro. “Naquele tempo, a TV era movida à lenha. A novela passava três vezes por semana e era ao vivo. Você recebia o capítulo um dia antes, ensaiava antes de ir para o ar, então aconteciam milhões de coisas. Tinha que improvisar, o ator tinha que ser ator.”
Trabalhou na Tupi até 1978, ano em que atuou na novela Salário Mínimo, de Chico de Assis. Foram mais de 20 novelas e especiais importantes, entre tantas outras pontas e participações, como em Nino, o Italianinho (1969), de Geraldo Vietri e Walther Negrão. Mas ele não guarda predileção por nenhum de seus personagens. Pelo simples fato de que sempre teve a consciência de colocar a profissão em primeiro plano. “Nunca recusei papel, nunca. A gente fazia com tanto amor, com tanto carinho, que tudo era importante. Não tem como destacar isso ou aquilo. Hoje você era o protagonista, amanhã fazia uma ponta, uma figuração. E você fazia da mesma maneira, de tanto amor que tinha por aquilo”, acredita. Mas o fato de atuar tanto tempo e em tantas telenovelas ao vivo fez toda a diferença. “Fazer ao vivo foi importantíssimo. Até hoje tem novelas que o autor entrega o capítulo quase na hora, no dia, e o elenco faz. Mas tem de ser ator”, ensina. Após tantos anos na emissora, Elias Gleizer teve rápidas passagens pela TV Bandeirantes e pelo SBT, de 1980 a 1983. Atuou, entre outras produções, na novela Meu Pé de Laranja Lima, de Ivani Ribeiro, e no seriado Dona Santa, quando viveu um padre e contracenou com a atriz Nair Bello.
Elias Gleizer estreou na Globo em 1984, convidado pelo autor Walther Negrão para atuar em Livre para Voar. “Walther, meu amigo do início de Tupi, falou assim: ‘Elias, estou escrevendo uma novela que é a história do meu pai. Ele era maquinista da estrada de ferro. Eu queria que você fizesse esse papel’. Aceitei e comecei a gravar. Fiz uma novela maravilhosa, foi muito bem”, conta.
Mais uma rápida passagem pelo SBT, para atuar em Uma Esperança no Ar, de Amilton Monteiro e Ismael Fernandes, e Elias Gleizer foi escalado para outra novela na Globo, Direito de Amar (1987), de Walther Negrão e Alcides Nogueira. Ele guarda boas recordações da produção dessa novela. “Eu fazia o dono de uma confeitaria. Foi um dos cenários mais lindos que eu já vi. Fizeram mais ou menos a Confeitaria Colombo, um luxo, uma coisa de louco. Era uma novela linda de época. E sempre dei sorte, sempre fiz sucesso”, lembra. Em Tieta (1989), de Aguinaldo Silva, Ana Maria Moretzsohn e Ricardo Linhares, viveu uma aventura que até hoje lhe traz gargalhadas e saudades: “Gravamos em Mangue Seco, na Bahia. Não tinha estrada, tínhamos que ir por Sergipe e atravessar o Rio Real para chegar.” Ele lembra que mal cabia no barco que o levou para o local de filmagem, e que, no primeiro dia, foi aconselhado por Reginaldo Faria a não beber água, sob risco de disenteria. Tomava água de coco todos os dias. No hotel, o chuveiro da suíte batia na altura de seu pescoço. Mas o cenário era deslumbrante. Na trama, vivia um motorista de ônibus, que chamava carinhosamente de Marinete.
A lista de novelas das quais participou é extensa. Atuou, por exemplo, em Explode Coração (1995), de Gloria Perez, primeira novela gravada inteiramente no Projac. “Estou presente em tudo, sou que nem arroz de festa. Doutor Roberto Marinho veio inaugurar os estúdios, bateu a claquete. Essa foi a primeira novela no Projac. Achei aquilo maravilhoso, fora de série. Para quem começou na Tupi, dividindo estúdio com o jornalismo… E, já prevendo, me mudei para lá”, conta. O ator também tem boas lembranças do trabalho em Chiquinha Gonzaga (1999), de Lauro César Muniz e Marcílio Moraes, pelo prazer de fazer uma minissérie. “Minissérie é feita com mais calma, mais cuidado, com mais esmero. Você pode estudar mais, tem um pouco mais de tempo. Novela, não: entrou o primeiro capítulo, o terceiro já está atrasado. É aquela pauleira”, compara.
Em Terra Nostra, de Benedito Ruy Barbosa (1999), foi escalado para o papel de Padre Olavo, mais um em sua carreira. Ele adorou. “Só que esse padre era diferente, era italiano. Sotaque italiano é a minha especialidade. Fazer sotaque é comigo”, garante, acrescentando que fala 12 idiomas. Ainda sobre o personagem recorrente em sua carreira, faz questão de contar: “Na época da Tupi, eu já fazia padre. Em Rosa dos Ventos, acho que fazia um padre. Eu ia à padaria vestido de padre, ia comer um sanduíche; passavam as meninas, e eu as cantava, paquerava, vestido de padre”, relembra. Outra novela marcante foi Caminho das Índias, de Gloria Perez, a primeira a vencer o Prêmio Emmy, em 2009. Na trama, Elias Gleizer viveu o Seu Cadore, que sofria com a falsa morte de um dos filhos e a esquizofrenia do neto querido. “Essa foi maravilhosa. Eu estava muito bem cercado. Foi um grande desafio”, pontua. O ator acha extremamente oportuno que as novelas levantem questões polêmicas, uma marca dos textos de Gloria Perez. No caso de Caminho das Índias, a esquizofrenia ganhou os holofotes. “Acho isso importantíssimo. A televisão é importantíssima para tudo. Ela levou progresso para o mundo todo. Depois que apareceu a televisão, todo mundo sabe de tudo”, crê.
Em 2010, emendou duas novelas: Tempos Modernos, de Bosco Brasil, e Passione, de Silvio de Abreu. Três anos mais tarde interpretou o cigano Manolo em Flor do Caribe (Walther Negrão). Além do trabalho em novelas e minisséries, Elias Gleizer também fez participações no seriado Malhação e no humorístico Zorra Total. Mesmo dizendo não gostar de fazer cinema, atuou em Didi Quer Ser Criança, dirigido por Alexandre Boury e Fernando Boury, com Renato Aragão (2004).
Trabalhos na TV Globo:
Novelas
Livre para Voar (1984)
Direito de Amar (1987)
Fera Radical (1988)
Tieta (1989)
Mico Preto (1990)
Despedida de Solteiro (1992)
Sonho Meu (1993)
Explode Coração (1995)
Anjo de Mim (1996)
Era uma Vez… (1998)
Pecado Capital (remake, 1998)
Terra Nostra (1999)
Uga Uga (2000)
As Filhas da Mãe (2001)
Como Uma Onda (2004)
Bang Bang (2005)
Sinhá Moça (remeke, 2006)
Pé na Jaca (2006)
Caminho das Índias (2009)
Tempos Modernos (2010)
Passione (2010)
Flor do Caribe (2013)
“Boogie Oogie” (2014)
Minisséries
Agosto (1993)
Incidente em Antares (1994)
Chiquinha Gonzaga (1999)
Um Só Coração (2004)
Seriados
Sítio do Picapau Amarelo (2002)
Casos e Acasos (2008)
Guerra e Paz (2008)
Divã (2009)
Especiais
Você Decide: Noite de Natal (1997)
Brava Gente: A Sonata (2001)
Humor
Sai de Baixo (1997)
A Diarista (2004)
Zorra Total (1999)
Elias Gleizer morreu aos 81 anos em 16 de maio de 2015, no Rio de Janeiro.
Ele estava internado no Hospital Copa D’Or, em Copacabana, desde 6 de maio e morreu por falência circulatória em decorrência de um trauma. Ele sofreu uma queda e o quadro se agravou.
(Fonte: http://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia/diversao-e-arte/2015/05/16 – 483412 – DIVERSÃO e ARTE – postado em 16/05/2015)
(Fonte: http://g1.globo.com/pop-arte/noticia/2015/05 – POP & ARTE – Do G1, em São Paulo – 16/05/2015)
[Depoimento concedido ao Memória Globo por Elias Gleizer em 18/04/2011.]